Anchieta/SC: “Me diga qual alimento comprado no mercado não possui veneno”?

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

“No Brasil são distribuídos 7,5 litros de veneno por pessoa, sendo que, existem no país 207 milhões de pessoas. O pai da medicina, Hipócrates, dizia: ‘Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio’. É uma frase que está bastante atual com a nossa realidade. Imagine quanto veneno circula em nosso país. A grande causa da depressão é o veneno que mexe com sistema central, sistema nervoso da pessoa humana”. – Frei Wilson Zanatta.

O segundo seminário municipal com o tema: “Comida de verdade no campo e na cidade” aconteceu na quarta-feira, dia 08 de novembro de 2017, no ginásio municipal Xavantes, em Anchieta/SC. Conforme Juliana Draszewski, do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), o projeto reuniu mais de 10 entidades na segunda edição. “No ano passado realizamos essa atividade e para esse ano, considerando a importância dele, decidimos por mantê-lo e a essa ideia uniram-se outras organizações”.

Essa é uma iniciativa dos movimentos sociais, pastorais, Igreja e sindicatos que buscam, segundo o Pároco da Paróquia de Anchieta, Reneu Zortea, fazer o resgate das sementes crioulas, considerando que Anchieta é considerada a capital nacional dessas sementes. “O seminário faz parte da história de Anchieta e vem de encontro ao dia internacional da soberania alimentar, por isso o tema do encontro está relacionado a questão da comida, de um projeto de agricultura camponesa que faz contraponto a esse modelo do agronegócio que vem destruindo a vida”, disse ele.

“Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio” – Hipócrates.

Os temas: Sementes, biodiversidade e vida saudável, saúde, cura pelas plantas, foram trabalhados durante o dia pelo Frei Wilson Zanatta e também pelo  Frei Sérgio Görgen. Segundo Zanatta, tornou-se ‘fácil’ o uso de medicamentos no entanto, é pouca a discussão sobre as verdadeiras causas das doenças. Ele cita o uso de agrotóxicos e o consumo de alimentos com veneno como um dos causadores por exemplo, da depressão. “Não basta tomar um remédio, mesmo que seja caseiro, se alimentação não for adequada. Eu perguntava aqui para as pessoas qual é o alimento que compramos no mercado que não possui veneno. Elas ficaram em silêncio. A alimentação está toda contaminada”, disse ele.

Zanatta citou que no Brasil são distribuídos 7,5 litros de veneno por pessoa, sendo que, existem no país 207 milhões de pessoas. “O pai da medicina, Hipócrates, dizia: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”. É uma frase que está bastante atual com a nossa realidade. Imagine quanto veneno circula em nosso país. A grande causa da depressão é o veneno que mexe com sistema central, sistema nervoso da pessoa humana”.  

Durante o seminário, o Frei Sérgio Görgen fez o lançamento de um livro, se sua autoria, denominado: “Trincheiras da resistência camponesa”, o qual traz um contexto dos últimos 16 anos em que o agronegócio se implantou no país. “Tento trazer as consequências disso para a sociedade. O agronegócio trouxe concentração de terra, alimento envenenado, monocultivo. Mas nesse período também teve muita resistência, a própria recuperação das sementes crioulas, os trabalhos de agroecologia e outros”, disse ele.

Festa: Resgate das sementes crioulas 

O prefeito de Anchieta, Ivan José Canci, ressaltou que em 2018 o município realizará a festa das sementes crioulas, um momento importante segundo ele, para troca de sementes e para o debate sobre a manutenção da biodiversidade, da alimentação saudável. “As sementes crioulas sempre existiram só que da década de 50 pra cá, foram ‘esquecidas’, precisou-se resgatar, dizer para as pessoas que elas são importantes. Em muitos locais do Brasil e do mundo se trouxe de volta o orgulho de ter alface, milho, pipoca crioula”.

Segundo Ivan, a festa acontece de 17 a 20 de março em Anchieta e a ideia é fazer enfrentamento ao modelo que contrapõe-se a vida e a alimentação saudável. “Precisamos lançar para a sociedade isso, mostrar também o que temos, fazemos, trocar as sementes, fazer com que as pessoas tenham interesse de cultivar essas sementes. É uma disputa cultural, de valores”, finalizou.  

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