A visita de Mattis e a subserviência do governo Temer

Foto: Embaixada dos Estados Unidos. Fotos Públicas

Por José Reinaldo Carvalho.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, realizou na semana passada um giro latino-americano, visitando Brasil, Argentina, Chile e Colômbia. Os objetivos foram muito além do balanço e elaboração de planos de incremento das relações bilaterais entre a nação imperialista do Norte e os países visitados.

Não por casualidade, todos quatro, além de terem governos de turno neoliberais, conservadores, entreguistas e, no caso brasileiro, golpista, fazem parte do chamado Grupo de Lima, um arranjo diplomático artificial, criado especialmente para fazer provocações e produzir fatos que justifiquem uma ação intervencionista contra o governo venezuelano.

Para enfatizar o interesse estratégico, que nunca cessou nem se reduziu, para com a região latino-americana e caribenha, os Estados Unidos declararam 2018 como o “Ano das Américas”, uma espécie de reedição da Doutrina Monroe (1823) e do Corolário Roosevelt – proclamada durante o mandato de Theodore Roosevelt (1901-1909). Naquela altura, tratava-se de afirmar a liderança estadunidense na América Latina em rivalidade com as potências europeias. Hoje, o imperialismo estadunidense não esconde sua preocupação com a China, cuja parceria com a região intensifica-se e consolida-se cada vez mais. Por isso, o comunicado do Pentágono ressalta o objetivo de fazer com que o “hemisfério ocidental seja um lugar de colaboração, próspero e seguro” (…) “Os Estados Unidos estão pensando a longo prazo sobre a América do Sul, conscientes de que o êxito e a segurança das futuras gerações depende de quanto construamos bem uma relação de confiança com nossos sócios do hemisfério occidental”, disse Mattis.

Ao governo subserviente e entreguista de Michel Temer, Mattis enviou a clara mensagem de que é preciso ter cuidado ao escolher seus sócios, aludindo à China. Exortou, assim, os usurpadores do Planalto e do Itamaraty a “estreitar laços com os Estados Unidos”, com base nos “valores compartilhados”.

Dando sequência aos esforços para associar o governo submisso de Michel Temer aos desígnios intervencionistas dos EUA para com a Venezuela, o chefe do Pentágono seduziu as autoridades de Brasília referindo-se à “liderança” do gigante do Cruzeiro do Sul, que foi instado a enfrentar o “regime opressor” do presidente Nicolás Maduro.

Coincidentemente, como que já aplicando o roteiro traçado por Mattis, o ministro da segurança Pública do Brasil, Raul Jungmann inicia nesta segunda-feira visita à Colômbia, pretextando discutir estratégias de ampliação da segurança nas fronteiras e conhecer projetos que contribuíram para a redução da violência e tráfico de drogas naquele país. A agenda tem amplitude e peso político considerável, incluindo conversações com autoridades sobre temas estratégicos, que vão além dos ligados à segurança pública.

Em sintonia com os objetivos da viagem de Mattis, o recém-empossado presidente colombiano, Iván Duque, ressaltou que foi “muito produtiva” a reunião que manteve com o chefe do Pentágono. “Dialogamos sobre temas relacionados com a segurança do hemisfério”, ressaltou.

A visita de Jungmann à Colômbia, aliás, ocorre na sequência de ações xenófobas violentas realizadas em território brasileiro contra venezuelanos que cruzaram a fronteira em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país vizinho. As forças progressistas e patrióticas do Brasil devem manter-se em guarda para evitar que, mancomunado com o Departamento da Defesa do governo Trump, o governo Temer leve o Brasil a participar de ações provocadoras na fronteira contra a Venezuela que deem pretexto para cumprir os objetivos intervencionistas de Washington. Não se deve esquecer que foi o próprio presidente dos Estados Unidos quem afirmou não descartar a opção militar entre as medidas que pode tomar contra governo do presidente Nicolás Maduro.

A pauta de Mattis no Brasil teve também como um dos principais temas a reivindicação estadunidense de apossar-se da Base de Alcântara. “Escolhemos o Brasil, não porque devido a um feliz acidente geográfico se encontra na linha do Equador mas porque queremos trabalhar com os brasileiros, nosso vizinho hemisférico com o qual compartilhamos valores políticos, além de sua impressionante orientação tecnológica”, disse em entrevista coletiva depois de sua reunião com seu par brasileiro.

Não é a primeira vez que Washington manifesta a intenção de fincar suas garras sobre este ponto do estado do Maranhão. Já o fez durante o governo antinacional do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), período em que a base de Alcântara ficou à disposição dos EUA, situação que foi revertida durante os governos progresistas no país, primeiro sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e depois com Dilma Rousseff (2011-2016).

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário geral do Itamaraty de 2003 a 2009, ressaltou em entrevista ao site Sputnik: “O objetivo principal norte-americano é ter uma base militar no território brasileiro na qual exerçam sua soberania, fora do alcance das leis e da vigilância das autoridades brasileiras, inclusive militares, e onde possam desenvolver todo tipo de atividade militar”.

A visita de Mattis ao Brasil e outros três países da América do Sul foi reveladora dos objetivos militares dos Estados Unidos, já manifestada em outras ocasiões, inclusive em novembro do ano passado quando pela primeira vez a superpotência norte-americana participou em manobras militares em território amazônico brasileiro, na tríplice fronteira entre nosso país, a Colômbia o Peru.

As Forças Armadas e os patriotas brasileiros não devem permitir que nosso país fique tão vulnerável à ofensiva estadunidense e utilizado como instrumento desta.

José Reinaldo Carvalho é jornalista e diretor de Pesquisas do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz)

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