Ação faz parte das iniciativas de enfrentamento à fome e marca o Dia Internacional da Agricultora e do Agricultor Familiar, comemorado neste sábado (25). A maior dos alimentos é orgânica.
Cerca de mil marmitas de alimentos da reforma agrária e agricultura familiar serão distribuídas gratuitamente nesta quarta-feira (22) a moradores de comunidades periféricas e população em situação de rua de Curitiba. A ação marca o Dia Internacional da Agricultora e do Agricultor Familiar, comemorado no próximo dia 25 de julho, e é fruto de doações de alimentos vindas de diversas regiões do estado. A maior parte dos ingredientes que farão parte da marmita tem origem orgânica.
Parte das refeições será preparada na cozinha da sessão de orgânicos do Mercado Municipal. As marmitas serão entregues nas Praças Rui Barbosa e Tiradentes, centro da capital; na Praça Plínio Tourinho, no Rebouças; nos arredores do Mercado Municipal; no Parolin e na Vila Formosa.
Do arroz até a carne, todo o cardápio da marmita vêm das lavouras, hortas, pomares e cooperativas da agricultura familiar e da reforma agrária do Paraná.
O arroz vem da Cooperativa Coana, de assentamentos de Querência do Norte; o feijão da cooperativa Copacon, do assentamento Eli Vive, de Londrina; batata doce, repolho e frutas da cooperativa Terra Livre e das famílias do assentamento Contestado, da Lapa; a batata salsa e repolho da produção familiar Colônia Marcelino, de São José dos Pinhais; a mandioca, do acampamento Che Guevara, localizado entre os municípios Faxinal/Ortigueira; beterraba, abobrinha e cenoura, do Alexandre Onishi, de São José dos Pinhais, e do Vale do Encanto, de Bocaiúva do Sul; carne de porco e banha, vindas do Frigorífico Familiar Maccari, do Sudoeste do Paraná.
Junto de cada uma das marmitas, também serão entregues frascos com composto de mel com açafrão, produzidos no assentamento Contestado pelo Setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para melhora da imunidade; uma máscara, doada pela Campanha 1 Milhão de 1 Real; um frasco de álcool em gel, doados pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e pelo mandato do deputado estadual Goura; além de um copo de água da Sanepar, para atender especialmente a demanda das pessoas em situação de rua por acesso à água potável.
A produção das refeições já ocorre toda a semana por iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e organizações parceiras, com o nome Marmitas da Terra. Desde maio já foram produzidas e disponibilizadas, toda quarta-feira, cerca de 7.800 refeições. Doações de alimentos frescos e industrializados em áreas da reforma agrária do MST têm acontecido toda semana, desde o início da pandemia. Até agora, 258 toneladas de alimentos foram partilhadas no Paraná.
“Essa ação busca demarcar a produção diversa e saudável dos acampamento e assentamentos e da agricultura familiar do Paraná e no intuito de ajudar as famílias que estão na cidade neste momento da pandemia no combate à fome”, explica Adriana Oliveira, integrante do MST e da coordenação da ação semanal de produção das marmitas em Curitiba.
Além de uma ação de solidariedade com pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade neste período de pandemia, a iniciativa defende a criação de políticas públicas para o enfrentamento da fome, o fortalecimento da agricultura familiar, o direito à alimentação saudável e livre de agrotóxicos para toda a população. O Brasil é o “epicentro emergente” da fome extrema no mundo, por consequência da pandemia e pela insuficiência das políticas públicas federais, segundo relatório da ONG Oxfam divulgado no dia 9 de julho.
Nesta segunda-feira (20), a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 753, que propõe medidas para socorrer agricultores familiares enquanto durar a crise da Covid-19. As medidas são necessárias para manter e ampliar a produção de alimentos, capaz de ajudar no enfrentamento à fome. A matéria segue agora para análise no Senado Federal e, se aprovada, vai para sanção presidencial.
Além dos assentamentos e acampamentos do MST e dos agricultores familiares, fazem parte da iniciativa as campanhas Periferia Viva e 1 Milhão e 1 Real, o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), a organização de direitos humanos Terra de Direitos e a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Por políticas públicas de combate à fome
Com mais de quatro meses da confirmação do primeiro caso de coronavírus em Curitiba, registrado em 11 de março, e curva crescente da manifestação da doença na capital, o poder público não formulou – até o momento – políticas públicas substanciais para abrandar os impactos sociais e econômicos da pandemia na população de baixa renda e mais vulnerável socialmente à Covid-19 e à fome.
Mesmo diante da manifestação mais letal da pandemia em grupos como comunidades periféricas e população em situação de rua, e intensa reivindicação de organizações sociais, a Prefeitura de Curitiba ainda não elaborou e implementou um Plano Emergencial com ações integradas e dirigidas a grupos que necessitam de auxílio do poder público para garantia de alimentação e higienização, entre outros.
Outro agravante diz respeito à dificuldade crescente da população vulnerável em adquirir produtos essenciais da cesta básica durante a pandemia. De acordo com Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizada em maio e divulgada em junho, alimentos essenciais da mesa da população brasileira sofreram aumento expressivo, como a farinha de mandioca (15%), feijão-carioquinha (8%), arroz-agulhinha (5,2%), entre outros.
“Diante da política da morte e da fome operada especialmente pelas gestões federal e estadual, com parcas políticas públicas que garantam renda aos agricultores familiares e alimentos à população que passa fome, as ações de solidariedade dos movimentos sociais camponeses demonstram que nesse momento é a organização popular que prevalece nas ações de garantia à vida”, garante a Naiara Bittencourt, assessora jurídica popular da Terra de Direitos.
Comida sem agrotóxicos
Uma forte preocupação na disponibilização das marmitas é assegurar uma refeição saudável e nutritiva, condição essencial para garantir maior imunidade da população à covid-19.
Apenas em 2019 o estado do Paraná comercializou 95.286,8 toneladas de agrotóxicos (Siagro/ADAPAR). A marca o posiciona entre o segundo ou terceiro estado do Brasil que mais consome veneno no país. Em 2017, o Paraná teve 419 casos de intoxicação por agrotóxicos confirmados.
Ainda que o tema pareça distante para o conjunto da população, os agrotóxicos estão presentes no cotidiano de famílias urbanas e rurais. A partir da análise de dados de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), ligado ao Ministério da Saúde, também foi identificado que a água de 326 dos 399 municípios paranaenses está contaminada com um coquetel de 27 tipos de agrotóxicos.
Fonte: MST/Via Whatsapp.