A água é um direito humano fundamental e imprescindível a todos os seres humanos, que devem dispor de quantidade e qualidade suficiente para a reprodução da vida. Salubre, acessível e de baixo custo para o uso pessoal e doméstico. No entanto, no mundo, 3 a 4 bilhões de pessoas não têm acesso à água ou se utilizam de uma água sem condições saudáveis ao consumo.
No Brasil, apesar de comportar 12% da água potável superficial do planeta, a distribuição dos recursos hídricos ocorre de maneira bastante desigual, o que cria um cenário de incertezas e conflitos sociais. Com a falta de vontade política e investimentos em programas de abastecimento de água, centenas de pessoas foram forçadas a migrar de suas regiões, em busca de sobrevivência, e outras a resistir e lutar pela água.
Essa realidade assola diversas regiões de todo o país. Nesta sociedade, na qual o capitalismo e o patriarcado prevalecem, as mulheres aparecem como as mais prejudicadas neste cenário de falta de água. Apesar de sofrerem, a força e a resistência das mulheres se evidenciam na busca por estratégias para driblar e superar o problema da falta de água.
Dentro do contexto e estrutura familiar nesta sociedade, são designadas às mulheres tarefas domésticas e a referência da logística do funcionamento dos lares. Quando há falta de água, o trabalho das mulheres aumenta.
Por exemplo, nos locais de regiões semiáridas, onde existe grande presença de monoculturas de eucalipto e café que sugam toda a água do território, são as mulheres que saem de suas casas e territórios em busca de água nos mananciais que ficam a quilômetros de distância, com latas e baldes pesados na cabeça.
“Historicamente na sociedade patriarcal e capitalista, o papel dado à mulher é de cuidar da casa. No caso da falta de água, são as mulheres do meio rural que saem de suas residências para buscar água para a família em baldes e latas, geralmente em grandes distâncias. Essa condição precária prejudica a saúde da mulher, que com o tempo apresenta vários adoecimentos, como dores na coluna”, comenta Aline Ruas, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Embora o semiárido protagonize os maiores conflitos pela água, o crime em Mariana trouxe à tona o avanço e descaso do capital com a fonte de vida humana. Em 2015, o rompimento da Barragem de Fundão, que pertence às mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton, destruiu diversos municípios, matou 19 pessoas e contaminou um dos principais flúmen de Minas Gerais e Espirito Santo, o rio Doce.
A contaminação da bacia do rio Doce trouxe insegurança para as cidades urbanas abastecidas por ele. Após milhares de pessoas ficarem dias sem água, o reabastecimento voltou a ser feito pelo rio, no entanto o consumo humano da água não é feito desde que a lama prejudicou o manancial. A incerteza sobre a presença de metais na água inibiu a população a consumi-la.
“Na cidade de Cachoeira Escura, no Vale do Aço, o único local para buscar água é uma bica, onde as mulheres, a grande maioria idosas, enfrentam filas durante horas para pegar água, levar aos lares e realizarem trabalhos domésticos, cozinhar e dar aos animais”, comenta Aline. “Outra situação é dos moradores que tiveram de colocar no orçamento a compra de água mineral para beber. Esses são outros prejuízos não contabilizados pelas mineradoras”, ressalta.
Portanto, a água e o saneamento são direitos importantes para a vida das mulheres, pois quando a água não é tratada, escassa ou contaminada, as crianças e idosos sofrem com adoecimentos, como doenças contagiosas e verminoses. Às mulheres cabe um adicional na jornada de trabalho doméstico com os cuidados extras aos membros da família.
“A luta pela água sempre teve atuação das mulheres, pois existe uma forte relação com a água. Seja no campo ou na cidade, a mulher sofre com a falta de água e a má qualidade, o que interfere diretamente no aumento de sobrecarga de trabalho das mulheres. Dessa forma, a defesa pela soberania da água é uma luta que estamos dispostas e vamos fazer”, conclui a coordenadora.
8 de março
O trabalho da mulher está nas matrizes da sociedade. Este trabalho se mostra em duplas e triplas jornadas. Essa construção social reafirma a naturalidade de serviços que sobrecarregam a vida das mulheres.
Mas a desconstrução desse sistema estará no grito de cada mulher no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, quando se mostrará a resistência das mulheres no enfrentamento do patriarcado, na luta por igualdade de gênero.
Neste 8 de março mulheres do campo e da cidade saem as ruas para dizer “não” aos retrocessos contra a classe trabalhadora e mostrar que estão unidas na construção da democracia.
FAMA
As mulheres atingidas por barragens se mobilizam para o Fórum Alternativo Mundial da Água. O FAMA é um evento internacional e democrático que pretende reunir organizações e movimentos sociais de diversos países que lutam em defesa da água.
Este Fórum se contrapõe ao autodenominado “Fórum Mundial da Água”, que é um encontro promovido pelos grandes grupos econômicos que defendem a privatização das fontes naturais e dos serviços públicos de água.
O Fórum Alternativo Mundial da Água – FAMA 2018 – acontecerá entre os dias 17 e 22 de março de 2018, em Brasília – DF. Nos dias 17, 18 as atividades acontecerão na UnB – Universidade de Brasília – e entre os dias 19 a 22 será realizada as plenárias unitárias no Parque da Cidade em Brasília.