Por Rosangela Bion de Assis, para Desacato.info.
Depois da Prainha tem uma curva bem fechada
Os caminhões da Coca frequentemente deixavam cair os engradados ali
Meu tio Baquinha, sabe bem
Os restos de vidro ficavam pelo chão, por tempos
Depois do Madalona, pendurada no barranco florido, fica a casa da minha avó Zilca
Vivi alguns anos com ela, depois fomos morar ali perto
Aquele pedacinho de ilha era meu mundo
Rodopiei nos postes, repetindo falas das personagens das minhas invenções teatrais
Meus amigos vinham assim que a Neusa saia pra trabalhar e fritávamos muita batatinha
Derreti meu fogãozinho nas primeiras experiências culinárias na praia do José Mendes
Seu Nelinho sempre dava desconto nos refris
Na Dona Bicota, as moedas viravam doces
No Jurema Cavallazzi, era barrada na fila merenda, quando tentava repetir pela terceira vez
Caminhando pela José Maria da Luz procuro algum pedacinho do passado
Escavo e vejo que demoliram a casa antiga em que funcionava a venda do seu Osvaldo
A casa do professor foi abandonada
A da minha avó ganhou grades e cerca
Não consigo chegar na prainha secreta das nossas brincadeiras
A praia do Curtume ganhou deck
Muitas casas simplesmente sumiram
Eu fui embora
Ando reunindo os amigos em outros cantos
Continuo esfomeada, mas troquei o teatro pela poesia
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Rosangela Bion de Assis é jornalista, poetisa e presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul.