Por Maria Flor.
Hoje eu estou tão amarga quanto o meu café. Saí do banho chorando e chorei pelo menos mais meia hora, enrolada na toalha. Chorei de mágoa, de tristeza, de raiva. No ápice da raiva, no choro quente de quem sente fúria, joguei coisas no chão e baguncei meu quarto. Vesti um vestido escuro e sem detalhes. Com os olhos inchados e o coração de ressaca, fui para a cozinha, preparar o meu café. Peguei uma xícara colorida, mas ela pareceu totalmente fora de contexto. Nem liguei, usei ela mesmo assim. Nem peguei o açúcar: hoje é amargo. Nem peguei o leite: hoje é escuro. E mesmo sendo uma tarde fria, não peguei casaco. Tomei minha xícara de café preto e amargo como a moça de sobre-tudo vermelho que toma conhaque num bar antiquado. Tinha mil coisas para fazer, casa para ajeitar, química, física, biologia para estudar, mas não podia fazer nada naquela hora: meu café ainda estava quente. Me seduziu e secou meu rosto, deixando um agradável gosto amargo, perfeitamente emoldurado.
[Floripa, primavera (fria e chuvosa) de 2012]