Por Melisa Molina, Página 12.
A reunião será na terça-feira no hotel Sheraton e virão outros quatorze presidentes, entre eles Gustavo Petro, da Colômbia; possivelmente Nicolás Maduro, da Venezuela; Miguel Díaz-Canel, de Cuba; Gabriel Boric, do Chile, e Xiomara Castro, de Honduras. O primeiro a chegar será o presidente brasileiro, que chegará à Argentina na noite de domingo para fazer sua primeira visita oficial e na segunda-feira assinar um acordo estratégico com Fernández que, segundo a avaliação da Casa Rosada, será a pedra angular do novo relacionamento .que ambos os países terão. Haverá projetos de longo prazo muito ambiciosos, como gerar uma moeda comum para o comércio entre os dois países sem ter que passar pelo dólar.
Na quarta-feira, após a reunião da CELAC, o Presidente terá diferentes encontros bilaterais com alguns de seus pares, como o Primeiro Ministro de Barbados; Mia Mottley; o do Haiti, Ariel Henry; o Presidente do Conselho Europeu, Charles Mitchell; Christopher Dodd, ex-senador e conselheiro para as Américas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e do diretor-geral da FAO, Qu Dongyu.
Ele também se encontraria com Maduro e Díaz Canel. A presença do venezuelano, ao final desta nota, ainda não havia sido confirmada oficialmente pelo governo argentino. “Ele viria. Ele vem. Está tudo pronto para ele vir mas ainda não acabaram de confirmar, com certeza ele estará presente e confirmará hoje”, sustentam do potencial Governo, após uma semana em que a sua visita ao país foi alvo de ataques da oposição. O que ele confirmou é que, se viesse, seria bilateral.
A presença desses dois líderes –Díaz Canel e Maduro– e a possível assistência do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que não virá, gerou a rejeição da oposição que durante a semana anterior se encarregou de causar um escândalo por tentar boicotar a reunião repudiando e denunciando. Além de Ortega, não farão parte o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que nunca viaja – o ministro das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, virá em seu lugar -, nem a presidente do Peru, Dina Boluarte, que substitui Pedro Castillo. do jogo também. . Quem também foi simbolicamente convidado, mas que não poderá comparecer, é o presidente chinês, Xi Jinping. No entanto, uma mensagem gravada enviada por Xi seria projetada.
Finalmente, no sábado, a semana internacional será encerrada com a chegada à Argentina do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, que visitará nosso país por dois dias com uma importante delegação de funcionários públicos e empresários.
A futura presidência da CELAC
No evento, que acontecerá a partir das dez horas da manhã desta terça-feira no hotel Sheraton de Retiro, terminará de definir quem será o próximo presidente pro tempore do mecanismo. Esse é o motivo oficial do encontro, além do fato de que o objetivo simbólico e político será mostrar todas as lideranças da região unidas discutindo estratégias comuns para seus povos.
Conforme acordado, a próxima pessoa escolhida para presidir a CELAC deve ser o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, porque é hora de alguém da CARICOM presidir o espaço. Argentina e México, por exemplo, já assinaram que votarão nele. No entanto, para que isso aconteça e para que aquela ilha de língua inglesa ganhe a presidência, tem que haver o acordo de todos os membros. Se não houver uma decisão unânime, duas coisas podem acontecer: que peçam à Argentina para estender seu mandato por alguns meses até uma definição – pode ser até junho – ou que outro país queira assumir a presidência. Nesse caso, um dos interessados ??seria a Colômbia do Petro.
Este ano, um dos eventos mais importantes da CELAC será o encontro com a União Européia que acontecerá em Bruxelas, no mês de junho. Se Fernández prorrogasse o mandato, ele iria. A possibilidade de ser o Brasil, por outro lado, está quase descartada porque, apesar de Lula ser uma figura forte que daria um cunho bem interessante à Celac, ele só voltou ao espaço há algumas semanas. Além disso, os brasileiros terão a presidência do Mercosul no final do ano e ao mesmo tempo a do G20. Isso os manterá com agendas muito ocupadas em nível internacional.
Missão cumprida
Do Governo garantem que não querem continuar na presidência da Celac, como se especulava, porque o país tem muitos desafios este ano. Além do eleitoral, a Argentina tem a presidência protempore do Mercosul. Esse cargo deve ser exercido por seis meses e os seis seguintes estarão à frente do Brasil. A ideia do Itamaraty é poder ter duas presidências que sigam a mesma linha e assim fortalecer o espaço, gerando continuidade, com vistas a um futuro melhor para a região.
Perto de Fernández, eles garantem que estão orgulhosos do trabalho realizado durante este período. A Celac foi central para o presidente, que tentou se mostrar como líder da região durante sua gestão e que, graças a isso, teve contato com diferentes líderes mundiais e um lugar em fóruns muito especiais. Na Casa Rosada, eles explicaram que durante esta gestão houve mais de 70 ações e um processo de revitalização que permitiu que o mecanismo fosse colocado em lugares muito importantes como o G7.
Por último, destacaram que depois de muitos anos, os mecanismos com a UE foram reativados; com a Índia e outras foram iniciadas, como a União Africana. Se São Vicente e Granadinas finalmente conquistar a presidência, o mais provável é que a agenda esteja vinculada, centralmente, às questões da mudança climática, problema que afeta bastante as ilhas do Caribe.
O escândalo da oposição
A oposição se incomodou durante toda a semana tentando boicotar a reunião da CELAC e, além das denúncias, o bloco PRO nos Deputados apresentou um projeto para declarar Maduro “persona non grata”. Segundo a ex-governadora, María Eugenia Vidal, o fizeram “por causa da constante violação dos direitos humanos do povo venezuelano”. Mario Negri, da UCR, compartilhou uma mensagem de repúdio feita pela bancada de deputados de seu espaço.
O chamado Fórum Argentino para a Democracia na Região (FADER) também apresentou denúncia contra os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro; de Cuba, Miguel Díaz Canel; e da Nicarágua, Daniel Ortega, a quem qualificaram de “ditadores”. Entre os que assinaram a carta estavam os deputados e ex-dirigentes do PRO, Waldo Wolff, Paula Bertol, o ex-chanceler Jorge Faurie, e também radicais como Karina Banfi, Alfredo Cornejo e Álvaro De Lamadrid; os deputados do JxC Ricardo López Murphy e Maximiliano Ferraro (CC) e os jornalistas da oposição Alfredo Leuco e Eduardo Feinmann; além de Graciela Fernández Meijide.
Do Itamaraty explicam que são denúncias políticas; que a Celac não expulsa nenhum país porque é um mecanismo de diálogo, e esclareceram que não há perigo de prisões porque nenhum dos presidentes tem mandado de prisão internacional, nem alerta vermelho. Eles ainda lembraram que o ex-presidente conservador do Chile, Sebastián Piñera, deu a presidência a Cuba em 2013 e que a vice-presidente de Macri, Gabriela Michetti, participou das reuniões da Celac. “Esse é o processo de integração que mais durou na região. Isso incomoda porque eles não querem que eles se juntem”, dizem na Casa Rosada.
Outro dado desta cúpula é que o governo dos Estados Unidos enviará o ex-senador Chris Dodd. O convite era para o presidente, Joe Biden, mas o governo tinha poucas expectativas de que ele pudesse comparecer porque não existe sequer um mecanismo entre a CELAC e os Estados Unidos -eles também convidaram o presidente chinês Xi Jinping-. No entanto, Biden se mostrou preocupado e chegou a enviar uma carta ao presidente dizendo que agradecia o convite, que não poderia comparecer pessoalmente, mas que enviaria um representante.
A agenda de lula
Lula chegará ao país neste domingo às 21h. O chanceler, Santiago Cafiero, irá buscá-lo no aeroporto e, embora ainda não esteja confirmada a comitiva com que virá, é certo que virá com seu chanceler, Mauro Vieira; com o ministro da Economia, Fernando Haddad e com um de seus assessores de maior confiança, Celso Amorim.
A primeira atividade será na manhã de segunda-feira, quando às 10h15 oferecerá uma oferenda floral junto com Cafiero na Plaza San Martín. De lá, seguirão para a Casa Rosada onde terão um encontro individual com o Presidente às 10h45. Depois irão a uma reunião alargada na qual estarão, entre outros, Cafiero; o Ministro da Economia, Sergio Massa e o Embaixador no Brasil, Daniel Scioli. Posteriormente, assinarão os acordos no Salão Branco, onde também prestarão declarações à imprensa. O almoço será na Casa do Governo e também participarão os ministros que acompanham Lula e seus homólogos argentinos. Por fim, os presidentes receberão organizações de direitos humanos que, segundo disseram a este jornal, têm o objetivo de cumprimentar Lula e se oferecer para acompanhá-lo após a tentativa de golpe.
No Museu do Bicentenário, mais tarde, será realizado um encontro entre os presidentes e empresários dos dois países. Os brasileiros não fazem parte da comitiva de Lula, mas foram convidados especialmente e virão por conta própria. O evento foi organizado pela UIA argentina e UIA brasileira e a abertura estará a cargo de Fernández e da Silva. Terminada essa reunião, Lula terá algumas horas de folga. A última atividade será no Centro Cultural Kirchner, onde você desfrutará de um evento musical que contará com a presença de artistas como Lisandro Aristimuño; Nacha Guevara, Baglieto, León Gieco e Nahuel Pennisi, entre outros. Estima-se que ele ficará lá por uma hora e depois irá descansar.
Lula também marcou uma visita à vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner, no Senado, mas o horário do encontro ainda não foi confirmado. Possivelmente é a segunda-feira antes da atividade no CCK. No dia seguinte, o presidente brasileiro participará da reunião da CELAC e, na quarta-feira, viajará ao Uruguai.
Acordo estratégico
O que os dois presidentes assinarão no Salão Branco é um “acordo de integração” no qual os dois governos vêm trabalhando. Pela Argentina, além do Itamaraty, o fizeram o embaixador Daniel Scioli e Massa. Isso, explicam, será um primeiro passo, uma carta de intenções. O que virá depois disso é um trabalho intenso entre as diferentes pastas dos dois governos e seus bancos centrais. O mais importante será o acordo para o segundo trecho do gasoduto Néstor Kirchner, que com esse financiamento brasileiro ficaria pronto até junho deste ano.
Um mecanismo que permita a criação de uma moeda local também será central. “O que está assinado é um memorando de entendimento para começarmos a estudá-lo”, explicou o Ministério da Economia a este jornal e anunciou que seria uma moeda comum, e não única, porque serviria para o comércio entre países, associada a o valor do Produto Bruto e a situação dos bancos centrais do Brasil e da Argentina. Isso permitiria que o comércio entre os dois deixasse de ser dolarizado. Cada um, porém, manterá sua moeda local.