Manifestantes iranianos incendiaram embaixada saudita em protesto à execução de clérigo xiita, Nimr al-Nimr
Bahrein, Sudão e Emirados Árabes Unidos se juntaram aos protestos diplomáticos da Arábia Saudita contra o Irã nesta segunda-feira (04/01), tomando medidas de ruptura total ou parcial de relações com o país persa, de maioria xiita e principal rival regional do governo saudita, comandado por sunitas.
A Arábia Saudita rompeu relações com o Irã após sua embaixada em Teerã ter sido alvo de ataques no domingo (03/01) em protesto à execução de 47 pessoas condenadas por terrorismo, entre elas o alto clérigo xiita Nimr al-Nimr, crítico da família real saudita. O país anunciou nesta segunda-feira o corte de relações comerciais e de tráfego aéreo com o Irã e a proibição de viagens de cidadãos sauditas para o país persa.
O Irã foi um dos muitos países no Oriente Médio – Líbano e Iraque entre eles – a condenar duramente a execução de Nimr. O governo iraniano, entretanto, classificou o ataque à embaixada saudita como “totalmente injustificável” e chegou a prender cerca de 40 pessoas supostamente envolvidas no ataque.
O Bahrein, cuja relação com o país persa já estava abalada, deu 48 horas para os diplomatas iranianos deixarem a capital, Manama. O embaixador do Bahrein na nação liderada pelo aiatolá Ali Khamenei já havia deixado Teerã em outubro do ano passado.
Em comunicado oficial, Manama explicou que tomou a decisão em resposta “à flagrante e perigosa ingerência do Irã nos assuntos internos do Bahrein” e afirmou que os ataques dos iranianos promovidos contra a embaixada saudita ocorreram “sem a menor consideração por valores, leis e morais; confirmando a determinação de espalhar devastação e destruição, além de prover proteção e apoiar terroristas e células extremistas”.
O Sudão expulsou o embaixador iraniano da capital, Cartum, informou a agência de notícias Fars.
E os Emirados Árabes, que já haviam divulgado um protesto formal contra o ataque à embaixada saudita, repatriou seu embaixador em Teerã e ordenou a redução da quantidade de diplomatas iranianos em solo nacional.
“Este passo excepcional foi tomado tendo em vista a contínua interferência do Irã em assuntos internos do Golfo e Estados árabes, que chegou a níveis sem precedentes”, informou um comunicado oficial divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores dos Emirados.
O Irã, por sua vez, acusou a Arábia Saudita de usar os ataques realizados à embaixada do país na capital iraniana como pretexto para tirar as atenções dos problemas da monarquia sunita. Em declaração, o vice-presidente iraniano, Eshaq Jahangiri, disse que o rompimento de relações entre sua nação e a Arábia Saudita era uma perda para os sauditas.
“O Irã é um grande país na região e deveria ser tratado com respeito. Os sauditas estão sendo aconselhados a pararem de agir de maneira desruptiva, impulsiva, ilógica e emotiva, pois serão eles que perderão com o rompimento de relações com o Irã”, disse o vice-presidente.
A Arábia Saudita acusou o Irã de apoiar o terrorismo e deu 48 horas para que os diplomatas iranianos deixassem o país, além de ter retirado seus representantes políticos do país persa.
A Rússia também se manifestou nesta segunda-feira, dispondo-se a mediar as conversas entre Irã e Arábia Saudita.
“Algumas execuções foram compreensíveis”, diz ex-embaixador britânico
O ex-embaixador britânico na Arábia Saudita, John Jenkins, afirmou em entrevista à BBC que as execuções realizadas pelos sauditas no sábado (02/01) são compreensíveis.
“Se eu acho que as sentenças estão justificadas? Eu posso entender por que os sauditas reagiram da forma que reagiram, particularmente depois do que tem ocorrido nos últimos 18 meses com os ataques do Estado Islâmico dentro do reino”, argumentou Jenkins.
A Inglaterra vive um momento de boas relações com a Arábia Saudita, tendo, inclusive, chamado as execuções de “decepcionantes”, por meio de declaração do ministro das Relações Exteriores, Tobias Ellwood. Duramente criticado pelo líder do Partido dos Trabalhadores, Jeremy Corbyn, o Ministério acabou divulgando posteriormente uma mensagem mais dura.
Revolta no Oriente Médio
O líder religioso xiita Sheikh Nimr al-Nimr era considerado um dos mais proeminentes militantes pela democracia na Arábia Saudita, e segundo sua família e seus seguidores promovia a resistência pacífica ao governo saudita. Sua execução provocou revolta em vários países do Oriente Médio, incluindo no Bahrein, onde a polícia reprimiu os manifestantes com gás lacrimogêneo. Também houve protestos no Iêmen, no Líbano, no Iraque, no Paquistão e na Índia, na região da Caxemira, majoritariamente muçulmana.
Novos protestos foram realizados nesta segunda-feira (04/01) no Iraque e no Paquistão.
Fonte: Opera Mundi