A presença da China na América do Sul e na América Latina é um fato incontestável. Nas últimas duas décadas, o interesse de Pequim por países da região aumentou consideravelmente. Esse interesse é mútuo: prova disso é que a China hoje é a principal parceira comercial de muitos países da região.
“Ela [a China] é um mercado gigante para as exportações, é a principal parceira da maioria dos países da América do Sul, principalmente Brasil, Chile, Peru, Uruguai e, mais recentemente, Argentina e Chile. A China também pode contribuir para aliviar os gargalos de infraestrutura que a região tem, que são obstáculos ao desenvolvimento de países da América Latina e da América do Sul.”
“Ela [China] tem interesse em exportar padrões tecnológicos em uma série de segmentos, desde energia renovável até telecomunicações. A China também tem interesse em ter uma relação mais próxima também com os países da região, até como uma forma de contrabalancear a influência que os Estados Unidos têm na região da Ásia-Pacífico.”
“A região tem necessidades de investimentos em infraestrutura que não são geralmente preenchidas, e a China, ao longo das últimas décadas, se propôs a financiar uma série de projetos de infraestrutura de transportes e energia que podem contribuir com o desenvolvimento dos países da região. Financiou, por exemplo, projetos hidrelétricos na Argentina e no Equador.”
“O Brasil, já em 2009, passa a ter na China sua principal parceira, outros países também, rapidamente. De 2001 para 2010, a China passa a qualificar cada vez mais a sua presença na América Latina, com investimentos diretos por parte de empresas chinesas, inicialmente no setor de recursos naturais, depois com uma presença muito forte no setor elétrico.”
Relação mais diversa e mais complexa
“Mas, nos últimos anos, a gente pode dizer que esse processo tem se acelerado e aprofundado com o comércio com a China. A gente tem se desindustrializado e ficado cada vez mais dependente das exportações de commodities.”
“Isso faz com que o nosso crescimento econômico, o nosso PIB, fique muito vulnerável aos preços das commodities. E os preços das commodities têm uma margem de volatilidade segundo a economia internacional. Quando as commodities estão com um bom preço, que a gente pode chamar o boom das commodities, há um crescimento da balança comercial. Mas em momentos em que o preço das commodities caem, essas economias ficam frágeis. Então, não é interessante que a gente deixe a nossa economia totalmente relacionada a isso”, explica Harumy.
“A gente precisa deixar a nossa relação contínua cada vez mais diversa e cada vez mais complexa. A gente não desconstrói essa tendência de exportação de commodities do Brasil de uma hora para outra. Precisa de muito investimento em educação, ciência e tecnologia, uma política voltada para a construção de um verdadeiro salto tecnológico, de industrialização”, explica Harumy.
“Quando eu falo de transferência de tecnologia, a gente tem que ter noção de que o Brasil está muito atrasado em relação ao desenvolvimento tecnológico do mundo. Os países do centro, eles estão em uma verdadeira corrida tecnológica, tanto de biotecnologia, quanto de tecnologia militar”, conclui Harumy.