Ahmadinejad, o indescartável

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Ali Larijani e Mahmoud Ahmadinejad

A democracia iraniana está viva e vibrante. As divisões de 2009 já são passado, a tal ponto que até o presidente Obama teve de admitir publicamente que Mahmoud Ahmadinejad foi eleito em eleições legítimas e limpas, pela maioria dos iranianos. O movimento Verde uniu-se à burguesia urbana, e parte da “juventude” já amadureceu.

Hoje, Washington já não acalenta qualquer esperança de derrubar o regime; então, trabalha para dividi-lo. Os EUA bem que gostariam de extrair algum lucro da atual crise entre a corrente religiosa do clã Larijani e a corrente nacionalista da família Ahmadinejad.
A aliança histórica entre as correntes religiosa e nacionalista está abalada pelo fraco desempenho de Ali Larijani nas pesquisas eleitorais e pela avassaladora popularidade de Ahmadinejad. Com as eleições de junho já batendo à porta, a crise acabou por vir a público.
A quatro meses das eleições no Irã, ainda não se sabe quem será o candidato que substituirá o carismático Mahmoud Ahmadinejad para os próximos quatro anos. A Constituição proíbe um 3º mandato para Ahmadinejad, mas ele pode manter-se próximo ao poder e pode voltar nas eleições seguintes, como fez Vladimir Putin.
Em 2009, os protestos varreram Teerã e Isfahan: apoiadores do candidato liberal acusavam as autoridades de ter manipulado os resultados das eleições. Esse movimento rapidamente perdeu fôlego, mas deixou feridas profundas no movimento da juventude. O qual foi afinal calado depois de uma massiva demonstração de apoio às instituições da Revolução Islâmica. Os próprios iranianos teriam sido convencidos pelos vencidos? Inúmeras vozes argumentaram que as instituições estimularam os tumultos.
A juventude não conhecia o programa de Moussaoui e ignorava completamente que ele promovia o capitalismo global e alinhava-se a ele. Erradamente, os jovens supunham que Moussaoui representasse a moral social liberal. Sem perceber, haviam sido persuadidos de que tinham de escolher entre “liberdades individuais” e “o regime”. E os jovens desapareceram das cerimônias nacionais.
Surpreendidas pela violência do protesto, as autoridades foram lentas em responder.
Primeiro, houve uma defesa pela mídia. Por exemplo: um grupo de especialistas analisou quadro a quadro o famoso vídeo do jovem Neda, apresentado como morto por forças de segurança durante uma manifestação antirregime. Concluíram que o vídeo havia sido forjado. Depois se organizaram grupos de discussão, mediados por instrutores adultos que iniciaram os jovens na compreensão do pensamento dos revolucionários iranianos mais velhos. Todos esses esforços deram fruto, e hoje se vê outra vez forte participação dos iranianos com menos de 30 anos nas recentes cerimônias nacionais oficiais.
Washington, por sua vez, não poupou esforços para semear a cizânia na sociedade iraniana e trabalhou para acentuar os conflitos generacionais.
Foram criadas mais de uma centena de estações de televisão por satélite, em farsi, para inundar o país com propaganda do “Sonho Norte-americano”. Conseguiram distrair a atenção dos iranianos e afastá-los de suas redes locais e nacionais, mas, no geral, não há sinais de que tenham seduzido a população que vota.
No momento em que tantos se preparavam para mais uma tentativa de “revolução colorida” e “mudança de regime”, a surpresa veio da coalizão governante.
A confrontação clássica entre as facções religiosa e nacionalista endureceu e, afinal, explodiu numa cena pública.
O presidente da República, Mahmoud Ahmadinejad, e o presidente do Parlamento, Ali Larijani, puseram-se a acusar-se mutuamente de proteger assessores corruptos. As redes ocidentais em farsi exibiram imagens dos bate-bocas. Apesar das exortações à calma e ao bom-senso, o Supremo Líder, Aiatolá Ali Khamenei não consegue acalmar os protagonistas.
Além do mais, Ahmadinejad conta com apoio popular massivo em todo o país, exceto, paradoxalmente, em Teerã, cidade da qual foi prefeito. A rápida industrialização do país, programas recentes de redistribuição dos lucros do petróleo, pagos mensalmente a todos os cidadãos adultos, e a construção de moradias por todo o país vendidas a preços subsidiados, conquistaram os votos de trabalhadores urbanos e da agricultura.
Ahmadinejad, que sente que seu candidato será eleito por ampla margem de votos, não hesita em desafiar a oposição mais religiosa, e mostra que, se dependesse dele, as exigências dos jovens seriam atendidas. Permitiu-se inclusive celebrar uma “Miss hijab”, para poder criticar mais livremente a lei que torna obrigatório o uso do véu.
Ali Larijani e seu irmão Sadeq (presidente do Judiciário) estão forçados a constatar que o candidato rival está avançando no trabalho de promover a candidatura do chefe de gabinete de Ahmadinejad, Rahim Mashaei Esfendiar. Esfendiar dedica-se a reescrever discursos oficiais, trocando as referências religiosas por referências mais universais, não tão exclusivamente xiitas.
Os religiosos temem que essa flexibilização abra a porta para o declínio do Islã. Responderam espalhando boatos de que a família Ahmadinejad perdeu a cabeça; que se creem em contato direto com o Parlamento e, enquanto esperam, tenham garantir lugar, reservando para eles mesmos uma cadeira no Conselho de Ministros.
Para acalmar as coisas e preservar a unidade da Revolução, o Supremo Líder pode exigir que o grupo Ahmadinejad indique candidato menos divisionista e polarizador que Mashaei.
A imprensa-empresa ocidental está em surto de esquizofrenia.
Enquanto as redes em farsi só falam dessa confrontação, as redes europeias não publicam uma linha sobre o caso. Só fazem continuar a induzir os públicos a crerem que o Irã seria uma ditadura monolítica comandada por mulás.
Os jovens, que tomaram as ruas contra “o regime” em 2009, já são hoje aplicados apoiadores de Ahmadinejad e muito provavelmente votarão no candidato que Ahmadinejad indique, em junho.
Os jovens iranianos acreditam que, com Ahmadinejad (e seu candidato às próximas eleições), a Revolução Islâmica conseguirá conciliar a libertação nacional e o respeito pelas liberdades individuais.

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