Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo tentou negar que houvesse criado atritos com a China. No entanto, admitiu que chegou a pedir a demissão do embaixador do país no Brasil, Yang Wanming. Ainda no início do ano passado, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) culpar a China pela pandemia, Yang exigiu que o governo brasileiro pedisse desculpas. Ernesto então saiu em defesa do filho do presidente, queimando pontes com o governo de Pequim.
Esta é apenas uma das situações que revelam o mal-estar na relação entre os dois países, desde o início do governo Bolsonaro. Como consequência, o Brasil sofre com a falta de insumos para a produção de vacinas. Com a Índia vivendo uma crise sanitária de grandes proporções, com explosão no número de casos e mortos pela covid-19, a dependência do gigante comunista é ainda maior.
De acordo com o pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social Marcos Fernandes, o Brasil perde uma “oportunidade histórica” ao deixar de estabelecer uma cooperação mais estreita com a China. Segundo ele, os últimos dois anos foram caracterizados por uma quase destruição das relações diplomáticas entre os dois países.
“A China cresce e se destaca como um dos países com maior capacidade de produção e tecnologias avançadas. A vacina é uma delas. É um país que deu inúmeras demonstrações da disposição de sentar com representantes de países do Sul Global para discutir transferência de tecnologia, por exemplo. É o caso da tecnologia 5G e das vacinas”, afirmou Fernandes em entrevista a Glauco Faria no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (19).
China, polo exportador
Ele destacou que o governo de Pequim já exportou cerca de 240 milhões de doses de vacinas, o que representa quase a metade do total de imunizantes produzidos no país. Além disso, os chineses vem firmando parcerias para a transferência de tecnologia para a produção de vacinas. Na última semana, foi a vez de o Egito firmar esse tipo de acordo.
Houvesse o Brasil mantido boas relações, poderia se tornar um polo produtor de imunizantes, com transferência de tecnologia de pelo menos outras três vacinas desenvolvidas pelos chineses. Seriam processos equivalentes àquele estabelecido entre o Instituto Butantan e a farmacêutica Sinovac, para produção da Coronavac. Com a ampliação desses acordos, não só a demanda brasileira seria atendida mais rapidamente, como haveria a exportação para países da América Latina e África.