A crise mundial atual é muito grave, pois combina: 1.crise econômica mundial inusitada; 2. Brasil vindo de três anos de estagnação, após dois anos de brutal recessão (2015/2016), situação muito piorada por um golpe de estado; 3.uma pandemia que já é a mais grave do último século; 4.crise política dramática. A crise econômica mundial, acelerada pela covid-19, é comparável à Grande Depressão de 1929 em termos de intensidade, com a diferença que a disseminação do impacto sobre a economia está ocorrendo muito mais rapidamente do que na década de 1930.
A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é que o PIB da economia global cairá 3% em 2020. Para termos uma ideia do significado dessa previsão, a recessão ocorrida na crise de 2008, significou um recuo do PIB mundial de 0,1% em 2009, praticamente um crescimento nulo. Pode-se imaginar o que um recuo de 3% na economia significará para o emprego e para a renda dos mais pobres no mundo. Num dos cenários projetados pelo FMI, as medidas de combate à crise do coronavírus, poderão ser estendidas até 2021, evitando assim um colapso ainda maior da atividade econômica, caso se interrompa os cuidados com a doença, antes da hora adequada.
O FMI prevê também uma queda de volume no comércio internacional de 11%, neste ano, com derrubada geral dos preços das commodities. Boa parte dessa queda está sendo puxada pelo petróleo, que, além de ter grande peso entre as commodities, sofreu uma queda brutal em suas cotações. No caso do barril WTI, referência para o mercado americano, tem apresentado inclusive cotação negativa. A previsão do Fundo é de uma queda no preço do petróleo de -42% em 2020, devido à baixa demanda global. É bom lembrar que o FMI apresenta este quadro a partir de uma série de variáveis verificadas no momento, isto é, a situação pode ser ainda pior, a depender da duração da pandemia.
As economias avançadas liderarão a queda do PIB em 2020, com a contração da economia podendo chegar a 6,1%, segundo estimativas do FMI. O maior declínio está sendo esperado para a Área do Euro (-7,5%), em função da gravidade da pandemia na Itália e na Espanha, principalmente. O PIB deverá cair fortemente também no Reino Unido (-6,5%), EUA (-5,9%) e Japão (-5,2%). A situação é dramática: a Alemanha deverá apresentar neste ano a pior recessão do pós-segunda guerra mundial. O desemprego em abril aumentou 13,2%, a primeira vez no pós-guerra que a taxa de desemprego cresce durante o mês de abril. Este é o mês de início da primavera no Hemisfério Norte, período no qual tradicionalmente o mercado de trabalho amplia as vagas. Segundo informações do Ministério do Trabalho Alemão, o número de desempregados aumentou em um ano em 415 mil trabalhadores. O PIB alemão deve cair mais de 6% neste ano, o que afetará toda a economia da Zona do Euro, em função do peso da economia alemã.
A crise atingiu o mundo todo, como vimos. Mas nos países subdesenvolvidos e atrasados a crise se propaga nas várias dimensões:
1. Choque sanitário decorrente de sistemas de saúde pública, destruídos ou inexistentes;
2. Choque econômico, com redução do mercado interno e colapso da demanda externa em função da recessão global;
3. Deflação dramática dos preços das commodities
4. Fortes depreciações cambiais.
A previsão do FMI para as economias subdesenvolvidas (que a instituição chama de emergentes) é de queda de 1% do PIB neste ano. Para o Brasil, no entanto, a previsão é de um recuo de -5,2%. Taxa semelhante à prevista pelo Banco Mundial para a variação do PIB do Brasil neste ano, de -5%. É possível que esse desempenho esperado do Brasil, abaixo da média latino-americana, esteja relacionado ao fato de que toda essa situação acontece no momento em que o Brasil possui o pior governo da história. O mais entreguista, antinacional e inimigo do povo que o Brasil sequer imaginou ter. Em função dessa combinação sinistra, que se pode qualificar de “tempestade perfeita”, há previsões abalizadas de o Brasil pode se tornar rapidamente o epicentro mundial da pandemia.
A China, que tem sido o motor da economia mundial, tem previsão de crescimento do PIB de 1,2% para o ano. Se a previsão se concretizar, será o pior crescimento do PIB anual do país desde a recessão de 1976, há 44 anos. Faço aqui um raciocínio elementar: se a China, que tem a economia mais dinâmica do mundo – e é um país que deu uma aula de como se enfrenta uma pandemia – teve o pior trimestre da história em termos econômicos, o que pode acontecer com o Brasil, que, além de vir de uma crise econômica prolongada, em termos relativos é o pior exemplo de enfrentamento da doença do mundo?
José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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