Por Elaine Tavares.
A direção do Sintufsc cumpriu hoje (por 31 de outubro) um papel jamais visto na entidade. Encerrou uma assembleia sem discutir ou votar os encaminhamentos, abandonando seus filiados numa final de greve que contou com todos os ingredientes conhecidos pelos mais importantes sindicatos pelegos da história do país. Seria uma tragédia, não fosse a força da luta dos trabalhadores que sabem muito bem que essa não é uma ação do “Sintufsc”, mas de uma direção, composta por pessoas que não tem compromisso algum com a luta real dos trabalhadores. A farsa montada pela direção da entidade recoloca o sindicato dos trabalhadores da UFSC nas trevas do coronelismo. Vamos aos fatos:
. Os trabalhadores deflagram uma greve em cinco de agosto. Os diretores são contra, mas perdem a votação e são obrigados s encaminhar as atividades.
. Ao longo de todo o processo de greve, foram os trabalhadores que tocaram o movimento, sempre encontrando forte oposição por parte da direção do Sintufsc.
. Depois que a reitoria cortou o salários dos trabalhadores, alegando “falta injustificada”, o que é uma mentira, direção do Sintufsc chegou a lançar nota de repúdio aos trabalhadores que realizaram um ato, aprovado em assembleia.
. Juntava-se assim, a direção, de maneira descarada, à administração central, coisa que sempre foi uma prática das direções pelegas.
. Hoje, depois de realizar um encontro de aposentados e convencer os colegas que já estão fora da UFSC de que era “um absurdo” estarem descontando fundo de greve, conseguiram levar para a assembleia um número expressivo de colegas aposentados, dispostos a votar contra o desconto do fundo de greve, que é estatutário. Os discursos “anti-solidários” são dignos de entrarem para a história.
. A assembleia resumiu seu debate entre descontar ou não os aposentados, apostando na mesquinharia e na divisão, centrando foco num mísero desconto de 1%. Uma aposentada chegou a dizer “essa luta não é minha”, mostrando que a solidariedade com os colegas não estava em questão. Normal, num estado e numa cidade conservadora, marcada pela lógica do individualismo e coronelismo.
. No meio desse debate, a direção da mesa colocou em votação, sem permitir que houvesse defesa das propostas, o fim da greve. Apresentou apenas a proposta do diretor do sindicato Dilton Rufino, que era para encerrar o movimento. A direção da mesa não permitiu que se defendesse contrário a propostas. Colocou em votação de maneira rápida, garantida pela maioria formada por aposentados e trabalhadores que nunca antes tinham aparecido nas assembleias. Foram chamados e levantaram o braço na hora indicada. A velha prática do coronel.
. A direção do sindicato conseguiu, assim, num átimo e sem discussão, encerrar a greve, de maneira completamente apolítica, sem permitir a defesa da proposta de continuidade, atropelando todo mundo.
. Essas manobras autoritárias podem ser questionadas depois, até na Justiça, mas são muito comuns em direções que não primam pela democracia e pela liberdade.
. O mais grave foi que, terminada essa votação, e com todos os “chamados para o voto” se retirando, a direção se negou a seguir com a assembleia, para discutir o destino dos trabalhadores que estão com salários descontados e com punições. Os três dirigentes que comandavam a mesa se recusaram a discutir os encaminhamentos que visavam proteger os companheiros e companheiras. Ou seja, abandonaram seus filiados aos leões, mandando inclusive que fosse desligado o som.
. Essas são as pessoas que fazem discursos chamando seus adversários de “fascistas”. Hoje, desvelaram, em meio a farsa montada, sua cara horrenda.
. De tudo o que se viu, e que será melhor narrado depois que passar o estupor, uma única cena me ficou marcada na memória: colegas meus, pessoas com as quais eu convivo diariamente na UFSC, que eu abraço, beijo e quero bem, depois de votarem pelo fim de uma greve que nem sequer estavam fazendo, pulavam, gargalhando, como se fosse um copa do mundo, comemorando o abandono de seus companheiros de trabalho.
. Colegas celebravam não o fim de uma greve, que pode ser conflituosa sim, mas a derrota de seus companheiros, a derrota deles mesmos como trabalhadores. E mais, vibraram, de maneira cruel, pelo abandono dos colegas que ficaram sem salário, que terão uma série de punições por terem se levantado em luta, de maneira solidária e generosa, para garantir um direito que se estenderia para todos.
Vencidos na batalha, mas não derrotados
Os colegas nossos que tão logo votaram pelo fim da greve e foram embora gargalhando não viram o que aconteceu depois. Então eu quero contar.
. Os trabalhadores que estavam na greve – uma greve histórica, generosa, bonita, criativa – se reuniram para discutir a situação. Essas pessoas debateram, analisaram, fizeram planos. Essas pessoas se abraçaram, vociferaram, sorriram e tramaram novas redes.
. A direção do sindicato promoveu o fim da greve, mas não pode deter a continuidade da luta. Os trabalhadores estão organizados, seguirão se reunindo e buscando caminhos para garantir uma vida boa e bonita para todos.
. Os trabalhadores técnico-administrativos da UFSC colocaram na pauta da universidade uma questão que não pode mais ser escondida, ignorada ou evitada: a necessidade política e humana das 30 horas. Ela já colou no coração e no cotidiano das pessoas. Essa luta não acaba aqui.
. A greve interna colou também a nu a pequenez dessa gente que hoje dirige a entidade histórica de luta dos trabalhadores, o Sintufsc. Arrogantemente o diretor gritou no microfone: “nós vamos vencer as eleições para o sindicato”, mostrando que o movimento no qual eles estavam não era o mesmo nosso. Ninguém ali estava disputando aparelho. A luta era para garantir direitos. Eles estavam mesmo na luta errada.
. A greve mostrou ainda a incapacidade política da administração central da UFSC em lidar com suas próprias promessas de diálogo e democracia. Tudo isso foi ignorado, com autoritarismo e arrogância.
. Mas, para quem continua mobilizado, resta uma certeza. O Sindicato é um instrumento importante na luta dos trabalhadores, mas quando está contra os direitos das gentes e contra a beleza, ele precisa ser mudado.
A vida segue na UFSC e aqueles que lutam sabem que não estão sozinhos. A roda do tempo gira e nada é para sempre. Nem a direção do Sintufsc, nem a administração central. Unidos, vamos atravessar a tormenta, porque é assim que é a vida.
Seguimos, companheirada… Foi bonito, e o que é melhor, será ainda muito mais, porque estamos juntos!!!