A vitória da greve contra Doria em SP é um marco para os trabalhadores em todo país

Por Fernanda Montagnner.

Nessa terça feira os professores e municipais de São Paulo derrotaram Doria. Mesmo embaixo de chuva os trabalhadores cantavam “Não tem arrego” após a câmara anunciar que a reforma da previdência municipal foi adiada em 120 dias. Essa luta transcende São Paulo, a derrota do tucano, um dos maiores defensores dos empresários e das reformas de Temer e candidato a governador com ambição a presidenciável, fortalece a luta de todos os trabalhadores pelo país.

Dória é um dos maiores defensores dos empresários e das reformas de Temer, atual candidato a governador com ambição presidencial. A derrota do tucano fortalece a luta de todos os trabalhadores pelo país mostrando que é possível derrotar os ataques através de uma batalha de classes incansável, organizando apoio popular e fazendo a greve emergir como uma força política dos trabalhadores frente a crise nacional.

A greve dos professores iniciou no dia 8 de março e dias depois foi seguida de várias categorias de municipais também aderindo a luta, foram quase 100% das escolas que pararam com importante ativismo dos trabalhadores e atos massivos. No dia 14 de março aos gritos de “não tem arrego” os professores e municipais não só resistiram a repressão do prefeito João Doria (PSDB) como não se limitaram a política pacífica do sindicato, naquele momento mostraram para o tucano que ele não ia conseguir passar o ataque, pois os trabalhadores não estavam dispostos a desistir.

O elemento espontâneo, combativo e irredutível dos professores foi uma das fortalezas da greve e seu significado político tem alcance nacional, por mais que a mídia esteja com uma política deliberada de colocar uma cortina de fumaça na vitória. Assim como a greve dos garis do RJ e rodoviários do RS em 2014, a greve dos professores do Paraná de 2015 e a recente greve de professores do RS em 2017, os professores e municipais de São Paulo dão exemplo de luta com elementos espontâneos e se transformam em um pilar de onde é necessário tirar lições.

Barrar a reforma da previdência municipal tem grandes significados:

João Doria busca se postular como representante da burguesia nacional e internacional, tentando emergir como figura política “linha dura” que para agradar os empresários e a patronal querida dar uma demonstração de força passando esse ataque. Após a derrota de Temer em aprovar a reforma da previdência nacional, Doria escolheu votar o ataque à previdência no município justamente para dar esse exemplo de “político forte para as elites”, uma espécie de “se Temer não consegue passar a reforma, eu consigo”.

Até o ultimo dia o prefeito tentou de tudo, blefou falando que já tinha os 28 votos na Câmara, depois tentou dividir a greve propondo 24% de aumento para o piso da categoria, contudo nenhuma dessas medidas manobrou os trabalhadores que estavam determinados em tirar a reforma de pauta.

Dessa forma derrotar Doria dificulta que os outros prefeitos e o próximo presidente aprove a “reforma das reformas”, essa greve se transforma em uma referencia que é possível derrotar o ataque a previdência e aprofunda a crise nacional e eleitoral dos candidatos da burguesia, na medida que Alckmin que seria o candidato de centro direita não engrena, Doria foi derrotado, Luciano Huck nem mesmo começou a campanha e já saiu, enquanto não emerge mais ninguém com aprovação. Ou seja, essa vitória é um “golpe” em todos os golpistas.

Frente a importante crise nacional, polarização social e na superestrutura entre a política golpista e o PT, a intervenção no Rio de Janeiro que abriu espaço para o assassinato de Marielle Franco (PSOL), a greve dos professores provou mais uma vez como os métodos de luta dos trabalhadores consegue dobrar até os ditos “indobráveis”.

As marchas de milhares e o repúdio ao assassinato de Marielle, a impossibilidade de Temer votar a reforma da previdência mostraram como os golpistas não conseguiram derrotar em definitivo a classe trabalhadora nem consolidar um giro a direita como gostariam implementando todos os ataques. E agora essa vitória dos professores e municipais de SP expressa de forma contundente como os trabalhadores podem resistir e impor derrotas aos ataques.

Essa força operaria independente deve servir de exemplo para os próximos embates, nacionais ou mesmo caso Doria ou Bruno Covas (prefeito que tomará posse no momento que Dória sair para as eleições para governo do Estado) quiserem retornar com a proposta de reforma da previdência depois dos 120 dias. Por isso é importante seguirmos organizados, pensando um plano de luta que não permitam que queiram voltar com o ataque.

O grupo de trabalhadores Nossa Classe – Educação defendeu durante todo o processo a importância de comandos de greve deliberativos para que a base dos trabalhadores pudessem pensar os rumos da luta. Isso porque os sindicatos, que deveriam ser instrumentos dos trabalhadores e devem ser tomados em nossas mãos, por muitas vezes estão dirigidos por grupos ou diretamente patronais ou ligados a interesses de partidos da ordem, traindo ou barrando a luta dos trabalhadores por conta de interesses próprios.

A direção do Sinpeen, Carlos Fonseca do PPS partido aliado do Doria, é um claro exemplo disso. Contudo a combatividade da base impediu que este freasse a luta. Esse é mais um exemplo para um país que viveu ano passado uma Greve Geral, onde os trabalhadores mostraram sua vontade de luta, mas que acabou sendo desviada por conta da traição das direções sindicais, como as petistas na direção da CUT e CTB, fato este que abriu caminho para a reforma trabalhista e outros ataques e expressões de direita que vemos hoje.

Um dos grandes medos que Doria e a Câmara de Vereadores ficou com a greve foi que ela confluísse com a luta democrática que surgiu pós o assassinado de Marielle Franco. Ou seja, que confluísse uma luta operária com um movimento democrático, escancarando o caráter reacionário e violento contra a esquerda e as ideias progressistas do golpe e da intervenção federal.

Os professores levantaram a bandeira de Marielle e a revolta contra a intervenção no RJ, mostrando seu potencial de tribuno do povo onde cada greve pode ser um embrião de disputa de poder e de política para hegemonizar a sociedade. Quem poderia dar uma resposta ao caso da Marielle, Temer, a polícia e o exército ou os trabalhadores organizados para defender os direitos e enfraquecer os golpistas?

É uma politica da burguesia com o auxilio das direções sindicais tentar dividir os trabalhadores entre si e das pautas sociais, para que trabalhador lute por salário e só enquanto a mídia recorrentemente tentar forjar a opinião pública para joga-la contra as greves. Por isso é chave ganhar apoio popular, os atos regionais realizados perto das escolas e nas comunidades tiveram importante papel de ganhar a população a favor da greve.

Crise orgânica e a luta dos trabalhadores para combater a direita

Desde as grandes manifestações de 2013 se abriu uma etapa que chamamos de crise orgânica no país (uma crise do Estado de conjunto, econômica, social e política quando um grande empreendimento das classes dominantes é fracassado abrindo espaço para expressões a esquerda e a direita) vemos uma escalada da politização e das experiencias de luta.

Segundo números do DIEESE as greves avançaram de 515 no ano de 2012 para 2050 em 2015. Além do avanço numérico no meio deste período, em 2014, sob impacto da etapa aberta por junho ocorreram greves de serviços urbanos estratégicos. Em 2016, já sob impacto da crise econômica as pautas das greves mudaram radicalmente, foram segundo o DIESSE 81% de caráter defensivo, e aumentou o peso dos funcionários públicos no universo de grevistas. Mesmo sob impacto da crise, 2016 ainda expressou um aumento no número de greves, foram 2093.

Esse número diminuiu em 2017, resultado da politica das direções sindicais de não unificarem as lutas e impedirem que os exemplos mais avançados influenciassem outros setores. Contudo os processos foram mais profundo e atingindo setores estratégicos como transporte e indústria, e com grande protagonismo dos professores. No dia 15 de março de 2017, dia da paralisação nacional, os professores e metroviários tiveram destaque, a mesma categoria de professores municipais que foi linha de frente de derrotar Doria, nesse dia realizou um ato massivo.

Assim essa vitória é resultado de alguns anos onde os trabalhadores vem se experimentando com as direções políticas, com seus métodos de luta, e por isso tão importante verem o peso político do que conquistaram esse ano. Em 2015 ocorreram em mais de 11 estados e municípios greves pela educação, administrados do PSDB ao PT. Essas greves ocorrem apesar da direção da CUT, que mesmo estando na maioria desses sindicatos e na Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação, não propõe qualquer medida de unificação dessas lutas. Com destaque a professores do Paraná que enfrentaram dura repressão, com mais de 200 feridos e mesmo assim seguiram em luta.

Em 2017 professores foram um fator fundamental nas greves do dia 15 de março de 28 de abril, mas mesmo após a traição das centrais, os professores do Rio Grande do Sul se levantaram e também com elementos espontâneos e antiburocráticos mantiveram uma forte batalha votando a continuidade da greve contra suas direções sindicais.

Esse ano além dos professores de São Paulo junto aos municipais, também estão em greve os professores de NatalAmazonasPiaui e Minas Gerais.

SAIBA MAIS – Polícia Militar de Pimentel reprime manifestação de professores de MG em greve

Se apoiar nesses exemplos é a chave no combate aos ataques e a direita, porque se por um lado a burguesia não consegue derrotar os trabalhadores e fechar a situação completamente a direita. Vemos cada vez mais aspectos de degradação da democracia burguesa, seja a politização das forças armadas, a arbitrariedade do judiciário que deve definir em quem a população pode ou não votar arrancando (como continuidade do golpe) o direito mínimo que é o sufrágio universal e o recente assassinato de Marielle, mostram que é preciso combater a direita, e esse combate não será decidido nas urnas. A política passiva do PT abriu e fortaleceu essa direita e foi parte de trair as greves e depositar tudo nas eleições.

No dia que os professores de São Paulo venceram veio a noticia que o ônibus de Lula havia sido baleado, um fato repudiável de extrema direita. Já é provado que é possível vencer a direita e que ao contrário do discurso de derrota e “sem saída” feito pelo petismo que só pensa em como ganhar as eleições e impedir a luta de classes. Por isso a vitória da greve em São Paulo deve servir de exemplo e ponto de apoio para derrotar a direita e os ataques.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.