Simpatizantes de Lula que estavam nos arredores do prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba na noite deste sábado (7) foram vítimas de violência desmedida por parte das forças da PF e da Polícia Militar.
Antônia Vandecida de Assis, 42, conhecida por Vanda, teve parte do pé dilacerado e sofreu um grave dano no nariz após ser atingida por uma bomba lançada pela Polícia.
Vanda ficou internada no Hospital Universitário Cajuru sem poder se locomover. Antes do fechamento deste texto, a irmã de Vanda relatou ao Pragmatismo Político que ela recebeu alta médica às 14h. A vítima ainda deverá ser submetida a uma cirurgia no nariz posteriormente.
A Polícia Federal tentou justificar as agressões. Os policiais alegam que bombas de efeito moral e balas de borracha foram disparadas para conter manifestantes que ameaçavam ‘arrombar’ um dos portões do prédio da PF.
Testemunhas contestam a versão oficial das autoridades. Para Mariane Siqueira, os policiais usaram de violência desproporcional diante de um número reduzido de manifestantes que não representavam risco real.
“A quantidade de pessoas presentes não era grande. Se tivesse umas 20 mil pessoas, pode até ser que se sentissem encorajadas a empurrar o portão. Não era o caso. Havia um entendimento mútuo de que se concentrar naquela rua e agitar as palavras de ordem eram a única forma de protesto”, assinalou Mariane ao Pragmatismo Político.
Mariane estava próxima de Vanda e conta que ela foi atingida por uma das primeiras bombas atiradas. Entre os simpatizantes que foram recepcionar o ex-presidente havia muitas mulheres, crianças e idosos.
“Muitos idosos, crianças, bebês, animais de estimação. Ninguém que estava ali poderia pensar em fazer qualquer tipo de provocações à polícia”, afirmou Mariane, que também nos enviou um vídeo gravado por ela mesma com os registros dos incidentes [assista abaixo].
A informação é confirmada em áudio divulgado pela professora Monica Ribeiro: “Gente, o helicóptero com o Lula chegou e fomos agredidos com spray de pimenta, muita bala de borracha e gás lacrimogêneo. Teve criança que quase foi atropelada no tumulto provocado pela Polícia Federal”.
Verde-amarelo protegidos
Em uma outra entrada da sede da Polícia Federal estava acontecendo, simultaneamente, uma manifestação contrária ao ex-presidente Lula. Daquele lado, vestidos de verde e amarelo, os participantes soltavam fogos de artifícios e também entoavam gritos de guerra contra o petista.
À medida em que as imagens da chegada do ex-presidente em Curitiba eram divulgadas nas redes sociais e pelas emissoras de televisão, muitos internautas perceberam que o tratamento dado pela Polícia Federal aos opositores de Lula era amigável e evidenciava até certa cumplicidade.
“Eles [opositores de Lula] soltavam fogos de artifícios inclusive durante o pouso do helicóptero [que trazia o ex-presidente]. Tenho o relato de uma companheira que se perdeu na chegada e foi para o portão principal, onde os ‘verde-amarelo’ se concentravam. E ela disse que os policiais filmavam e sorriam daquele lado”, reforçou Mariane Siqueira.
O comando da Polícia Militar (PM), através do tenente-coronel Mário Henrique do Carmo, admitiu que crianças e mulheres ficaram feridas, mas disse que todos os atingidos tiveram ‘apenas ferimentos leves’ e considerou bem-sucedida a ação policial.
Questionado sobre por que os policiais não reagiram ao grupo contrário ao ex-presidente, que atirava rojões e fogos em direção ao prédio da PF, o tenente-coronel respondeu que não poderia se posicionar porque não viu o material.
Boletim de Ocorrência
Uma advogada do grupo Advogadas e Advogados pela Democracia lavrou um Boletim de Ocorrência coletivo, incluindo todas as vítimas da violência policial nas imediações da Polícia Federal em Curitiba.
No Boletim de Ocorrência consta que as bombas e as balas de borracha começaram a ser atiradas por policiais federais e militares antes mesmo do pouso do helicóptero de Lula.