Além de Partidos e Sindicatos

Informe de Pablo Mizraji.

Livro de José Carlos Mendonça

“Além de Partidos e Sindicatos vem em boa hora já que, no Brasil, assistimos ao desfecho – prolongado e agonizante – de um ciclo histórico bastante análogo. Muitos autores e militantes socialistas que tiveram a oportunidade de acompanhar o momento de fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, e da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, no início dos anos 80, testemunham que, desde os primeiros passos, a evolução destas duas entidades era a resultante de uma aferrada disputa interna entre, pelo menos, dois projetos completamente antagônicos. De um lado, uma compreensão de organização política fortemente enraizada em núcleos de base combativos (comissões de fábrica, pastorais da terra, comunidades eclesiásticas de base, associações comunitárias, etc.) e animada pela certeza de que o mais importante de toda a construção seria fomentar o surgimento de mais organizações populares e impulsioná-las para a luta política independente. De outro, uma concepção de organização baseada no aprofundamento das diferenças entre massas e dirigentes, com fortes inclinações ao fisiologismo estatal e abertamente reformista. Logo nos primeiros anos da década de 1990, porém, já eram dados os sinais de que esta segunda tendência se tornara incontornavelmente hegemônica.
A partir da apresentação das teses políticas do militante e pensador holandês Anton Pannekoek (1873-1960), tido como um dos dos maiores representantes da tendência conhecida por comunismo de conselhos, o estudo de José Carlos Mendonça nos demonstra que subjacente a esta tendência política estava a constatação de que tanto partidos quanto sindicatos já não eram mais capazes de responder às circunstâncias evoluídas sob a qual se travava a luta de classes. E não só, isto significava que estas instituições tradicionais de luta, sob o capitalismo avançado, tenderiam a se apresentar como verdadeiros obstáculos ao livre desenvolvimento do protagonismo operário. Dado que na história não existem fatos que não tenham sido, um dia, projetos em disputa, o nosso problema teórico consiste em identificar quais “espíritos de organização” estão hoje em conflito e, na prática, empurrar à vitória aquele que privilegia a construção de relações sociais solidárias e igualitárias e a formação de uma consciência política que decorra da própria atividade dos oprimidos.
Por tudo isso, refletir sobre os dilemas da organização política continua sendo o maior dos desafios colocados para a esquerda anticapitalista no Brasil e no mundo. Eis uma questão de nosso tempo que, sob vários aspectos, é amplamente abordada em Além de Partidos e Sindicatos.”

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