Por Luisa Fragão.
Milhares de alunos da rede estadual do país estão sendo obrigados a utilizar um aplicativo para aulas online que oferece a “TV Bolsonaro” entre seus conteúdos.
Contratada a toque de caixa durante a pandemia do coronavírus, a plataforma foi criada por pessoas ligadas a políticos bolsonaristas e a um acusado de participar de uma rede de prostituição de menores de idade.
De acordo com reportagem de Amanda Audi e Pedro Zambarda, do Intercept, a IP.TV, empresa responsável pelo aplicativo de aulas online, era conhecida no mercado por outro produto. Trata-se do Mano, um aplicativo de streaming de vídeos criado em 2018 para veicular conteúdos voltados à campanha de Jair Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi um dos primeiros a divulgar amplamente o aplicativo em suas redes sociais.
O principal canal do Mano é a TV Bolsonaro, que continua a reproduzir programas com discursos, propagandas e depoimentos voltados ao bolsonarismo, como o uso de armas e à ditadura militar, além de notícias falsas.
A TV Bolsonaro está no aplicativo oferecido a estudantes de Amazonas, Pará e Piauí, que têm entre quatro e 17 anos de idade. Alunos de São Paulo e Paraná também têm utilizado serviços da IP.TV – desta vez, sem acesso a TV Bolsonaro.
Ainda de acordo com o Intercept, a empresa tem sede em uma sobreloja sem identificação na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Ao todo, 7,7 milhões de alunos e professores têm utilizado os serviços da IP.TV durante a pandemia. Para tanto, usuários são obrigados a realizar um cadastro e fornecer dados pessoais, como o álbum de fotos do celular e de conexão de rede wi-fi.
Rede de prostituição
O proprietário da IP.TV, Eduardo Patrício Giraldez, é sócio de Waldery Areosa Ferreira Junior, empresário do ramo da educação e acusado de participar de uma rede de prostituição de menores de idade junto com o pai. A informação consta em reportagem do Fantástico, de março de 2014.
Os dois são sócios da Hexágono Soluções em Tecnologias da Informação, sediada em Manaus. Giraldez hoje mora nos Estados Unidos e defende o sistema de homeschooling, a educação domiciliar.