Amazônia perderá outro momento histórico?

(Foto: Valdemir Cunha/Greenpeace)

Por Lúcio Flávio Pinto, em Amazônia Real. 

Os Estados Unidos e a União Europeia estão criando subsídios para alavancar a indústria verde em seus territórios, expandindo sua geração de energia limpa. Um dos segmentos mais importantes dessa transição, acelerada pelos efeitos da guerra na Ucrânia, é o hidrogênio verde. A autossuficiência americana e europeia pode ameaçar a busca pelo Brasil de uma posição como um dos maiores fornecedores de energia limpa do mundo.

O ministério da Fazenda prevê para agosto o anúncio de medidas para a transição ecológica do Brasil, atuado “no mercado regulado de carbono, bioeconomia, transição energética hidrogênio verde”. O BNDES observa que a Europa vai precisar de 20 milhões de toneladas em 2030 para descarbonizar sua matriz energética. Metade será importada.

O Brasil pode entrar nesse mercado. Já foram anunciados projetos para a produção de 1,5 milhão de toneladas de hidrogênio verde, a partir de módulos fotovoltaicos, aerogeradores eólicos, eletricidade e mais de 1.200 quilômetros de novas linhas de transmissão.

Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, calcula que será preciso investir 30 bilhões de dólares só com o que foi anunciado até o início deste ano. Num encontro realizado dois dias atrás, em São Paulo, ela observou que além de ser necessário atrair uma combinação de capitais públicos e privados desse porte, é preciso também fomentar demanda.

Essa parte pode se relacionar com a Amazônia. Tendo todo esse potencial energético, o Brasil irá se contentar em exportar energia para a Europa? “Ou vamos subir na cadeia de produção e começar a exportar produtos verdes?”, questionou Luciana. “Para que a gente rompa com o modelo primário exportador e comece a exportar esses produtos verdes vai ter que ter muito investimento na cadeia toda”.

Entre os exemplos, ela cita produtos eletrointensivos que o Pará já produz e exporta como minério de ferro e toda cadeia do alumínio, da bauxita ao metal primário. A oportunidade de avançar na cadeia produtiva é esta, desde que se comece o esforço de atualização tecnológica e providências econômicas, agora.

Mas parece que a Amazônia, mais uma vez, deixará passar o trem da história, como aconteceu a partir de 1973, que assinala a terceira revolução energética desde o início da era moderna, passando do carvão para o petróleo e neste momento, do baixo carbono.

Vamos nos limitar a ouvir estrelas, sem sermos poeta?


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