América: as muitas estradas entre Atlântico e Pacífico

Panama

Nem todos sabem que já há algum tempo existe um projeto para escavar um canal na Nicarágua, algo que ponha em comunicação o Oceano Pacífico com o Atlântico, tal como já faz o Canal do Panamá.

Enquanto este historicamente sempre esteve sob o controle dos Estados Unidos, o novo projecto é algo nascido entre o governo da Nicarágua e uma empresa chinesa.

Poucos dias atrás, o governo do País centro-americano aprovou uma concessão de 100 anos para a construção (custo total estimado: 30 biliões de Dólares) e a gestão da obra em favor duma empresa chinesa. O projecto, apesar dos inevitáveis aspectos controversos, permitirá que a China reforce a sua influência sobre o comércio mundial, ao mesmo tempo que irá enfraquecer a posição dos Estados Unidos.

A empresa em questão, concessionária e gestora do projecto, tem o nome de Empresa Desarrolladora de Grandes Infraestructuras Sa. e é presidida por Wang Jing. Personagem acerca da qual nada se sabe, em conferência de imprensa afirmou ter um plano de investimento para realizar o trabalho no prazo de seis anos.

O acordo entre a Nicarágua e a empresa prevê que está última pague 10 milhões de Dólares por ano ao governo durante os primeiros dez anos e uma percentagem dos lucros relacionados com o tráfego do canal (um inicial 1% e, em seguida, um aumento ainda não especificados) a seguir. No final da concessão, a infra-estrutura e a gestão do canal iria ser transferida para o País latino-americano.

O canal que a Nicarágua, um dos Países mais pobres da América Latina, pretende construir com a ajuda chinesa não irá reformar Panamá, mas de acordo com os projectistas será capaz de atrair 4,5% do comércio marítimo mundial. Para o País, os benefícios serão grandes: 40 mil postos de trabalho e a duplicação do PIB, pelo menos em teoria.

Problema: a Nicarágua não é o único País da América Central que aspira a competir com Panamá: Guatemala e Honduras afirmam ter alternativas melhores, sempre com dinheiro chinês.

Mas quais as consequências do ponto de vista geo-político?

Um, dez, cem canais

Um canal na Nicarágua como alternativa ao Canal do Panamá tem sido discutido há algum tempo, e a sua possível realização já foi motivo de disputas tanto com a Costa Rica quanto com a Colômbia.

Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua, tentou suavizar as possíveis objecções dos Estados Unidos pedindo que Barack Obama investisse no projecto em conjunto com os chineses. É significativo como somente após duas reuniões (uma entre Ortega e Obama, outra entre o último e Xi Jinping) e a sucessiva viagem em Nicarágua da subsecretária do EUA para a América Central, Liliana Ayalde, o projecto foi oficialmente apresentado.

Quando começou-se a falar sobre o projecto, surgiu um certo alarme ligado a uma possível “conspiração” de Rússia, China, Irão e Venezuela para a construção de uma alternativa ao Panamá, principalmente para Chávez desviar as exportações de petróleo destinadas aos EUA na direcção de Pequim. Mas Chávez já foi, o actual Presidente Maduro tenta restabelecer as relações com Washington, no Irão há ventos de mudança, a China já desembarcou na América Latina e, em qualquer caso, a principal preocupação de Ortega parece ganhar dinheiro para o seu País.

Quem está preocupado são a Costa Rica e a Colômbia.
Em particular, após a votação da Assembleia Nacional, Noemi Sanín, o ex-ministro das Relações Exteriores colombiano (e ex-candidato presidencial e ex-embaixador em Londres, Madrid e Caracas) lembrou que entre os juízes do Tribunal de Haia, que no passado 19 de Novembro tinham dado uma resposta particularmente favorável ao governo da Nicarágua no caso duma disputa histórica acerca da fronteira marítima entre os dois Países, também havia o chinês Xue Hanqin. Nesta altura, o conflito de interesses daria o direito de solicitar uma revisão do acórdão: de facto, as águas que o Tribunal atribuiu a Nicarágua são necessárias para construir o canal “chinês”.

No Panamá, Alberto Alemán Zubieta, o administrador do canal na altura em que o canal tinha sido transferido para o governo local (31 de Dezembro de 1999), define o projecto da Nicarágua como um “desperdício e desnecessário”.

O tráfego no Istmo parece suficientemente importante para justificar não apenas a expansão do Canal do Panamá e a construção do canal na Nicarágua, mas também a criação de outros tipos de canais. No passado 13 de junho, durante uma visita em Taiwan, o presidente da Guatemala Otto Perez Molina confirmou a intenção de implementar um gasoduto, um oleoduto, uma estrada de alta velocidade e 390 km de linha ferroviária que unirá os dois oceanos, explicando que todo o projecto encontra-se  numa fase “muito mais avançado do que o canal da Nicarágua”. O projecto custaria 10 biliões de Dólares e prevê a participação de Venezuela, China e empresas de El Salvador. Jorge Arriaza, diretor-executivo da Asociación de Industriales Salvadoreña (ASI), afirma que espera uma redução substancial dos custos do comércio com o estrangeiro.

Apenas uma semana depois, no dia 20 de junho, o presidente da Honduras, Porfirio Loboha, anunciou que aChina Harbour Engineering Company Ltda estaria interessada em investir 20 biliões de Dólares para uma ferrovia de 600 quilômetros entre o Atlântico e o Pacífico, e que o acordo deveria ter sido assinado em Julho. Este projecto, que é para ser implementado ao longo dos próximos 15 anos, seria acompanhada pela construção de dois portos, uma refinaria, um gasoduto, um canteiro de obras, a colocação de cabos de fibra óptica e a criação de 300.000 postos de trabalho.

Mas ao que parece, também Costa Rica e Colômbia estariam interessado em projectos deste tipo.
Arriscamos ter uma superprodução de canais.

Fonte: Informação Incorreta.

Foto: Reprodução.

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