Após euforia e sem-matéria prima, Doria não sabe como retomar produção da CoronaVac

Matéria-prima da vacina CoronaVac está retida na China. Má relação do governo Bolsonaro com o país asiático atrapalha, diz Doria

João Doria. Foto: Governo do Estado de São Paulo

Passada a euforia com a aprovação da vacina CoronaVac e o início da vacinação contra a covid-19 em São Paulo, na tarde de ontem (17), a situação agora é de preocupação com a continuidade do programa de imunização. O governo de João Doria (PSDB) não tem previsão de quando vai retomar a produção do imunizante, produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac. Isso porque a matéria-prima para fabricação está retida na China, aguardando liberação do governo local. “Vamos retomar assim que for possível”, disse, evasivo, o diretor-presidente do Instituto, Dimas Tadeu Covas.

A situação pode prejudicar o andamento do programa de vacinação contra a covid-19, tanto em São Paulo como nos demais estados do Brasil. Se a matéria-prima da vacina CoronaVac não chegar até o final de janeiro, o cronograma da segunda fase da imunização vai ficar prejudicado. Essa fase deve começar em 8 de fevereiro, com o objetivo de vacinar a população com 75 anos ou mais.

São vários os descumprimentos de cronograma entre as promessas do governo Doria e a efetivação do programa de vacinação contra a covid-19 em São Paulo. Em agosto, o governador paulista prometeu que São Paulo teria 46 milhões de doses da vacina CoronaVac prontas até o final de dezembro. Em 10 de dezembro, afirmou que todas essas doses estariam disponíveis no final de janeiro. No entanto, apenas 10,8 milhões de doses chegaram até o final de dezembro. E agora não há previsão de quando as próximas doses vão começar a ser produzidas.

A expectativa era de que o Instituto Butantan estivesse produzindo um milhão de doses da vacina CoronaVac por dia, funcionando sem parar durante 24 horas. No entanto, agora a produção está praticamente parada.

A situação prejudica não só a produção da vacina CoronaVac, mas também a da vacina de Oxford, que igualmente tem matéria-prima oriunda da China. No entanto, a segunda só deve começar a ser distribuída em março, já que fracassou a tentativa do governo de Jair Bolsonaro de importar a vacina de Oxford produzida na Índia. O governo federal chegou a adesivar um avião para buscar o imunizante, mas o governo indiano declarou que não havia nenhum acordo definido e que ainda é cedo para falar em exportar o medicamento.

Bolsonaro atrapalha

Doria afirmou que, em parte, a dificuldade em conseguir a liberação da matéria-prima pelo governo chinês se deve ao mal relacionamento do Brasil com a China, no governo Bolsonaro. O presidente e os filhos criticam e ofendem o país asiático com frequência. O próprio ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também é um propagador de ofensas e mentiras sobre o governo chinês. “Se Bolsonaro e os filhos parassem de falar mal da China, já ajudaria muito. Se não atrapalhar, já ajuda”, afirmou.

Segundo Dimas, o acordo com a Sinovac prevê que o São Paulo receba 46 milhões de doses, que virão em forma concentrada, para ser envasada. Também garante a transferência de tecnologia para produção de outras 56 milhões de doses pelo próprio instituto. Hoje, o Butantan solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização de uso emergencial de 4,8 milhões de doses da CoronaVac que já foram envasadas no Brasil.

O governo Doria também lançou o site Vacina Já, para a população de cadastrar e adiantar o processo de vacinação. Isso ocorre porque a vacina CoronaVac, como qualquer outra contra a covid-19, segue sendo avaliada e as pessoas que forem vacinadas serão acompanhadas quanto a eventuais reações adversas. O cadastro não funciona como agendamento e também poderá ser feito na hora de receber a vacina.

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