Por Augusto Diniz.
As histórias contadas são relacionadas ao seu universo sertanejo, de Alagoas, onde nasceu, e depois de Pernambuco. Faz o som de pássaros e do cachorro nos relatos para ilustrar como se vivia naquela época.
Menciona quando esteve com Lampião, que apareceu numa fazenda em que participava de uma novena, ainda criança.
Sebastião Biano completou 100 anos no último dia 23 de junho. Foi homenageado no São João de Caruaru, lá onde viveu quando “uma casa não passava de três andares e hoje tem prédio para tudo quanto é lado”.
Conta que fazia um programa em uma rádio local às 6 horas da manhã, todos os dias: “A gente tocava para esse pessoal que saía com animal, tirava leite da vaca, acordava cedo para trabalhar”.
Rememora que quando chegava um turista na cidade era logo chamado para se apresentar a ele. Vinham pessoas de Minas Gerais, de São Paulo, do Sul, como chamam. Eles iam lá para conhecer e ouvir a famosa Banda de Pífanos de Caruaru.
A família Biano foi quem criou o grupo musical. Seu Sebastião faz parte dele desde os 5 anos de idade, na formação inicial. Conjunto de pífanos instrumental é uma tradição musical do Nordeste.
Passagens do que viu da natureza, na cavalgada do cavalo, na vida que se modernizava no sertão não fazem apenas parte de suas conversas, mas de suas músicas.
Pipoca moderna
Uma composição instrumental de Seu Sebastião chamada Briga do cachorro com a onça refere-se ao cão que sabe caçar, tem faro e sente a aproximação do animal, no caso a onça, diz.
Na época das andanças pelo sertão, bodes eram presas fáceis de onças. A captura do felino era feita usando o próprio bode como forma de atraí-la.
“A onça vinha, entrava no chiqueiro, mas tinha uma armadinha, a porta se fechava e ela também não conseguia pular até o bode. O cachorro então começava a rodear a jaula latindo”. A briga era essa.
A sua composição mais conhecida, Pipoca Moderna (instrumental gravado por Gilberto Gil e depois letrada e gravada por Caetano Veloso, nos anos 1970) remete ao som do milho se transformando em pipoca dentro da panela no fogo.
Faz seus instrumentos
O mestre do pífano faz suas músicas cantarolando-as. “Tem gente que chora com elas”.
Mesmo com 100 anos, segue compondo e tocando seu pífano. “Às vezes falta fôlego no começo ou no fim da música”, mas um segundo pífano nas mãos de outro músico o ajuda a acompanhá-lo nos shows ainda ativos.
Sempre criou os instrumentos que compõem uma banda de pífano, como zabumba, com madeira umburana e couro de bode, além de produzir seus próprios pífanos, em três tamanhos: três-quartos (que mais usa), meia-régua e régua-inteira.
O músico nordestino tem seu grupo, o Terno Esquenta Muié, formado por Júnior Kaboclo (segundo pífano), Eder “O” Rocha (zabumba e bateria), Renata Amaral (baixo) e Filpo Ribeiro (viola, rabeca e marimbau).
Gravou dois discos com eles, que mostra a diversidade musical de compositor do Seu Sebastião. São novenas, benditos, valsas, sambas matutos, marchas e frevos. Nos shows, claro, conta ainda histórias.
Zeca Baleiro e A Barca
Zeca Baleiro irá se apresentar no dia 27 de julho (sábado) de um show em homenagem aos 100 anos de Sebastião Biano com seu atual grupo no teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo (SP).
Diz “conhecê-lo desde sempre” e ter várias fitas gravadas com ele contando histórias. Fizeram até uma música juntos, que será apresentada neste show.
“Frequentei a casa dele (já na Grande São Paulo, onde mora desde a década de 1970). É um patrimônio. Está tocando ainda e está lúcido”, destaca o cantor.
No segundo dia da homenagem, 28 de julho (domingo), a apresentação de Seu Sebastião é com grupo A Barca. O ator Gero Camilo contará “causos” nas duas apresentações.
A atual formação da Banda de Pífanos de Caruaru – com membros da família Biano – participa da homenagem nos dois dias. Apesar de ser um dos conjuntos musicais mais longevos do país, o primeiro disco só veio em 1972, década em que o grupo se mudou para São Paulo – um dos registros valeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Regional em 2004.
Para homenagear os 100 anos de Sebastião Biano, o cineasta Helder Lopes lançou este ano o documentário Pipoca Moderna, sobre a vida do artista.