Aldeia indígena sofre segundo ataque a tiros em três dias, em Guaíra, no Paraná

“Estamos apreensivos, não sabemos o que está por vir”, desabafa cacique

Clima é de medo na aldeia Tekoha Yhovy, já que os ataques com disparo de arma de fogo se estendem há sete meses – Foto: Paulo Porto

Por Isadora Stentzler.

A aldeia indígena Tekoha Yhovy, em Guaíra, Oeste do Paraná, foi alvo de ataques por arma de fogo na noite de domingo, dia 31 de junho. Foi o segundo ataque em três dias, e o terceiro ataque em sete meses. “Estamos apreensivos, não sabemos o que está por vir. Não sabemos o que vai acontecer”, desabafou o cacique Ilson Soares, de 31 anos. Ninguém ficou ferido.

De acordo com Soares, o ataque de domingo aconteceu por volta das 20h45, e foi semelhante ao que ocorreu na quinta-feira, dia 28. No domingo, uma caminhonete saveiro de cor preta passou pela Avenida Martin Luther King, que faz divisa com a aldeia, e dela foram efetuados disparos de arma de fogo na frente da comunidade. Soares disse que a Polícia Militar foi acionada, mas não apareceu.

Um agente da Fundação Nacional do Índio (Funai) compareceu à aldeia na manhã desta segunda-feira, 1º de junho. Segundo Soares, ainda nesta tarde eles iriam registrar um Boletim de Ocorrência na 13ª Delegacia Regional de Polícia de Guaíra.

“Depois de fazer o B.O. a gente vai ver o que pode ser feito. Vamos encaminhar para o Ministério Público Federal um pedido de segurança, para que a polícia faça patrulhamento por dentro da aldeia”, apontou o cacique.

Ataques

Na aldeia Tekoha Yhovy vivem 64 famílias (cerca de 300 pessoas). De acordo com Soares, o clima na aldeia é de medo, já que os ataques com disparo de arma de fogo se estendem há sete meses. O cacique disse ainda que não sabe quem pode ser o autor (ou os autores) dos ataques, já que a comunidade vive “ainda mais isolada agora” devido à pandemia do novo coronavírus.

O primeiro ataque ocorreu em 21 de outubro de 2019, quando tiros foram efetuados de dentro de um veículo que passou pela comunidade. O segundo, na última quinta-feira, foi da mesma forma. Em ambos, a comunidade registrou um Boletim de Ocorrências.

Resposta da Funai

A Funai local disse que acompanha os casos na comunidade, mas que é necessário uma manifestação por escrito das lideranças da aldeia para que situação seja encaminhada ao Ministério Público Federal (MPF). “Aguardamos a confecção desse documento e a Funai protocola direto no Ministério Público Federal, solicitando urgência no atendimento da demanda”, esclarece a Funai. “Dentro de nossas atribuições estamos trabalhando para garantir a paz e o direito dos indígenas a seu espaço e vida digna (…) E a melhor forma é buscar a prevenção, e garantir segurança pública pra toda comunidade.”

A Funai não citou prazos para isso, e disse que, como o documento é preparado pela comunidade, a partir da entrega deles é que a Funai encaminha ao MPF.

De acordo com a Funai de Guaíra, a comunidade situa-se uma região de trânsito de atividades ilícitas, que já foram denunciadas pela liderança da aldeia, o que agrava a situação de conflito.

“Uma estrada lateral à aldeia era utilizada como ponto de apoio de contrabandistas. De um tempo pra cá começaram a ocorrer incidentes de disparos de arma de fogo, possivelmente pra comunidade se omitir quanto ao trânsito de estranhos próximo da aldeia. A liderança acredita que seja perseguição por condição da terra, por questões relacionadas à direito indígena, porém não temos nenhuma informação ou prova mais contundente disso”, explicou o representante da Funai, que disse que a entidade “não possui poder de polícia” e por isso necessita da “articulação e colaboração com os demais poderes e entes públicos” para garantir segurança aos povos originários.

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