Por Lucas Ferrante e Philip Martin Fearnside
Em 11 de janeiro a revista Nature destacou em um editorial a necessidade de a sociedade humana pôr fim ao uso dos combustíveis fósseis [1]. Em 21 de fevereiro publicamos uma correspondência naquela prestigiosa revista [2] (disponível aqui), apontando a necessidade de sustar projetos planejados para extrair petróleo e gás na Amazônia e explicando como a região poderia ser impactado por efeitos diretos e indiretos dos planos brasileiros para produzir combustíveis alternativos. Segue uma tradução do conteúdo da correspondência [3].
A eliminação gradual de petróleo e gás no cronograma imposto pelo limite de 1,5 °C [1] significa que o Brasil, como muitos outros países, terá que ajustar seus planos de energia em várias áreas.
Primeiro, o país deve abandonar o enorme projeto de petróleo e gás do Solimões na floresta amazônica [4-6] e o novo projeto de petróleo ‘novo pré-sal’ no estuário amazônico [7, 8].
Em segundo lugar, a Amazônia deve ser protegida dos efeitos do aumento da demanda por combustíveis alternativos. O Brasil está prestes a se tornar um grande exportador de hidrogênio verde, com base no extraordinário potencial eólico de seu litoral [9]. Esse potencial também é fundamental para deter as hidrelétricas planejadas na Amazônia [10], onde os impactos ambientais e sociais seriam enormes [11, 12].
A substituição do petróleo e do gás aumentará a demanda por biocombustíveis, portanto a Amazônia precisará de proteção contra o desmatamento para o cultivo de cana-de-açúcar e dendê [13, 14]. O Brasil deve usar seu mecanismo de zoneamento para excluir essas plantações de sua região amazônica. Em nossa opinião, os países importadores devem se recusar a comprar biocombustíveis produzidos na Amazônia e devem boicotar o hidrogênio brasileiro, a menos que os planos de barragens amazônicas sejam abandonados.