Nascida em 1º de janeiro de 1968, Ho Thi Giu passou seus primeiros meses de vida em um túnel, enquanto as bombas caíam no centro do Vietnã, em plena ofensiva do Têt. Ainda não tinha um mês quando, durante a noite de 29 a 30 de janeiro, as tropas comunistas lançaram, em pleno Ano Novo Lunar do Têt, um vasto ataque surpresa contra os Estados Unidos e o Vietnã do Sul, decisivo em seus vitória final.
Seu local de nascimento: os túneis de Vinh Moc, na província de Quang Tri, construídos para abrigar a população civil das bombas – poucos quilômetros ao norte da linha de demarcação entre o Vietnã do Norte e do Sul, onde se concentravam os combates durante a ofensiva do Têt.
“Eu nasci em uma dessas cavidades” distribuídas ao longo do túnel, explica a vietnamita de 50 anos, revisitando o lugar com a AFP. “Minha mãe me deu à luz no inverno, estava frio”, conta ela, que se lembra “por procuração”, por meio das histórias dos mais velhos, da atmosfera nesses lugares úmidos, onde a população não tinha quase nada.
“Minha mãe me contou que, quando nasci, foi muito difícil, porque faltava tudo: de alimentos a coisas básicas”, como galochas para atravessar os túneis muitas vezes cobertos de água, acrescenta.
Ho Thi Giu saiu do túnel apenas aos dois anos de idade, em 1970. “Quando minha mãe estava grávida, foi levada para os túneis para dar à luz e viver, enquanto meu pai estava lutando nas forças vietcongues”, completa.
Durante os períodos mais tranquilos, ela saía para pescar no mar e trazer comida para a família.
Música contra as bombas
No total, entre abril de 1967 e dezembro de 1968, cerca de 250 habitantes do vilarejo de Vinh Moc participaram da construção dessa rede de túneis, com ferramentas rudimentares – até mesmo suas mãos – de acordo com a historiografia oficial.
Até 600 pessoas chegaram a morar ali, no subterrâneo a mais de 20 metros de profundidade, saindo apenas à noite para cultivar suas terras, ou cozinhar. No total, 17 bebês nasceram nesses túneis, incluindo Ho Thi Giu.
Nguyen Tri Phuong tinha 16 anos em 1968. Ele lembra ter “muito orgulho” de ter participado da construção dos túneis, “com os homens da aldeia”. Recorda-se ainda promiscuidade e dos problemas de higiene por falta de latrinas. E se lembra, com mais leveza, de uma competição de canto batizada “cantar para reduzir as bombas ao silêncio”. “Isso deu coragem aos jovens”, diz ele.
Os túneis de Vinh Moc são agora visitados por turistas, mas os mais populares são os de Cu Chi, no sul do país, que abrigaram os guerrilheiros vietcongues durante anos nos subúrbios de Ho Chi Minh, antiga Saigon.
Eles devem sua popularidade ao fato de terem permanecido em boas condições. Na verdade, foram cavadas dezenas de túneis em todo país, alguns deles sendo usados para fazer circular armas entre os vietcongues.