Por Mariana Serafini.
Este ano de 2018 é uma faca de dois gumes para a esquerda latino-americana e caribenha. Países com peso político e econômico terão eleições presidenciais, e os candidatos progressistas têm chances de virar o jogo da contraofensiva neoliberal que começou com o golpe contra Manuel Zelaya em Honduras, em 2009, ao passo que a direita também pode avançar ainda mais e novamente enfraquecer o projeto de Pátria Grande.
Houve um tempo recente – entre 2008 e 2010 – que a América Latina e o Caribe contabilizavam onze presidentes progressistas (veja lista no final da matéria). Desde 1999, quando Hugo Chávez inaugurou este novo ciclo na Venezuela, os países do sul do mundo ousaram tentar alterar a ordem vigente e tiveram avanços importantes. O Mercosul se fortaleceu, foi criada a Unasul, a Celac e a Alba, além do Brics, que desviou a rota comercial dependente apenas dos Estados Unidos e Europa para outros parceiros comerciais.
Porém, a direita começou a virar a mesa em 2009, com o golpe contra Manuel Zelaya, em Honduras. Depois disso vieram os golpes contra Lugo e Dilma. Argentina e Chile são os únicos países, dos que tiveram experiências de governos progressistas neste período, em que eles assumiram o poder através das urnas. Por isso essas eleições de 2018 são tão importantes, pode ser a manutenção do chamado ciclo progressista.
Colômbia
Na Colômbia serão realizadas as eleições legislativas em março e presidenciais em maio. Esta será a primeira vez que a antiga guerrilha, agora convertida em partido político, Farc, irá participar do pleito. Os ex-guerrilheiros vão concorrer a cargos no Parlamento e, certamente, terão peso importante ao apoiar um candidato à Presidência.
A ativista pelos direitos humanos, Piedad Córdoba (Partido Liberal Colombiano), confirmou sua candidatura à Presidência. Ela poderá ser a primeira presidenta mulher da Colômbia, além de ser progressista e ter uma trajetória marcada pela luta em defesa dos direitos sociais e da democracia.
Ao mesmo tempo, se o ex-presidente Álvaro Uribe voltar ao poder, ele pode colocar tudo a perder. O representante da extrema-direita no país já deu inúmeras declarações nas quais rechaça os acordos de paz entre o governo e as Farc e não fará nenhum esforço para seguir com este processo que foi conquistado em 2016.
Cuba
A ilha comunista viverá uma experiência inédita neste ano, será a primeira vez, desde a revolução, em 1959, que o presidente não é um membro da família Castro. Os cubanos vão às urnas em março para eleger o novo Parlamento que, por sua vez, decide quem será o substituto de Raúl Castro, este encerra seu mandato em 2018.
México
Sob o comando do neoliberal Enrique Peña Nieto, o México vive uma crise política e social sem precedentes. Atualmente, é o país mais perigoso para se exercer a profissão de jornalista. Desde o desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, em 2014, o quadro de assassinatos e desaparições forçadas não cessou.
O Estado completamente falido é incapaz de enfrentar o narcotráfico e implementar medidas que, de fato, protejam a população. Diante desta administração pública que mostrou a falência do neoliberalismo na prática, a esquerda tem ganhado espaço.
As eleições presidenciais e legislativas acontecerão em julho, e Andrés Manuel López Obrador, mais conhecido apenas pelos dois últimos nomes, do partido Movimento de Renovação Nacional (Morena), é uma figura política de esquerda que tem se destacado nos últimos anos e pode chegar ao segundo turno contra a nova opção neoliberal que ainda não está bem definida.
Além disso, esta será a primeira vez, desde a Revolução Zapatista, em 1994, que os zapatistas irão participar ativamente de uma eleição. A médica indígena María de Jesus Patricio Martínez, a Marichuy, foi escolhida pelo Congresso Nacional Indígena para disputar as presidenciais. O objetivo é se impor no debate e conquistar espaço para os povos indígenas.
Paraguai
Em abril os paraguaios vão às urnas para eleger o presidente pela segunda vez desde o golpe contra Fernando Lugo. Desta vez a Frente Guasu, coalizão dos partidos de esquerda comandada pelo ex-presidente, vai focar em se fortalecer no Parlamento. Atualmente conta com apenas seis senadores.
Ao longo destes seis anos pós-golpe, a esquerda não conseguiu se estruturar para novamente encabeçar uma chapa à presidência. E, uma vez mais, o aliado político da Frente Guasu será o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), um dos responsáveis pelo golpe. Isso porque, as alianças municipais e estaduais seguem com esta mesma estrutura, a única capaz de sustentar – por enquanto – a coalizão de esquerda como uma força política relevante no país.
Brasil
Por fim, serão as primeiras eleições presidenciais do Brasil depois do golpe parlamentar que depôs a presidenta Dilma Rousseff em 2016. O cenário ainda é incerto, tanto a direita como a esquerda não têm claro quem serão suas peças no tabuleiro. A sombra de Lula amedronta de um lado e empolga de outro. A imprensa aposta na polarização entre uma extrema-direita inconsequente e uma esquerda radical para fortalecer seus velhos personagens da direita neoliberal.
Ciclo progressista na América Latina
Argentina
Néstor Kirchner (2003 – 2007)
Cristina Kirchner (2007 – 2015)
Brasil
Lula (2003 – 20010)
Dilma (2011 – 2016)
Bolívia
Evo Morales (2006 – até agora)
Chile
Michelle Bachelet (2006 – 2010 e 2014-2018)
Cuba
Raúl Castro (2008 – 2018)
Equador
Rafael Correa (2007 – 2017)
Lenín Moreno (2017 – até agora)
Honduras
Manuel Zelaya (2006 – 2009)
Nicarágua
Daniel Ortega (2006 – até agora)
Paraguai
Fernando Lugo (2008 – 2012)
Uruguai
Tabaré Vásquez (2005 – 2010)
José Mujica (2010 – 2015)
Tabaré Vázquez (2015 – até agora)
Venezuela
Hugo Chávez (1999 – 2013)
Nicolás Maduro (2013 – até agora)
Fonte: Portal Vermelho.