Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
“Um cara me disse que o importante era o caminho, não chegar. Pois então, errei e cheguei. Aqui estou e não tem asfalto, nem chão batido sequer, nada, poças de água na porta dos barracos de madeira podre e latão.
E outro cara me tinha falado que se faz caminho andando. Pode ser, mas, falta tudo; não tem nem um mísero balde, nem cimento, nem areia, nem ferramenta alguma. Só miséria, vírus, bactérias, um banheiro de latão e água do córrego. De qual caminho fala?
Me disse um outro que o importante é chegar todos juntos e em tempo. Sim, é. Mas onde fica o destino dessa estrada, qual a esquina? Não tem uma puta alma neste lugar que queira dar uma mão? As crianças brincam com o lixo, as mães não conseguem emprego, os pais são neoescravos, os cachorros, os gatos, todos passeiam cadáveres vivos.
Cheguei, e o que faço agora? Pegarei os versos famosos, os livros de filosofia, os jornais de economia, os discursos de posse, a Constituição e uma coleção de frases célebres e, com a ajuda deste fósforo sagrado, boto fogo nisso tudo, esquento sopa de papelão e planejo o novo amanhecer.”