Agricultores nos EUA alertam para praga de “superinsetos” com uso de transgênicos

Por Marina Mattar*.

Sucessivas denúncias contra práticas da multinacional agrícola Monsanto se acumularam nos últimos meses nos Estados Unidos. A primeira delas foi o surgimento de uma nova geração de insetos resistentes a uma semente geneticamente modificada do milho, conhecida como “Bt”. Noticiado pela revistaMother Jones e o site Nation of Change, o escândalo trouxe à tona a discussão sobre o modelo atual de produção de alimentos com o uso de transgênicos.

Criada nos fins dos anos 1990 pela Monsanto, a semente possui em sua estrutura genética um gene da bactéria Bacillus thuringiensis, responsável por matar as lagartas comuns nas plantações. Além disso, a semente torna as plantas resistentes ao herbicida Roundup, também patenteado pela empresa e indicado para eliminar ervas daninhas. A Monsanto lançou a semente Bt de milho, algodão e soja e a comercializou em 52 países.

Desde 2004, um ano após o lançamento do produto, a multinacional recebeu relatos de agricultores norte-americanos sobre o surgimento de lagartas resistentes à semente: de 2007 aos dias atuais, são aproximadamente 100 reclamações recebidas por ano. No entanto, apenas em agosto do ano passado o assunto se tornou público. Agricultores do estado de Iowa contaram ao jornal The Wall Street Journal que os insetos gerados a partir das lagartas resistentes desvastaram os campos de milho. Logo depois, agricultores na Índia relataram o mesmo problema.

Segundo matéria do site NPR, antes mesmo do lançamento da Bt, cientistas e ativistas do meio ambiente alertaram para o perigo das sementes geneticamente modificadas. Mesmo assim, o produto foi aprovado pela US Environmental Protection Agency (EPA), órgão responsável pela aprovação de pesticidas nos Estados Unidos, com a ressalva de que 5% da plantação deveria ser feita a partir de sementes naturais. Dessa forma, os insetos mais resistentes, formados a partir das sementes Bt, se reproduziriam com insetos comuns, que atingiriam os 5% restantes, evitando a criação de uma nova geração de insetos geneticamente mais resistentes aos agrotóxicos. Isso, entretanto, não impediu a mutação dos insetos e, atualmente, grande parte das plantações feitas a partir das sementes Bt está ameaçada.

A Monsanto, sediada nos EUA, é a maior fornecedora de sementes no mundo, responsável pela venda de 39% das sementes transgênicas no mercado internacional. No total, são 282 milhões de acres plantados no mundo com sementes Bt; desses, 142 milhões estão em solo norte-americano. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, a semente Bt representa 65% de toda a agricultura de milho e 90% da plantação de soja do país. Pesquisa realizada na Universidade de Sherbrook, no Quebec, Canadá, aponta que o milho geneticamente modificado está presente em diversos produtos alimentícios comuns à população, como bolachas e refrigerantes. Além disso, tanto a soja quanto o milho são responsáveis por alimentar animais para abate.

A resposta da Monsanto não rompe com o modelo do agronegócio mundial: a gigante norte-americana, apesar de não se pronunciar sobre o problema, anunciou a criação de uma nova semente geneticamente modificada, a “Smartstax” que, segundo eles, poderá combater a nova geração de larvas com maior resistência. Na Índia, este produto já está sendo comercializado, com o nome de Bollgard II. A aparente solução conta com o apoio da EPA, que apenas no final do ano passado se pronunciou sobre o problema das sementes Bt, apontando este novo produto como uma possível resposta.

Ativistas e cientistas criticaram a saída encontrada pela empresa dizendo que ela perpetua um ciclo sem fim: criam-se agrotóxicos que induzem ao surgimento de insetos mutantes mais resistentes, que são combatidos, porém, por outros produtos químicos ainda mais potentes, produzindo uma geração de insetos imbatíveis. Da mesma forma que as sementes Bt, o pesticida da multinacional, o Roundup, criado para matar as ervas daninhas que surgem ao redor das plantações, também fez com que surgissem plantas mais resistentes. De acordo com relatório da Organic Center, centro de pesquisas sobre agricultura orgânica, citado pelo site Grist, em 2009, agricultores estavam aumentando a aplicação do Roundup na tentativa de controlar a disseminação de ervas daninhas ainda mais resistentes.

Saúde

O surgimento de novos insetos e plantas resistentes aos agrotóxicos não é o único problema dos alimentos transgênicos. Pesquisas na área da Medicina nos Estados Unidos e Canadá apontam que a ingestão desses alimentos pode trazer consequências nocivas à saúde humana, como problemas no fígado e no coração. O Dr. Joseph Mercola, autor de livros sobre saúde e de um site sobre o tema, levanta a hipótese de que o aumento nas últimas décadas de doenças autoimunes, como alergias, está relacionado à crescente ingestão de agrotóxicos e de alimentos geneticamente modificados.

O modelo simbolizado pela Monsanto, entretanto, não parece se abalar pelas crescentes denúncias, pelo contrário. Multinacionais da área do agronegócio encontram mercado crescente na África e América Latina. Nesta semana, nas reuniões do G8, os países deram poder à New Alliance for Food Security and Nutrition, um grupo composto por empresas do ramo do agronegócio, incluindo a Monsanto, para investir na indústria de alimentos da África.

No Brasil, as perspectivas também são de crescimento: segundo pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), atualmente 85% da soja brasileira é produzida a partir de sementes geneticamente modificadas. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o Brasil representa mundialmente o segundo maior mercado para a Monsanto. Estes números apenas tendem a crescer, já que a projeção é que o Brasil ultrapasse os EUA na produção da soja.

*Ópera Mundi.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br

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