Acorda Brasil, manifestações descontroladas cheiram a golpes na América Latina

Por Nuno Nunes*.

Foto: reprodução do site Basta Brasil.

BastaBrasil

“O Brasil acordou!”, é o que trazem as capas de jornais e é reproduzido pelas Tvs. Importa saber se o “acordar” quer dizer “levantou” ou “entrou em acordo”.

Não é segredo que o Departamento de Estado Norte Americano apoiou o que chamamos de Primavera Árabe. O Yanques (poderia chamar americanos, mas o povo estadunidense não merece as críticas aqui expostas, e sim seus governantes) financiaram a formação de grupos e líderes nos países do oriente médio para iniciarem o caos que culminou com a queda dos governos (mesmos governos implantados pela liga pós II Guerra Mundial com a queda do Império Otomano), por meio do MEPI – Iniciativa de Parceria do Oriente Médio.

Em abril de 2013, o atual Secretário de Estado Yanque, John Kerry, durante um discurso ante o Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, e seguindo a velha Doutrina Monroe, sem se importar com a soberania dos países latino-americanos, considerou os países da América Latina como seu “quintal” e acrescentou que planeja mudar a atitude de algumas dessas nações. Agora, junho de 2013, temos as manifestações nas ruas seguindo os mesmos padrões da Primavera Árabe: o lema “saímos do Facebook!”.

Mas onde isso começou? Como não percebemos? Bem, a lógica não seria bem esta, pois percebemos sim e inclusive nos alegramos com a arma que apontava para nossas cabeças. Como?! A manifestação estava sendo chamada todos os dias na tela da TV.

A FIAT lançou uma campanha que circula ainda em rede nacional, em que usaram a voz de Marcelo Falcão d`O Rappa, chamando todos os brasileiros com “Vem pra rua”. Ah, mas isso é diferente, pois é marketing para a Copa, diriam alguns analistas. Pois bem. Falcão e O Rappa são símbolo nacional da resistência negra em favelas, da cultura do guetto. Bastou apenas colocar repetidamente a música no ar com as imagens fortes de brasileiros vibrando energicamente pelas cores do país, para criar a vontade de, literalmente, ir para as ruas.

Soma-se a isso a atividade no Facebook de “empresas” de marketing digital que, ao modelo da Primavera Árabe, financiadas por recursos das organizações conservadores brasileiras que buscam derrubar o poder estabelecido por coalizões, estas encabeçadas pelo PT, das quais a direita decidiu ficar fora e se chamar de oposição. Entre as empresas temos Basta Brasil, Bem Comum Brasil, e organizadores do Dia do Basta, movimento que chamou manifestações em abril de 2013 em todo Brasil, e continua contratando agentes (veja em http://www.brasilcultura.com.br/sociologia/relato-de-como-descobri-os-infiltrados-nos-movimentos-do-mpl-pelas-ruas-do-brasil-artigo/).

Este tipo de movimento surgiu não com a direita conservadora brasileira, nem com nenhuma direita global, mas (surpreenda-se) foi inventado por indígenas no México. O Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN, levantou-se em 1994 baixando as montanhas do sudeste mexicano em direção às cidades, implementando as Juntas de Bom Governo, com mais democracia e respeito à tradição indígena. Por que fizeram isso? Na época o EUA, México e Canadá assinaram o NAFTA – Acordo de Livre Comércio -, que previa a construção de uma rodovia sobre território indígena zapatista, sem incluí-los no projeto. Os indígenas insurgiram contra tudo que aquele acordo representava: a globalização. Sua forma de manifestação após a ocupação das ruas das cidades foi a internet, lançando seu manifesto via rede para todo o mundo, onde explicavam os motivos e pediam apoio, que foi atendido com fechamento de várias rodovias pelo mundo perfazendo o movimento globalizado de resistência à globalização. O cume disso foi o surgimento das Batalhas de Seattle e Gênova, que ganharam força denunciando as elites globais e suas reuniões no Fórum Econômico Mundial, que com a união dos movimentos sociais surgiu o Fórum Social Mundial.

Ainda, a máscara usada nas manifestações, seguindo a moda dos Occupy, e no Movimento Anonymous, foi inspirada no Filme “V de Vingança” (Warner Bros, 2006). Alan Moore, autor dos quadrinhos que inspiraram o filme, não gostou da manipulação feita pela corporação cinematográfica no roteiro para o filme, que descaracterizou mensagem anarquista original, para uma versão que interessava aos promotores da Nova Ordem Mundial que, para ser implementada, necessita do caos.

Os Yanques e sua rede governamental, a elite global e seus impérios, eternos golpistas, resolveram adaptar suas metodologias de guerra de ocupação como Vietnam, Afeganistão e Iraque, aos moldes do que já tinha ocorrido no Irã na década de 70, quando buscaram incentivar manifestação do povo contra a revolução islâmica de Khomeini, comprando organizações e partidos, que foi descoberta e rechaçada pelos iranianos. O fato está na memória diária dos iranianos para evitar intervenções internacionais. Porém, no Brasil, nossa história é repleta de intervenções internacionais, das quais, o povo brasileiro virou mestre em sobreviver simplesmente aceitando a pobreza da senzala em nome das migalhas da casa grande. Mas isso foi mudando na última década, deixando de fazer parte da linguagem comum o sagrado “pelo menos estamos vivos”, no sentido “deixem roubar nossos pertences, pelo menos nos deixam nossas vidas”.

Com o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, programas federais criticados pelos conservadores, o povo brasileiro viu que não precisa possuir apenas sua vida e passou a proteger seu patrimônio. O Bolsa Família foi a maior estratégia de ocupação territorial e segurança nacional já adotada, pois nos longínquos rincões em que ninguém queria morar e as fronteiras ficavam à mercê de invasores, sem proteção nem do exército, agora temos cidades que começaram a ser erguidas com uma agência da Caixa Econômica Federal, que possibilitava o pagamento do Bolsa Família. Depois vinham comércios interessados no recurso do Bolsa Família, e com os comerciantes surgiram escolas, universidades, acesso a rodovias, à informação, e melhoria de vida para o povo. Porém, agora chegou o momento da ciumeira bater nos conservadores, pois seus partidos muitas vezes não tem membros para alcançar estas cidades em expansão. Como assim? Não há PSDB nem DEM? Calma, não é apenas isso.

Falamos aqui no governo secreto que desde a vinda dos europeus para este continente, tem arquitetado quem manda e quem não manda, justamente à mando de famílias mandatárias. Isto que parece uma cacofonia, se expressa na mais pura realidade quando se vê municípios fora da órbita das maçonarias. (“Não acredito que ele vai falar disso”, pensam alguns leitores.) Mas qual o problema de encarar a realidade? Um governo oculto se existe, está descumprindo a Lei 12.527 de 2011, de acesso à informação. Globalmente, estes eventos particulares, se assim pode-se chamá-los, são comuns, tendo em vista as reuniões anuais do Clube Bilderberg, que ocorreu este ano na Inglaterra, contando com a participação de líderes e empresários europeus e norte americanos, que discutem temas que importam a todos, onde apenas algumas figuras são convidadas (ver http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/bilderberg-2013-custeada-pela-goldman-sachs-outros-benemeritos ehttp://www.bilderbergmeetings.org/index.php).

Muitas decisões importantes deste país, e de outros também, são tomadas dentro das paredes de Lojas Maçônicas, Igrejas, Fraternidades, etc. O que o PT fez ao longo de sua história, foi levar esta lógica de tomada de decisões para uma instância fora das paredes, nos Conselhos Eclesiais de Base, nos Movimentos Sociais, nos sindicatos, em que a decisão ainda que tomada pelas elites nacionais, tinha a força do povo opinando, por mais que timidamente, mas o grão estava sendo plantado. Assembleias de Orçamento Participativo viraram febre nas prefeituras do PT, introduzindo o poder representativo e deliberativo das organizações civis, os beneficiados, que definiriam qual obra seria instalada, seja estrada, casas populares, etc. Os Planos Plurianuais (PPA), também foram amplamente debatidos. Saíram todos felizes, os empreiteiros com seus recursos públicos e os bairros pobres com suas obras mais que necessárias. Assim, as fraternidades construtoras, como a maçonaria, em paz com o povo beneficiado, empregado e com esperanças. Esta lógica afastou o Brasil da crise do capitalismo global, carente de investimentos reais que gerem emprego e renda à população. Mega-empreendimentos como Hidrelétricas e rodovias também beneficiam à população, investidores e construtoras, estas que financiaram maciçamente as campanhas eleitorais neste país, e estenderam seus braços para a América do Sul, pelo irmão mais velho do PAC, o IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana, com recursos do BNDES.

Mas aí vem os gringos de novo, como em 1964, não admitindo concorrentes, reorganizando as Ordens Secretas. John Kerry, como dito acima, já voltou seu arsenal manipulador de redes sociais contra seu “quintal”: nós. E agora buscam romper as alianças feitas no Brasil para criar uma Primavera, ou nebuloso inverno, dividindo movimentos e colocando brasileiros uns contra os outros. Peguemos como exemplo a bancada evangélica e suas ações retrógradas, acompanhadas pela massa de Igrejas/Empresas com fiéis que reproduzem o que o Pastor/Político prega, diretamente alinhados com Evangélicos Yanques Republicanos. Ou a recente manifestação de agricultores contra indígenas e FUNAI, por conta das demarcações de Terras Indígenas prevista na Constituição Federal. Os agricultores podem até vencer hoje, mas amanhã serão eles os expulsos de suas terras pelo agronegócio que os utiliza para ampliar fazendas de transgênicos. Ou nos esquecemos que Cargil, Bunge, etc, são as fornecedoras das sementes, e que os agricultores são nada mais que arrendatários de terras para o agrobusinnes. Estas são nada mais que experiências que seguem no Brasil, intervencionistas buscando engendrar no âmago desta sociedade um “inimigo”, tendo em vista que não há aqui “terroristas” da Al-Qaeda. (Talvez com este texto eu mesmo seja enquadrado como “terrorista”, não? A criatividade é irmã da liberdade.)

Sem querer alongar demais, sugiro que antes de sair às ruas ou curtir manifestações no facebook.com, busque entender quem está por trás delas, e quais seus interesses. Permaneça acordado, desperto, e não seja manipulável. O “acordo” (sem interesse aqui em nacionalismos), é que vivamos bem e proporcionemos isso aos nossos vizinhos, amigos, nobres desconhecidos, e não um “acordo de irmandades secretas”, que disputam pelo controle dos três Poderes do país. A participação popular não é apenas como espectadores de uma guerra entre PDSB e PT, que estão em campanha declarada para eleições em 2014, de onde surgem novos atores como a bancada evangélica e bancada ruralista, com seus candidatos em teste. As manifestações são válidas, têm seu projeto próprio que cabe a cada um definir e reivindicar. O Movimento Passe Livre é um exemplo de força por que sabe o que busca. Eu também vou sair às ruas, com certeza, mas minha placa será clara: “Fora de nosso quintal, Yanques. 2014 não será um novo 1964!”.

*Nuno Nunes é filósofo, escritor e mestre em Educação e Comunicação.

2 COMENTÁRIOS

  1. Olá Danusia, gostei da sua observação sobre o uso pela midia do MPL. Quanto à Belo Monte, desculpa se não fui claro, mas sou COMPLETAMENTE contra. A geração de energia em Belo Monte, se substituida por Energia Solar, usaria apenas 4% da área alagada com placas solares, e geraria energia de 11G durante o ano todo. O que quis dizer no texto é que as mega construções de cimento estão sendo feitas para pagar campanhas eleitorais, que foram financiadas pelas empreiteiras e cimenteiras. Isto é, a mesma elite que lucrou construindo Brasília com dinheiro público.
    Para contribuir ao artigo, sugiro a leitura da notícia http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/06/1300963-premie-turco-reafirma-que-protestos-em-seu-pais-e-no-brasil-sao-fruto-de-conspiracao.shtml
    Grato, Nuno Nunes

  2. “O Movimento Passe Livre é um exemplo de força por que sabe o que busca”. discordo COMPLETAMENTE. eles estão sendo usados pela mídia PIG e estão se achando. por que não fizeram isso no governo do kassab? MPL não me engana.

    fora isso, gostei do texto. com exceção do apoio velado à belo monte – que também sou totalmente contra.

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