- Mato Gosso MT 13 09 2020-Incêndio no Pantanal A Delegacia de Meio Ambiente (Dema) apura quem são os possíveis responsáveis pelos focos de incêndio, que deram início a grandes queimadas no Pantanal. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT
Por Elissandro Santana, para Desacato.info.
Todo brasileiro deveria se preocupar, chorar e protestar contra as queimadas no Pantanal, na Amazônia e no Cerrado. São vários os motivos para isso, mas apresentarei dois deles para que se entenda o que estamos perdendo com tanta destruição: o declínio da biodiversidade e a morte lenta de rios. Há outros prejuízos e déficits, mas, nestes dois, temos um efeito dominó em que as peças vão se desmontando e, ao final, o resultado é trágico, afetando não apenas a fauna destes espaços, mas a vida em toda a sua dimensão.
Com a destruição, pelas queimadas ou desmatamento dos biomas mencionados, aliás, de qualquer bioma, ainda que só parte do ecossistema se deteriore, perde-se no todo e quando isso ocorre há desequilíbrios em rede. E biodiversidade é saúde, é equilíbrio, é harmonia. Quando isso se desmorona, tudo começa a desandar, a se desarmonizar e isso deveria tirar o sono da sociedade brasileira que, de forma alienada, a cada eleição, por imaturidade ou por maldade, elege a morte em vez da vida.
Continuando a discussão: diversidade biológica é riqueza, é a manifestação latente da pluralidade da vida, dos micro-organismos, passando pela flora, pela fauna, até chegar a nós e diversidade de vida não funciona isoladamente, pois a harmonização só se dá em conjunto, no encontro, nas inter-relações, na conjugação, nas fundições das possibilidades, mas, desgraçadamente, isso tem se perdido no Cerrado, na Amazônia e no Pantanal e em outros e espaços como a Mata Atlântica e a Caatinga. Em alguns anos, estes meios naturais existirão apenas na memória tecnológica dos que aqui ficarem, se é que haverá esta possibilidade.
No caso do Cerrado, tão maltratado pela ganância do agronegócio com o suporte e aval da política brasileira, este diminui anualmente. Pior de tudo, este é o maior berço das águas, um dispersor hídrico no país e sem ele teremos escassez hídrica com a morte de rios em grande parte do território nacional.
Em meio ao caos, está a política ambiental brasileira atual, ou melhor, a ausência de uma política ambiental, também geradora de mais caos, pois esta se constrói no desprezo ao que é biodiverso (em todos os sentidos, não somente no campo específico da Ecologia) e isso gerará uma conta final a ser paga e o preço será com sangue.
O governo atual é esfacelador da vida. Comete um crime contra a vida e todos nós pagaremos por isso. Pena que os apoiadores dessa política de morte, de desmonte dos órgãos de proteção ambiental e de negação da ciência e perseguição aos povos da floresta, sejam ignorantes ou maldosos, pois, nesse momento, precisamos do apoio de todos, inclusive daqueles que cometeram o erro de eleger a morte para ocupar a cadeira da presidência.
O Brasil precisa acordar para o fato de que a biodiversidade é crucial para nosso bem-estar, para a saúde do planeta e, principalmente, para a nossa saúde, mas isso só ocorrerá se abandonarmos nossos egoísmos, reconhecermos nossos erros e formos capazes de ações em parceria e a primeira delas é ir contra a inércia ou a confusão desse governo no que diz respeito às causas socioambientais.
Precisamos nos juntar contra a destruição de nossas riquezas naturais, pois nosso futuro depende disso. Devemos levantar para esperançar o país, pois o Brasil deveria estar no caminho da conservação e, principalmente, do uso consciente dos recursos, protegendo a vida em todos os seus fluxos. Ao contrário, o país, nesses últimos quatro anos, após o golpe contra a democracia, com o apoio da mídia tradicional, do judiciário, do legislativo e do próprio executivo, só causou mais impactos à natureza, alicerçado em concepções equivocadas acerca de crescimento econômico. Nesse sentido, faz-se necessário destacar que ou aprendemos a reconhecer o valor intrínseco e extrínseco dos ecossistemas, dos biomas, ou seja, dos ambientes naturais e de seus potenciais para a vida e o nosso desenvolvimento, ou atingiremos níveis críticos de insustentabilidade sem a chance de conserto, de retorno ao ponto de equilíbrio.
Não podemos, em nossas decisões políticas, esquecer que a biodiversidade é dinâmica, vivaz e relacional e que nosso voto ajuda ou a destrói. O que é biodiverso faz parte um sistema em eterno fluxo e balanço energético, em um movimento contínuo de trocas e associações, de um lado para o outro, em um ciclo interminável que produz as fontes primárias, secundárias e terciárias de manutenção da existência e o nosso voto a cada pleito eleitoral deve levar essa noção em consideração. Com o nosso voto egoísta estamos destruindo o verde e outras cores da natureza brasileira, cavando nossos próprios túmulos na tal Pátria cantada pelo governo conservador como amada, mas que, ao fim e ao cabo, é odiada pela máquina da morte que nos governa!
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Elissandro Santana é professor, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.
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