Maria Ester Moreira acredita que sua demissão se deu por desentendimento com Roberto Alvim, diretor do Centro de Artes Cênicas.
Bolsonaro não está brincando quando afirma repetidas vezes a guerra contra os vermelhos, e isto, sentimos na pele e vemos dia a dia se concretizar. Desde tomar a Funarte como órgão de propaganda de suas ideias até a atual censura a obras e suspensão de editais, a guerra , como declaram, de fato começou.
Com reacionário Roberto Alvim à frente, cabeças começaram a rolar. A primeira delas foi da coordenadora da Funarte em São Paulo, Maria Ester Moreira, que oi exonerada nesta quinta-feira (22). Ninguém da Funarte ou do Ministério da Cidadania sequer fez contato com Maria Ester e a mesma ficou ciente de sua exoneração por um amigo, que leu a publicação no Diário Oficial da União e assinada pelo ministro da Cidadania Osmar Terra. Maria Ester trabalhava há dois anos e oito meses na entidade e era responsável pela gestão do Complexo Cultural Funarte em São Paulo.
O início da desavença entre Maria Ester e Alvim teria se dado devido ao “veto” a um dos espetáculos que faria parte da programação de outubro não seria veiculado por não conter a qualidade artística “necessária”. O fato se deu na segunda (24), quando a ex-coordenadora fora informada por funcionários do Centro de Artes Cênicas, e questionando tal decisão, optou por não cumpri-la, já que todos os processos para a encenação do espetáculo já tinham sido previamente aprovados pelas instâncias do Centro de Artes Cênicas e para além deste fato, tecnicamente, a funcionária deveria responder diretamente somente às orientações do presidente e do diretor-executivo da Funarte.No entanto, efetivar a exoneração da ex-coordenadora é a mais clara demonstração de Alvim que não é assim que a banda toca daqui pra frente, do que depender de sua vontade.
Maria Ester relatou à mídia que desde que os editais foram mais e mais sucateados, o que ela descreve como sendo desde 2016, a Funarte cede seu espaço para artistas e coletivos apresentarem seus trabalhos e processos de criação e que “qualidade artística” não é um dos critérios estipulados pela Funarte para emprestar seus espaços a companhias teatrais. Segundo informações de “O Globo”, ela supõe que o veto ocorreu devido ao teor político do espetáculo e lembrou que os responsáveis pelo indeferimento não assistiram à peça, que nunca foi montada, apenas leram a sinopse.
“Era um espetáculo político, mas não panfletário”,disse. “Falava sobre uma sociedade massacrada por um governo fascista, da qual sobraram uns poucos sobreviventes que vão trocando suas memórias e lembrando o inferno que viveram enquanto constroem uma barricada”.
Maria Ester preferiu omitir o nome do espetáculo e da companhia teatral porque não sabe se eles foram avisados do veto. Os questionamentos dela não foram respondidos pelo Centro de Artes Cênicas até sua exoneração.
Faz parte dos planos de Alvim que curadores nomeados por ele sejam responsáveis em selecionar a programação de cultura da Funarte, que aqui na capital paulista é composta por um verdadeiro complexo, que conta com cinco salas de espetáculo, duas galerias e uma área de convivência, além do Teatro de Arena Eugênio Kusnet e do Teatro Brasileiro de Comédia. Assim, pretende de fato colocar em prática a formação de um grande exército de artistas de “direita”, como fez questão de dizer assim que seu nome fora cogitado para o cargo. Agora, valendo-se da demagogia que lhe é peculiar, afirma não ter sido invenção de Maria Ester as “motivações ideológicas” para assim, “criar uma narrativa de que foi uma demissão política”.
Procurado pelo GLOBO, Alvim declara que “O que aconteceu foi o seguinte: eu estou reestruturando a equipe da Funarte. Cada teatro vai ter um diretor artístico que vai fazer a curadoria. Hoje, como não tem curadoria, todo mundo envia projetos e eles encaixam na agenda. Isso gerou um desmazelo muito grande. Queremos garantir a excelência da curadoria”. Para coroar a hipocrisia, Alvim também nega que o espetáculo tenha sido vetado por razões políticas. E ainda afirma no auge de sua cara de pau que: “No dia em que eu fizer ativismo de direita em cena podem me internar porque fiquei louco”.
Acontece que nada tem de loucura tal investida. Trata-se de um verdadeiro projeto de desmonte das iniciativas de arte e cultura que se enfrentem com o governo, que digam não aos mandos e desmandos de Bolsonaro, que levantem bandeiras contra o racismo, machismo, homofobia ou qualquer outra pauta que Alvim e sua laia leiam como sendo de teor “político”. Mais uma mostra de sua pontaria, que não desvia em nada da esquerda e tem alvo certo: marxistas, antifascistas, feministas e obras que escancarem a podridão do capitalismo.
Vide o lançamento via edital do Conservatório Brasileiro de Teatro. Logo de cara, de olhar para o logotipo e já entramos num clima de uma “cruzada cultural”. E lendo o edital, se é que assim pode se chamar, logo se vê do que trata: um verdadeiro e descarado recrutamento, como Alvim mesmo gosta de definir, para o qual se destinam bolsas de R$2.800,00 para os melhores em cada categoria. Outro aspecto importante de se observar é o fato de as atividades serem realizadas em Brasilia, numa tentativa óbvia porém nada ingênua, de “girar” o eixo de produção cultural de SP para Brasilia, para debaixo dos olhos inquisidores do governo. Enquanto cancelam editais por considerarem, lendo algumas linhas de sinopse, que esta ou aquela obra não servem para serem “vendidas”, lançam este chamado para armar seu exército. Assim, garantem que obras e produções que serão veiculadas a partir desta iniciativa, estejam de acordo com os padrões ideológicos que lhes interessa. Que ocupem espaços, que veiculem ideias reacionárias. Ou seja, a forma mais sórdida de mapear e dar voz a abjeta linha de pensamento de Bolsonaro.
Par e passo com os ataques a população, como a absurda reforma da previdência e a MP 881, que pretendem que os trabalhadores de fato trabalhem até morrer sem direito a nada. o governo censura e ataca a arte e a cultura em diversos flancos, censurando obras diretamente, cortando verbas tanto da cultura quanto da educação e busca fazer dos aparatos públicos como a Funarte e a Ancine verdadeiros balcões de negócios e órgãos de propaganda de sua abjeta ideologia. Com isso, pretende que todos os ataques passem sem resistência, sem enfrentamento, sem que coletivos, artistas, jovens e estudantes ecoem suas vozes contra as atrocidades cometidas. É mais que urgente que invès de ceder a tais pressões moralistas e persecutórias, nos levantemos de mãos dadas com a classe trabalhadora e com os demais setores oprimidos para que conformemos uma grande força contra a censura e o silenciamento, contra a reforma da previdência e os cortes e ataques contra a educação, contra o crime que está sendo cometido com as queimadas na Amazônia e contra toda e qualquer iniciativa de Bolsonaro e sua corja que atinja a população pobre, mulheres, jovens, trabalhadores, negros, indios e LGBTS.
Se a arte em suas mais diversas manifestações é de fato um martelo que forja a história, segundo nos disse o poeta da revolução, é hora de empunharmos nossas armas, pois a guerra deles já começou.