Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info
Mais de uma vez disse publicamente que uma morte sem sentido é uma derrota da civilização. Uma morte, sim, apenas uma. Então, as 300 mil que esperávamos de mãos amarradas, sentenciadas por um bando de cretinos, não são apenas uma derrota da civilização, são a destruição mesma da condição humana.
Nenhum ato simbólico de rua, nenhum conjunto de palavras, nem o melhor dos oradores vai ressuscitar milhares de brasileiros e brasileiras que morreram, de forma desnecessária, a mãos de um vírus associado a um bando de delinquentes políticos e sociais que depredaram o país, sua gente, sua natureza, sua fauna, sua saúde pública e sua economia.
Talvez a vitória que, ops! a “justiça teve no judiciário” com a suspeição do serviçal dos Estados Unidos, Sérgio Moro, não seja outra dessas vitórias de Pirro, que depois pagamos com mais sangue e derrota. Vitória esta que veio seguida pela breve farsa televisada do presidente, sonoramente ecoada por um panelaço monumental. E continuada, já sem espanto, pela óbvia comprovação de que muitos empresários se vacinaram às escondidas, enquanto recomendavam cloroquina às suas vítimas.
Este Brasil B. é uma afronta à vida, à ideia de nação e de liberdade. Uma pantomima que o planeta olha com espanto e pena. Um país continental governado por personagens que dão asco e raiva. Uma república a ser refundada, reorganizada nos seus estamentos e pilares mais básicos. Pátria-mátria ferida, estuprada e desconexa que precisa ser resgatada dos biltres que dela se apropriaram. E recuperá-la será muito mais que votar em sentido diferente do que hoje nos assola. A sociedade brasileira, que é majoritária e mentalmente ainda sadia, precisa compreender que o futuro exige muito mais de todas e todos.
Quando passar a carnificina pandêmica veremos com mais clareza o tamanho da destruição da indústria nacional, da economia minimamente distributiva, do sentido de conjunto social solidário. Passado o atual pesadelo teremos verdadeira dimensão da vitória dos bandidos. Dos muitos bandidos. Falo da vitória do Poder Real que não é exatamente o fantoche que dá, com sua miserável estirpe, a cara para o tapa e que será regurgitado de uma ou outra forma. Falo do poder de sempre, o poder imperial, o sistema e sua elite provincial jagunça. A canalha que protegeu isto, quando não o estimulou e recriou com sua estrutura mediática, jurídica, política e militar.
Quando passe este Brasil B. haverá que julgar e punir os responsáveis, não só pelas centenas de milhares de mortos, evitáveis na sua enorme maioria, como por ter destruído o futuro das gerações próximas. Por isso, quando chegar a derrota dos bandidos que assaltaram o país, precisará ser implacável, inesquecível e visitada sempre nos futuros currículos escolares para que sirva de exemplo permanente.
Não pode haver espaço algum para a reconciliação com os responsáveis desta saga de horrores que vivemos. Este Brasil sacrificado que padecemos é o fruto amargo da impunidade e dos acertos com os inimigos de classe do nosso povo.
E me desculpe por tantos adjetivos, num dia que muito esperamos, não serão mais necessários.