Até agora, só foram recuperados 4,9 mil milhões dólares, disse o Presidente de Angola numa entrevista a uma publicação do Wall Street Journal. Foi da Sonangol que saiu mais dinheiro indevidamente.
Os processos em investigação pelo Serviço Nacional de Recuperação de Ativos da Procuradoria-Geral da República (PGR) apontam para que o Estado angolano tenha sido lesado em 23,8 mil milhões de dólares, ou seja um valor próximo dos 20,3 mil milhões de euros, disse o Presidente de Angola, João Lourenço, em entrevista a uma newsletter do jornal norte-americano Wall Street Journal.
“Destes, 13,52 mil milhões de dólares foram retirados ilegalmente através de contratos fraudulentos com a [petrolífera estatal] Sonangol; 5,09 mil milhões saíram das empresas [empresas de gestão pública de comercialização e exploração de diamantes, respectivamente] Sodiam e Endiama; e os restantes 5,19 mil milhões de outros sectores e empresas públicas”, disse João Lourenço, na entrevista publicada online, na newsletter WSJ Pro Emerging & Growth Markets.
Os valores referidos pelo Presidente angolano não foram confirmados de forma independente, diz o autor da newsletter, Dan Keeler, mas “são consistentes com as somas substanciais apreendidas” no último ano a Isabel dos Santos e Filomeno dos Santos, filhos do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, durante o último ano.
Estes 24 mil milhões de dólares são duas vezes mais do que o valor das reservas líquidas em divisas de Angola. A recuperação deste dinheiro é, portanto, uma prioridade para o Governo de João Lourenço, que se vê a braços com a dupla crise da descida dos preços do petróleo, a principal fonte de receitas, e a pandemia do novo coronavírus.
Neste momento, a grande maioria dos angolanos desaprova o desempenho económico do Governo de João Lourenço. De acordo com a sondagem feita pela empresa de estudos de opinião Ovilongwa para o Afrobarómetro e divulgada no fim de Setembro, 71% dos inquiridos têm uma visão má ou muito má do desempenho geral do executivo em matéria econômica.
E a covid-19 está a atingir máximos de infecções quase diariamente, e surgem críticas ao Governo, de que não está a fazer o suficiente para lutar contra a doença, que está a atingir até figuras da elite. Deu muito brado esta semana a morte do governador do Uíge, Sérgio Luther Rescova, membro da Comissão Multissetorial de Prevenção e Combate à Covid-19 – oficialmente “vítima de doença”, mas comummente associada à covid-19.
O Presidente angolano disse ao Wall Street Journal que, até agora, foram recuperados 4,9 mil milhões dólares (4,15 mil milhões de euros). Especificando, 2,71 mil milhões de dólares em dinheiro, e 2,19 mil milhões em propriedades, fábricas, terminais portuários, estações de rádio e televisão, em Angola, Portugal e Brasil.