O devastador incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro escancarou o total descaso do poder público para com a cultura, ciência e pesquisa. A destruição da história, a perda de documentos, obras de arte, pesquisas e acervo seculares deixam marcas profundas e requerem de fato medidas imediatas para que mais desastres como esse não se repitam.
O jornal O Estado de S. Paulo mostrou recentemente o nível de deterioração no Museu Paulista, que é facilmente visível já do lado externo. Fechado desde agosto de 2013, após parte do forro ceder mais de 10 centímetros e pedaços do reboco da fachada caírem, até hoje está no aguardo de restauração, com promessas de que sua reabertura ocorra em 2022.
A procuradora da República Suzana Fairbanks, responsável pelo inquérito civil público para apurar a regularidade das medidas adotadas e projetos para recuperação do conteúdo museológico do Museu da Língua Portuguesa, destruído também por um incêndio, ocorrido em 21 de dezembro de 2015 foi quem decidiu abrir também investigação para averiguar a situação dos demais locais, afirmando que “os bens tombados da investigação precisam de imediata atenção, pois podem se encontrar em situação análoga à do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e à do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, tendo em conta a notícia de problemas estruturais em suas instalações e em seus equipamentos de segurança”, disse, em nota da instituição enviada à imprensa.
E como artistas, pesquisadores e trabalhadores de espaços culturais já sabem, o descaso com o equipamento público de cultura, acervo e pesquisa não se restringe a capital. Alguns dos principais museus públicos do interior de São Paulo não estão sequer protegidos contra incêndios. Muitos tem como sede prédios centenários, com condições precárias e nada adequadas, como por exemplo, fiação aparente. que abrigam é em grande parte material de fácil combustão, como telas a óleo, documentação em papel além de pisos e mobiliário de madeira.
O MPF afirma ainda que tais edificações são tombadas ou estão em processo de tombamento pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O órgão destaca que a imprensa mostrou graves problemas estruturais e ausência de auto de vistoria do Corpo de Bombeiros.
Não se trata de um problema atual ou de uma gestão específica. Há muito a cultura é relegada a um lugar de quase invisibilidade, já que interessa apenas aos capitalistas manter seus lucros a qualquer custo, e obviamente, uma população que tenha acesso a sua história, que tenha direito a cultura, a arte e as produções que fogem à lógica de mercantilização e fragmentação de pensamento e mais, de aniquilação de um posicionamento crítico ao capitalismo, não interessa ao governo, sobretudo o governo golpista que vem a cada dia aprofundando seus ataques.
Para edificação de novas bases, de uma nova sociedade, é preciso surgir também uma nova cultura, que tem em suas raízes a história do povo negro, das mulheres e dos trabalhadores e suas lutas. É preciso que a cultura seja um direito, que nossa história não mais seja apagada pelo descaso e a degradação do capitalismo e sobretudo, que não seja mais tratada como mera mercadoria.