Por Fernando Evangelista*
Ele passou a vida inteira esperando por ela. E nesse tempo, sem saber bem o que fazer, acostumou-se a esperar por outras coisas.
Ele esperava o fim do expediente, o fim do mês, o fim da novela, esperava um bilhete premiado, um telefonema. Esperava uma decisão, o resultado do exame, uma cura, um elogio, um prêmio e, mesmo que passageiro, esperava também um pouco de amor.
Ele esperava o encontro, o diálogo, um fornecedor. Esperava uma casa maior, esperava menos estresse e mais paciência. Esperava o futuro.
Ele esperava mais dinheiro, mais perdão, uma boa notícia, uma boa risada, um abraço, um pouquinho de esperança. Uma pontinha de esperança que o fizesse seguir nessa busca e, se possível, com algum encanto.
Uma esperança e um remédio, para esquecer o tempo imenso que ele perdeu esperando a vida, enquanto ela passava na sua frente, na época em que era linda e desimpedida e ele, por medo e comodismo, não a viveu.
* Jornalista, diretor da Doc Dois Filmes e colaborador do Portal Desacato. Mantém a coluna Revoltas Cotidianas, publicada toda terça-feira.