Agenda de guerra no Brasil: as ilusões são nossas inimigas

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Por José Álvaro de Lima Cardoso.

Recentemente (06.02) o jornalista Bob Fernandes denunciou a realização em São Paulo, de um evento organizado pelo FBI, tratando de corrupção, lavagem de dinheiro, fraudes e da Lava Jato. Presentes, vários chefes da organização policial norte-americana, além de empresários, investidores, advogados, do Brasil. A entrada da imprensa no evento foi proibida. Bob Fernandes comentou o evidente absurdo da situação: “imaginem: nossa Policia Federal estrelando evento como esse em território norte-americano”. Não custa lembrar que, em 2013, a presidente da República cancelou uma viagem aos EUA, porque vieram à tona os grampos da NSA do palácio Alvorada, Itamaraty, Petrobras e até o telefone pessoal da presidente.

O acontecimento revela, o que já era largamente conhecido, a relação da Lava Jato com os comandantes do golpe no Brasil e, principalmente, com o Império. É sabido e já documentado (teremos muito mais detalhes no futuro) que a operação esteve sempre em articulação com o Departamento de Justiça americano, e com as agências de espionagem estadunidenses (NSA, a CIA, o FBI). Para atingir seus intentos a operação usou todos os procedimentos ilegais possíveis: prisões arbitrárias, vazamento seletivo de delações de criminosos, desrespeito à presunção de inocência, escuta telefônica ilegal da presidenta da República. Incendiaram a opinião púbica, contra pessoas delatadas, espalhando o ódio na classe média manipulada, com a conivência do STF.

O site Wikileaks, que publica documentos internos do governo dos EUA, divulgou que, em outubro de 2009, o Departamento de Estado daquele país realizou um seminário de cooperação, que contou com a presença de membros da Polícia Federal, Judiciário, Ministério Público, no Rio de Janeiro. Deste seminário, (“Projeto Pontes: construindo pontes para a aplicação da lei no Brasil”), participaram promotores e juízes federais dos 26 estados brasileiros, além de 50 policiais federais de todo o país. A delegação do Brasil era a maior do grupo, que tinha membros de vários países latino-americanos. Segundo o material divulgado pelo Wikileaks, que alguns blogs no Brasil divulgaram, os policiais americanos ensinaram aos aprendizes do Brasil e demais países, técnicas de investigação nos casos de lavagem de dinheiro, confisco de bens, métodos para extrair provas dos acusados, negociação de delações premiadas, uso de exame como ferramenta, etc. Este evento mostrou, mais uma vez, o descuido das autoridades brasileiras com interferências deste tipo, tão mais graves porque vindas do país mais imperialista do mundo. O evento, possivelmente, levou à criação da Força Tarefa Lava Jato.

Em fevereiro de 2015, o então procurador geral da República, Rodrigo Janot, e um grupo de procuradores da força-tarefa responsável pela Operação Lava Jato, foram aos Estados Unidos trocar informações com autoridades americanas sobre as investigações das fraudes na Petrobras. Os procuradores realizaram reuniões com o Departamento de Justiça, o FBI, o Banco Mundial e na OEA (Organização dos Estados Americanos). Todas estruturas de controle da informação e dominação utilizadas pelo imperialismo. Essas são informações oficiais, possivelmente uma série de encontros foram realizados de forma sigilosa. Se o golpe não fosse uma tragédia gigantesca, essa seria uma piada pronta. Os procuradores foram tratar do problema de corrupção na Petrobrás com representantes do país que é, de longe, o mais corrupto do mundo. Como está fartamente documentado, os EUA usam todos (TODOS) os recursos possíveis e imagináveis, financiando golpes e comprando governantes no mundo todo, para acessar riquezas e matérias-primas e conservar sua hegemonia (que, aliás, se encontra em crise).

Sérgio Moro e Rodrigo Janot (até o final do seu mandato) atuaram sempre em parcerias com órgãos dos Estados Unidos. Fato que não fazem muita questão de esconder. Recentemente, em novembro de 2017, Moro impediu mais uma testemunha de responder perguntas sobre a ligação entre a Lava Jato e os Estados Unidos, alegando que não iria colocar em risco um acordo de delação do interrogado com autoridades americanas por um “mero capricho” da defesa de Lula. Tudo indica que foi montado um acordo informal com o Departamento de justiça dos EUA, para “exportar” delatores, sem a participação do Ministério da Justiça brasileiro.

O golpe visa a destruição do Brasil enquanto nação soberana. Daí o fato de que não apenas e matérias primas e empresas estão sendo entregues ou desarticuladas, mas principalmente as possibilidades de geração de pesquisa e conhecimento está sob ataque inusitado. Razão pela qual estão destruindo a Universidade Pública, a pesquisa, a ciência, e a inovação. Os objetivos dos entreguistas que assaltaram o poder é transformar o Brasil numa espécie de proterado dos EUA. Por isso a entrega de todos os ativos estratégicos para as empresas estrangeiras, tanto para a economia, quanto para a segurança nacional: campos bilionários do pré-sal, usinas hidrelétricas, terras férteis, parte da Amazônia, companhias de água e saneamento, Casa da Moeda, etc.

Estão implementando, com determinação e rapidez uma agenda de guerra no Brasil. Um dos objetivos centrais da referida agenda é impedir a retomada da industrialização e internacionalizar ainda mais a economia brasileira, tornando o país uma plataforma de matérias primas das multinacionais. A ideia dos estrategistas do golpe, ao que tudo indica, é destruir o que existe de público e estatal como empresas estatais estratégicas, seguridade social, ensino público e gratuito, saúde pública, previdência social. É também uma política de assalto à renda e as condições de vida do povo brasileiro. Mas o conjunto de maldades que está sendo encaminhado contra o povo e contra o país, está só começando, vem muito mais coisa por aí.

No dia 1º de fevereiro, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, sugeriu a possibilidade de um golpe militar na Venezuela. Segundo ele “na história da Venezuela, e dos países sul-americanos, às vezes os militares são o agente da mudança quando as coisas estão ruins e a liderança não serve ao povo”. Essa foi a manifestação de um secretário de Estado do país que lidera o golpe no Brasil, e que vem perpetrando golpes mundo afora, com a ajuda de militares ou não. Com um detalhe: os EUA sabem que a tentativa de golpe na Venezuela enfrentaria uma firme resistência, que inclusive vem sendo preparada pelo governo. Aqui, se preciso for, irão continuar tentando dar uma fachada de legalidade ao golpe. Mas se houver necessidade, dependendo da reação da população à implantação da agenda de guerra, podem dar um golpe e instalar uma ditadura militar. A essa altura dos acontecimentos, a partir das peças que já estão postas no tabuleiro, as ilusões que ainda existem quanto à essa possibilidade, mostram porque tomamos o golpe de Estado sem reação à altura.

José Álvaro Cardoso é economista.

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