O mundo vive recentemente uma polêmica e desconcertante mobilização contra e a favor do controle da internet, controle que visa o conteúdo e não acesso, que bem sabemos ainda é bem restrito em alguns importantes pontos do mundo, o que nos inclui em peso, considerando nossa importância econômica atual.
Um pequeno movimento conservador (não restrito a sociedade norte americana) ganhou notoriedade, a partir de um projeto de lei elaborado por um representante político dos Estados Unidos. Projeto esse que visa obter maior controle sobre os conteúdos da rede mundial de computadores. Alguns países já restringem o controle da mesma, porém nada até o momento causava tanto espanto e indignação. Afinal o mesmo parecia ser algo um tanto inconcebível para o país que representa com uma estátua emblemática, seus princípios libertários do século passado e que mantém sob seu domínio os dados de praticamente todo tráfego mundial da rede.
A prisão de um dos maiores empresários desse novo modelo de negócio que é a internet, na semana passada na Califórnia, no mínimo nos dá uma pequena dica de que esse movimento pode não ser tão frágil ou longínquo do nosso cotidiano. Teorias comerciais à parte.
Embora o discurso assumido e mais visualizado seja o referente à pirataria e outros considerados crimes virtuais, cabíveis de julgamento oficial, porém chamamos atenção para um outro lado desse movimento.
Vários investigadores latinoamericanos das Ciências Sociais divulgaram um relatório pela CEPAL-OIJ (Comissão Econômica para América Latina e Caribe, e Organização Internacional de Juventude) que demonstra que o domínio da internet é atualmente o único “poder efetivo” que a maioria dos jovens dessa região experimentam (há outros estudos sobre outras regiões do mundo), quando os mesmos tem o seu devido acesso. Em outras palavras isso significa que, frente a todas as incertezas cotidianas dos jovens, os mesmos encontram uma “certa segurança” quando estão na internet. (divulgar e ter respaldo do público pelo que é de ordem privado).
Essa ilusão de poder obtida pelo imediatismo da internet se expressa quando eles optam em “estarem invisíveis-visíveis” (offline o online) nas redes sociais, programas de conversa instantânea, sites informativos ou mesmo de vendas de produtos. A maioria dos jovens encontra no acesso certa sociabilidade que garante uma zona de conforto, em que possam ser visíveis para a sociedade. A maneira com que fazem isso já é outro tema. Tanto real se define, essa nova organização social que os jovens não conectados estão cada vez mais “invisíveis” frente à sociedade em geral e entre si mesmo, seus pares (contexto moderno).
Se expressar é a ordem obtida através de milhares de “janelas virtuais” que permanecem abertas, ao mesmo tempo em que, fazem downloads de conteúdos de seus interesses, ouvem música, conversam ou buscam informações. Essa possibilidade possui uma forma de ilusão de Poder, de vantagem frente aos demais que não a possuem ou a ignoram. Uma vez formado o ciclo (para bem ou para mal, difícil julgar) quebrá-lo é extremamente frustrante, não é algo que nos damos conta por si só. O conectar se torna uma extensão dos pensamentos, sobre a possibilidade de igualdade vs personalidade coletivas, que cada um dos diferentes encontra, para que de alguma forma faça uma “atua” frente a seus ideais e parceiros. Daí a necessidade do sistema educacional abranger essa expressão como forma de se democratizar.
Afinal não é a aparelhagem quem define os limites de uma quebra nesse ciclo, e sim o alcance da experiência que fica no simbólico coletivo e individual (aquilo que vamos valorizar e internalizar).
Os usuários de internet, especialmente os mais jovens, já não fazem a “translação” entre os mundos, virtual-palpável (ambos são reais). Um é continuação do outro e vice-versa. Mesmo aquele que possui caráter “performático virtual”, que pode não representar a realidade em si! Essa não translação do “atuar” é a demonstração perfeita do poder que se pode manejar frente à internet. Desligar o aparelho não necessariamente representa se desligar do virtual, que permanece em seus pensamentos, a performa criada nesse âmbito se expandi para o palpável e vice-versa.
Para essas novas gerações conectar, não é algo opcional, é necessidade para os que possuem e necessidade exigida pelo grupo que permanecem a mercê, usuários esporádicos e acendestes.
Nesse contexto, controlar a internet, seja qual for o argumento, é via direta para exercer poder (sem uma pessoa identificada) sob a ilusão de poder performático dessas novas gerações.
Frente às possibilidades políticas desse controle, isso pode significar um perigo iminente, controlar a performa virtual-palpável (real) seria uma das utopias dos que aspiram poder desde os tempos remotos. Lamentavelmente não criamos ainda nenhum sistema político, ou algo similar, que possa seguramente frear um possível mau uso desse tipo de mecanismo, não importa se suas bandeiras são de comunistas chineses, guerrilheiros do oriente, latinos ou africanos, ou como costumamos chamar, democráticas sociedades desenvolvidas.