A vocação latino-americana da UNILA e o futuro do Brasil

Treinados na arte de admirar o alheio e menosprezar o próprio, as classes dominantes brasileiras nascem para perpetuar o colonialismo e a dependência. Há, no entanto, evidente contraste entre a conduta das elites e o comportamento do povo brasileiro que sempre manifesta enorme identidade com a cultura e movimento dos povos dos países da América Latina. Até mesmo a Constituição de 1988, feita a imagem e semelhança dos interesses da classe dominante, estabeleceu em seu primeiro capítulo, artigo 4 e parágrafo único, o reconhecimento desta identidade profunda que existe entre nós:

A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

O postulado constitucional, no entanto, é sistematicamente anulado pela ação dos sucessivos governos nas mais distintas áreas de atuação. Os currículos escolares, a proteção ambiental da Amazônia, a geopolítica ensinada na diplomacia, a estratégia de defesa, a educação, entre outras áreas, sempre sofreu sabotagem sistemática da ação governamental.

No entanto, o despertar dos povos latino-americanos em luta pela Segunda Emancipação angariou imensa simpatia em nosso país. Agora, ao contrário de outros tempos, milhões de brasileiros percebem a importância da integração latino-americana como um fator de poder para nosso futuro comum.

Nas poucas iniciativas que tivemos no Brasil, a constituição da UNILA, fundada tardiamente em 2010, representou tímido passo brasileiro na afirmação de nossa vocação e identidade latino-americana. No entanto, a experiência da UNILA esteve submetida às limitações orçamentárias que jamais permitiram sua plena realização. Ademais, as sucessivas reitorias daquela valiosa instituição nunca conseguiram materializar a vocação fundadora num exemplo nacional em favor da latino-americanização da cultura e do saber nas demais universidades brasileiras.

Não bastassem estes antecedentes, um deputado representante do latifúndio, mencionado em gravações originadas na Operação Lava Jato, apresentou projeto para liquidar a experiência pioneira da UNILA e transformá-la numa universidade como tantas outras. É evidente regressão intelectual e política. Trata-se de iniciativa destinada ao isolamento do Brasil dos demais países da região, ação que enfraquece nosso país diante das potencias dominantes, especialmente dos Estados Unidos. Enfim, tudo que nos une, não nos divide. Tudo que nos afasta, debilita a luta comum pela soberania de todos.

Por esta razão, o Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), manifesta sua completa inconformidade com a iniciativa parlamentar destinada a liquidar o projeto originário da UNILA, uma experiência que necessita cumprir cabalmente sua função para enriquecer a vida universitária brasileira em consonância com as necessidades nacionais de estudar, intercambiar, fortalecer econômica, política e socialmente a integração latino-americana. A UNILA precisa existir e se revitalizar porque existe um vivo interesse na sociedade brasileira em conhecer e realizar projetos de toda natureza com os demais países da região. A eventual alteração de seu projeto original somente pode realizar-se na direção de aprofundar sua vocação latino-americanista e, também, no sentido de abrir novos caminhos para a formação de uma comunidade latino-americana de nações estabelecida pela constituição vigente e amparada nas necessidades de amplos setores sociais que reconhecem o valor estratégico da integração para afirmar nosso interesse coletivo num mundo cada dia mais hostil e conflituoso.

O Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), o primeiro do gênero na universidade brasileira, exclusivamente voltado para o estudo de nossa realidade comum, repudia a iniciativa do parlamentar vinculado aos interesses dos latifundiários e reafirma a necessidade não somente da existência da UNILA, mas, sobretudo, da urgência da afirmação de seu projeto original.

Reconhecemos também neste ataque uma oportunidade para a comunidade universitária da UNILA avançar na superação das limitações estruturais que a manteve cativa até o momento e retomar a iniciativa política e intelectual para iniciar uma vida plena, cada dia mais forte e integrada na universidade brasileira a partir de suas características próprias.

Assim, o IELA se alia aos professores, técnico-administrativos e estudantes que lutam pela renovação da proposta da UNILA, pelo aprofundamento da integração e pela construção de uma casa de saber capaz de apontar caminhos que levem a uma comunidade de nações que seguiremos chamando de nossa Pátria Grande.

Fonte: IELA.

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