Atualmente, mais de 200 casos de tortura e perseguição têm sido investigados no estado
Por: Ana Carolina Peplau Madeira para Desacato.info (Texto e fotos)
O Coletivo Memória, Verdade, Justiça junto com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do estado de Santa Catarina (Alesc), realizou no último dia 9 de dezembro sessão para homenagear in memoriam as vítimas da Ditadura Militar e lembrar a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Proposta do deputado estadual Dirceu Dresch, a sessão comemorou os 67 anos da existência da Declaração dos Direitos Humanos e reverencia aquelas pessoas que lutaram para defender a democracia.
“Estamos vivenciando um momento nebuloso, com aumento da criminalidade e movimentos pedindo a volta da Ditadura. Hoje estamos no espaço que leva o nome de um deputado que desapareceu durante o Golpe Militar, Paulo Stuart Wright”, salientou o autor da proposta de sessão solene. Atualmente, mais de 200 casos de tortura e perseguição têm sido investigados no estado.
Uma representante dos familiares dos perseguidos, torturados e mortos da época Regina Maura Soares acrescentou que, “isso nunca mais se repita. Graças à vida destes homenageados que hoje qualquer um de nós fala o que quiser, faz o que quer: porque vivemos numa democracia. Hoje é autorizado divergir”.
A jornalista e coordenadora do Coletivo Memória, Verdade, Justiça Sílvia Agostini relembrou as cenas de violência dentro da Alesc, no dia anterior contra os servidores públicos contrários ao projeto do executivo. “Diante de uma tentativa de golpe para derrubar a presidenta (Dilma Rousseff), percebemos que não podemos para de lutar para que a tortura nunca mais aconteça”, declarou a coordenadora do coletivo.
O coordenador-geral do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, Ivan Akselrud Seixas falou que a força das mães e viúvas das vítimas da Ditadura é impressionante. “Elas evitaram que essas famílias fossem esfaceladas. A Ditadura foi uma coisa terrível que deixou sequelas por três gerações. A sociedade passou por um emburrecimento por causa da censura. Não se deu espaço para novas lideranças políticas, intelectuais, culturais”, disse Seixas.
Ele contou também que havia sido preso e torturado junto com seu pai, Joaquim Alencar de Seixas que morreu já no segundo dia de cativeiro. Suas irmãs e mãe também foram presas por serem parentes. Elas os viram sendo torturados e uma delas foi estuprada. “Não é revanchismo, queremos saber quem são os torturadores. Dói muito isso, inclusive nos dias de hoje. Ver que estudantes estão sendo espancados pela PM, em São Paulo, só porque lutam pelo direito de estudar”, citou o representante da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos.
O procurador de Justiça Alexandre Herculano Abreu, coordenador Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos e Terceiro Setor (CDH) do Ministério Público de Santa Catarina comentou que a história se repete. “Ela é cíclica. Por isso é importante resgatar essa memória, especialmente para nossos jovens, filhos, saibam. Não é para punir, é para conhecer. Muitos deles (torturadores) podem até estar arrependidos daqueles anos de selvageria. A gente espera que isso não aconteça”, informou o coordenador do CDH/MPSC.
Lista de homenageados
1) Alceri Maria Gomes da Silva, representada por sua irmã
2) Dibo Elias, representado por integrante da direção do PC do B
3) Francisco de Assis Soares, representado por suas três filhas
4) Francisco José Pereira, representado por sua esposa
5) Frederico Eduardo Mayr, representado por seu irmão
6) Gil Braz de Lima, representado por sua esposa
7) Hamilton Fernando Cunha, representado pela integrante do Movimento Negro de SC, Vanda Pinedo
8) Rômulo Coutinho de Azevedo, representado por seu irmão
9) Sérgio Giovanella, representado por sua esposa e seu irmão