A vida em contagem regressiva

Há um ano de terem suas casas inundadas pelas águas do lago da usina hidrelétrica de Sinop (MT), 204 famílias do ‘Assentamento Mercedes’ ainda não tem qualquer garantia dos seus direitos. Desde o início da construção das obras, há 3 anos, as pessoas que serão impactadas e terão que sair de suas casas sofrem com a falta de transparência da empresa Cia. Energética Sinop (CES), responsável pelas obras, em realizar um diálogo de negociação para indenização justa das famílias, uma obrigação da empresa determinada por lei para compensar e mitigar os impactos das obras.

“Já faz 15 anos que estamos aqui e pra alagar nós vamos ser obrigados a sair”. José Teodoro, o ‘Grandão’, como é conhecido na região, é um dos primeiros moradores da área. Ele é agricultor e terá 93% do seu terreno inundado pelo lago da usina. Ele está sem nenhuma perspectiva para onde ir, não tem condições de conseguir outro terreno e a usina até o momento não definiu nenhum valor de indenização ou uma proposta de reassentamento de sua família em outro terreno.

José Teodoro, o ‘Grandão, produzindo queijo fresco em casa

Segundo ‘Grandão’, a empresa já mudou 5 vezes a equipe de negociação nos últimos anos o que prejudicou ainda mais a tentativa de um diálogo transparente para indenização justa do seu terreno e das demais famílias da região. “Cada um que vem aqui fala uma coisa e até agora não temos garantia de nada”.

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Morador do ‘Assentamento Mercedes’ desde 1997, Daniel Schlindwein, também está na mesma condição de ‘Grandão’, mas ele vive uma situação diferente de todas as demais famílias que vivem na área. Essa é a terceira vez que ele é obrigado a sair de sua casa pelo governo.

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Daniel Schlindwein alimentando a pequena criação de galinhas e porcos.

A primeira vez foi na década de 70 quando morava na cidade de Cascavel, no Paraná, e teve que sair de sua casa quando criança devido a construção do Parque Nacional do Iguaçu. Após serem reassentados, Daniel e sua família no ano de 1981 foram obrigados a sair da nova casa, pois o local foi inundado pelo lago da usina hidrelétrica de Itaipú. E agora ele se vê obrigado a sair da casa que vive, há quase 20 anos, com a família por conta da construção da UHE Sinop.

“Não se cumpre o social. Não se tem compromisso com as famílias atingidas de proporcionar uma vida melhor como eles mesmo pregam”, afirma Daniel ressaltando que sua família nunca recebeu uma indenização justa em todos os casos que foram obrigados a sairem de suas casas.

Determinados em conseguir uma indenização justa para as famílias do ‘Assentamento Mercedes’ os moradores da região organizaram no movimento dos atingidos por barragens e na  ‘Comissão dos Atingidos da Gleba Mercedes’ que foi iniciada em junho de 2014.

Segundo Jairo pioneiro do assentamento, “a principal pauta hoje do grupo é garantir a titulação das terras junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A titulação é um direito dos assentados que é reivindicado há anos e que até hoje não foi concretizado, o que aumenta ainda mais a tensão de negociação com a empresa responsável pela UHE Sinop sobre as indenizações.”

Tanto a comissão dos atingidos quanto diversas ações que vem sendo feitas para pressionar a garantia dos direitos das pessoas atingidas pela construção da UHE Sinop contam com a articulação do Fórum Teles Pires (FTP). Criado em 2010, o FTP é uma frente de trabalhadores na luta pelos direitos dos atingidos e da biodiversidade da região do rio Teles Pires. Os integrantes/mobilizadores do FTP são os indígenas, assentados da reforma agrária e ribeirinhos, que vivem nas áreas impactadas pelas construções de barragens, juntamente com movimentos sociais como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), instituições como International Rivers e o Instituto Centro de Vida (ICV), ativistas socioambientais e midiativistas.

Fonte: http://www.mabnacional.org.br/noticia/vida-em-contagem-regressiva.

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