Por Paulo Moreira Leite.
Não há nada a se lamentar nos 5 a 0 da primeira turma do STF, que transformou Aécio Neves em réu por corrupção.
Num país onde a democracia é um regime em construção, Aécio foi o aventureiro que assumiu a liderança do golpe de 2016 na primeira fase, quando tentou bloquear o segundo mandato de Dilma Rousseff e, mais tarde, promover um impeachment sem crime de responsabilidade que atirou o país no abismo em que se encontra.
Não há nada a comemorar, porém. Aécio foi derrotado num julgamento era um bagaço sem suco. A decisão representa um novo passo na consolidação de um regime de exceção, obra da primeira turma do STF cuja principal estrela intelectual é Luiz Roberto Barroso, uma das principais vozes na construção de um estado judicial no país. Dois dias antes, em Harvard, Barroso fez um pronunciamento de avestruz diante de notórios sinais de mobilização e indisciplina militar no país.
“Eu era um militante contra o regime militar e me opus fortemente a ele, mas, se há uma parte do Brasil que não deu nenhum problema nos últimos 30 anos, foram os militares”, disse Barroso, em Harvard. “
“Não há razão para temê-los” e “duvido que eles queiram estar lá de novo”acrescentou Barroso, para afirmar, um pouco adiante: “O que você pode sentir é que os militares, como todo mundo no Brasil, estão preocupados e querem mudar as coisas para melhor. Como eu também”, avaliou.
A derrota de Aécio Neves ocorre nesse ambiente inglório, num filme onde não há mocinhos para aplaudir.
Em retrospecto histórico, ele assume o lugar do lamentável Adhemar de Barros, duas vezes governador de São Paulo e um politico lendário da política brasileira na segunda metade do século passado. Duas vezes governador de São Paulo, Adhemar foi um dos principais articulares civis do golpe contra o governo Goulart, em 1964. Com auxilio da mulher, Leonor Mendes de Barros, coube-lhe organizar a Marcha com Deus pela Família pela Liberdade. Dois anos depois, acabou cassado pelos militares, acusado de corrupção. Desmoralizado pela própria incoerência, não encontrou com o defendesse.
Deixou padrão de político associado ao lema “rouba mas faz”. Ao menos na conjugação do segundo verbo, foi mais ativo do que Aécio, em função de uma coleção de obras públicas importantes na época, como o Hospital das Clínicas, a Via Anchieta, o primeiro projeto do metrô paulistano, de indiscutível relevância para a população do Estado, o que explica o aparecimento de algo conhecido como “ademarismo”.
Como ocorreu com Adhemar em 1966, Aécio deixa a política pela porta dos fundos, como um homem público que não esteve a altura de suas responsabilidades nem foi capaz de responder as oportunidades raras que recebeu, como neto de Tancredo Neves, um dos grandes políticos brasileiros do século XX.