Rivais históricos, Frelimo e Renamo se enfrentaram mais uma vez após negociações de trégua; resultado vai levar até um mês para ser divulgado.
Cerca de 11 milhões de eleitores foram às urnas de Moçambique na quarta-feira (15/10) para escolher o presidente e os deputados que ficarão no poder nos próximos cinco anos no país.
Desde a independência de Portugal em 1975, há dois partidos rivais em disputa: a governista Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e a opositora Renamo (Resistência Nacional de Moçambique). Há pouco mais de um mês, as legendas alcançaram um acordo de paz após mais de um ano de negociações – o que analistas temem que possa ser colocada em risco dependendo do resultado das eleições, previsto para sair em até 30 dias.
Moçambicanos formam filas nos colégios de Maputo (capital): jornada eleitoral aconteceu sem grandes problemas
Já que a Constituição impede o atual presidente, Amando Guebuza, de concorrer a um terceiro mandato pela Frelimo, o partido escolheu outro candidato: o ministro da Defesa e filho de ex-combatentes Filipe Nyussi. Ele disputa o cargo com a principal figura da oposição à Renamo, Afonso Dhlakama, que concorrerá pela quinta vez às eleições. A Renamo sempre perdeu para a Frelimo, que está no poder há 20 anos.
Guebuza – que segue como presidente da Frelimo – declarou-se “confiante” em mais uma vitória do partido, segundo o correspondente Rogério Gomes, da RTP (Rádio e Televisão Portugal), que faz cobertura das eleições em Maputo. De acordo com Gomes, Dhlakama afirmou que quer que os moçambicanos “se esqueçam da palavra guerra” e “tenham vontade de mudança”.
“O cenário que já se viveu nos leva a pressagiar uma situação de violência de grandes proporções após o anúncio dos resultados, caso algum dos participantes não os reconheça e alegue uma possível fraude”, advertiu à Efe a presidente da Liga de Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabota.
Atual presidente, Amando Guebuza votou em Maputo: apesar de não poder se reeleger, segue como líder da Frelimo
Segundo a agência portuguesa, apesar de cerca de 30 partidos terem apresentado candidatos, apenas três cumpriram os requisitos mínimos para aspirar à Presidência: a socialista Frelimo, a conservadora Renamo e o centrista MDM (Movimento Democrático de Moçambique), que é representada pelo terceiro candidato, Daviz Simango.
Diversas organizações sociais denunciaram às agências internacionais de notícias irregularidades durante a campanha, como o uso de publicidade institucional para promover a Frelimo ou de pressão policial contra simpatizantes da oposição. A Comissão Nacional de Eleições, órgão que fiscaliza o processo, se disse preocupada com a violência que aconteceu durante o processo eleitoral.
Cerca de dois mil observadores internacionais vindos de países como Alemanha, EUA, China, Nigéria e Japão supervisionam o processo, cujos resultados estão previstos para ser divulgados em menos de um mês após a jornada eleitoral.
Simpatizantes da Frelimo durante campanha eleitoral em Moçambique
O último pleito aconteceu no dia 28 de outubro de 2009. Na ocasião, o resultado oficial saiu no dia 11 de novembro daquele ano. Guebuza foi reeleito com mais de 75% dos votos, e Dhlakama obteve 16,51%.
Guerra Civil
A guerra civil entre a Frelimo e a Renamo terminou com acordos de paz assinados em Roma em 1992. No entanto, desde 1994, quando ocorreram as primeiras eleições presidenciais, a Frelimo tem vencido a Renamo nas urnas – o que os opositores classificam como eleições fraudulentas.No fim do ano passado, uma onda de raptos e de instabilidade política e militar assolou Moçambique, elevando o temor de um retorno à guerra civil.
Em abril deste ano, o porta-voz da Renamo, Antônio Muxanga, disse a Opera Mundi que a intolerância política é principal razão do conflito e que Moçambique foi partidarizada pela Frelimo. “Quando vamos às eleições, quem ganha é aquele que tem maior capacidade de roubo,” disse Muxanga. “Nunca ganhávamos, porque os órgãos de administração eleitoral estão frelimizados”, completou.
Fotos: Efe
Fonte: Opera Mundi