Por Paloma Vasconcelos.
Mãe da vítima conta que ele tentou pular a catraca e foi espancado por 7 funcionários da CPTM; ‘Eles não me bateram, eles me torturaram’, disse o filho à mãe
“Mãe, eles não me bateram, eles me torturaram”. Foi assim que uma mãe recebeu a notícia de que o filho de 16 anos havia sido espancado por 7 seguranças quando tentou entrar na estação de trem sem pagar a passagem.
O caso aconteceu na estação Corinthians-Itaquera da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), na zona leste de São Paulo.
Segundo relato da mãe do estudante, que teme represálias e pediu para não ser identificada, o filho tentou pular a catraca quando foi impedido por uma funcionária por volta das 18h da sexta-feira (25/10). Em seguida, ele comprou um bilhete para ter acesso ao trem quando foi surpreendido pelos seguranças. “Depois que eles entraram, os guardas foram na direção deles, um grudou em um braço e outro grudou pelo outro braço. Depois mais cinco guardas apareceram e levaram ele para uma sala”, detalha.
“Lá, mandaram ele tirar a roupa. Bateram nele, mesmo caído no chão chutavam e davam murros no corpo dele todo, incluindo na cabeça. Tinha um ferro nessa sala e mandaram ele encostar nesse ferro enquanto davam socos na cabeça dele, fazendo com que a cabeça batesse no ferro. Depois de tudo isso, fotografaram ele. Mandaram ele colocar a senha do celular e vasculharam tudo. Quebraram as sete correntes de prata que ele tinha, quebraram todas”, continua a mãe.
Assim que o filho chegou em casa, a mulher voltou com ele na estação de Itaquera para questionar os seguranças. “Chegando lá, eles ignoraram a gente, nos trataram mal, foram bem arrogantes. Falaram que todos os dias acontecia aquilo com ‘os meninos deles’. Ele [o homem que se apresentou como responsável pela segurança] chama os funcionários de ‘meninos’. Esse funcionário riu da minha cara e disse que eu podia procurar a minha providência porque eu não ia ganhar nada. Esse que se dizia responsável pelos seguranças teve que tirar um dos seguranças que veio para cima da gente, querendo bater em mim, na minha filha e no meu filho. E ele ficava falando ‘chamou a mamãezinha, é?’”, relata.
Em seguida, a mulher chamou a polícia. Mas, ainda segundo ela, os policiais só chegaram por volta da 1h da manhã do sábado (26/10). “Fomos para a delegacia, mas não tinha delegado de plantão. Aí mandaram a gente para outra delegacia, que era mais próxima de nossa casa e que estava funcionando. Chegando lá tinha delegado, mas não podiam atender porque tinha muitas ocorrências”, relata.
No dia seguinte, no sábado, o jovem foi novamente até o 50º DP (Itaim Paulista) acompanhado da irmã mais velha para registrar um boletim de ocorrência por lesão corporal. As investigações serão feitas pelo 65º DP (Artur Alvim).
A Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio (CDHEP), que acompanha o caso ao lado da Amparar (Associação de familiares e amigos de presos), divulgou uma nota de repúdio ao episódio e criticou a atitude dos seguranças da CPTM. “As fotos demostram a brutalidade com que os representantes da CPTM agrediram o adolescente. Tortura é crime e não vamos nos calar até que a CPTM se responsabilize por isso”, diz nota.
“Sabemos que este não é um caso isolado, mas a coragem da mãe do jovem possibilitou que ela procurasse a Railda, da Amparar, e juntas vamos lutar por justiça. Escravos do capital e diante de um micropoder atribuído a eles, estes seguranças explicitam o ódio pelo jovem, negro, pobre e morador da periferia. Se colocam no lugar do patrão, esquecendo o quanto são oprimidos pela mesma lógica que oprimem”, conclui a Rede de Proteção.
Por causa das agressões, a mãe do adolescente conta que o filho está traumatizado. “Ontem ele ficou o dia inteiro deitado, não levantou para nada. Ontem de noite ele me perguntou: ‘Mãe, e amanhã, o que eu vou fazer?’. Ele ficou muito nervoso, suando muito”, relata.
Em nota enviada à Ponte, a CPTM confirma que o jovem de 16 anos foi abordado pelos seguranças e informa que está levantando as imagens do circuito interno para verificar o caso. A CPTM também anuncia que vai abrir investigação para apurar os fatos.
“Caso seja comprovada a agressão, a empresa deve tomar as medidas legais aplicáveis nesta situação, como o afastamento e a demissão dos envolvidos. A CPTM não admite e não compactua com casos de violência. Segundo informações preliminares, um vendedor ambulante tentou invadir a Estação Corinthians-Itaquera sem pagar pela passagem e foi impedido pelos empregados da empresa”, diz nota.
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