Após apelo do padre Júlio, estação e igrejas são abertas para abrigar pessoas em situação de rua

Pároco cobra também sensibilidade dos órgãos públicos para acolher o povo de rua e seus animais de estimação. “Em um momento emergencial (temos que fazer) tudo o que pudermos para evitar mortes na rua”

Na primeira noite de frio intenso, 15 pessoas se abrigaram na Paróquia São Miguel Arcanjo, que continuará aberta pelos próximos dias para abrigos. Foto: Victor Angelo/ Pastoral do Povo de Rua

Pela primeira vez na história, o Metrô de São Paulo abriu a estação Dom Pedro II, da Linha 3-Vermelha, no Brás, para abrigar pessoas em situação de rua. Com a chegada do frio intenso previsto pela meteorologia, as dependências ficarão abertas das 20h até 8h do dia seguinte até sábado (31). O local tem capacidade para acolher 400 pessoas. As vagas, contudo, são destinadas apenas a homens. A medida de abrir a estação atende a um apelo do padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, que cobrou do governo e da prefeitura de São Paulo ações diante da frente fria histórica.

A queda de temperatura, combinada a uma massa de ar polar, levou a cidade de São Paulo a marcar 4°C na madrugada desta quinta. O frio intenso também chegou a outras regiões do país. Em 13 cidades do Rio Grande do Sul nevou e temperaturas negativas foram registradas em Santa Catarina. Para hoje, a temperatura máxima não deve passar dos 15°C em São Paulo, e a mínima pode chegar até 3°C. Na sexta (20), há ainda alerta de geada em todo o estado paulista.

Nesta primeira noite, cerca de 50 pessoas em situação de rua buscaram abrigo no metrô Dom Pedro II. “É um fato inédito abrir as estações. Nós pedimos ao governador que, no momento emergencial, (temos que fazer) tudo o que pudermos fazer para evitar mortes na rua e o abandono de tantas pessoas”, comentou padre Júlio em entrevista à Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual. Apenas neste ano na capital paulista, ao menos 13 sem-teto morreram de hipotermia, que ocorre quando a temperatura corporal fica perigosamente baixa, de acordo com o Movimento Estadual da População de Rua.

Igrejas abertas para o acolhimento

Com a confirmação de uma nova frente fria, desde o início da semana diversos movimentos sociais começaram a se mobilizar para impedir novas vítimas. Padre Júlio também anunciou a abertura da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, e a Casa de Oração do Povo da Rua, na Luz. Nesta primeira noite, 15 pessoas dormiram na igreja da zona leste. A medida foi seguida pelo arcebispo Dom Odilo Scherer que determinou a abertura de igrejas do centro e da periferia de São Paulo às pessoas em situação de rua até domingo (1º), segundo informações da revista Fórum.

Enquanto seguia em direção ao Núcleo de Convivência para adultos em situação de rua, o centro São Martinho de Lima, no Belezinho, para servir o café da manhã nesta quinta, padre Júlio destacou que “é importante que a igreja esteja aberta às necessidades do povo”. Mas cobrou também sensibilidade das autoridades e dos órgãos públicos para permitir que as pessoas se abriguem com seus animais de estimação.

“Não adianta falar põe no canil, para o povo de rua não existe canil, o cachorro faz parte da família”, ressaltou. As equipes da Pastoral do Povo de Rua também percorreram diversas localidades para levar alimentos e monitorar a situação das pessoas desabrigadas. Uma avaliação das ações deve ser feita nesta quinta para entender melhor as demandas. “A população de rua tem características próprias. Nem tudo aquilo que a gente pensa é o que eles vão aceitar ou fazer. Então é preciso avaliar caso a caso para dar respostas mais adequadas”, explicou o pároco.

Rede de solidariedade

Essa primeira noite foi de “muita luta e partilha”, conforme descreveu o religioso, que agradeceu as ações de solidariedade principalmente diante do aumento do número de pessoas em situação de rua. As estimativas dos movimentos é que, somente em São Paulo, mais de 40 mil pessoas estejam desabrigadas. Um salto para uma população estimada em quase 25 mil, até o início de janeiro de 2020. “Ontem tínhamos duas famílias despejadas à noite e uma criança de dois meses (de vida)”, relata o padre Júlio.

“É interessante que outros grupos vão se somando. As sinagogas também estão acolhendo, o Sindicato dos Metroviários também aderiu e está oferecendo a quadra do sindicato na zona leste”, completa. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC também entregou nesta semana uma Kombi ao pároco que, segundo ele, ajudará a carregar os alimentos e a buscar e entregar doações de roupas e comidas aos irmãos em situação de rua.

Lancellotti finaliza a entrevista reforçando a campanha para a doação de agasalhos, meias, toucas, moletons, cobertores e alimentos. As doações para amenizar o sofrimento causado pelo frio em São Paulo podem ser entregues na Paróquia São Miguel Arcanjo, na rua Taquari, 1.100, na Mooca, zona leste da cidade. Os agasalhos e cobertores também podem ser doados na Casa de Oração da Pastoral do Povo de Rua, na rua Djalma Dutra, 3, no bairro da Luz. Transferências em dinheiro podem ser feitas via PIX por meio da chave 63.089.825/0097-96.

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