A unidade da classe trabalhadora no Brasil

1 de maio em Curitiba. Foto: Mayara Bergamo/Desacato.info

Por Elenira Vilela, para Desacato. info. 

Duro não poder escrever sobre o aniversário de 200 anos do nascimento do maior teórico e um dos maiores lutadores da classe trabalhadora: Karl Marx. Mas penso que ele perdoaria, pois passou toda sua vida escrevendo e analisando seu tempo, para que a intervenção e a luta fossem conscientes e vitoriosas, mudando a realidade concreta do povo, não somente sonhando sobre uma diferente.

Nesta semana vivemos um momento ímpar na história da luta de classes no Brasil. Depois de muitos anos 7 centrais sindicais marcam um ato unitário nacional em uma cidade fora do eixo Rio – SP – Brasília para lutar pela democracia, pelos direitos e pela liberdade para Lula em Curitiba.

O ato foi impressionante, com a participação de artistas, de lideranças políticas sindicais, partidárias e de movimentos sociais do Brasil de todas as regiões e das Américas, de várias matizes políticas e organizações diferentes.

Essa unidade demonstra a compreensão da classe trabalhadora que a onda que tenta nos engolir e entregar todos os direitos e a soberania na prática está criando uma destruição social com potencial impacto civilizatório para uma geração inteira e a fração organizada da classe está concentrada em denunciar este processo e mobilizar para impedi-lo nas mais diversas frentes de luta.

Não que esteja tudo perfeito, bem longe disso. Estamos construindo um processo, que infelizmente tem um ritmo muito mais lento do que o dos ataques do imperialismo e do aprofundamento da exploração capitalista atual. Estamos longe de ter condições de derrotar nossos inimigos internos e externos, mas a compreensão de que a unidade é fundamental para isso é um primeiro passo muito importante.

Também é verdade que mesmo essa unidade ainda precisa ser aprofundada, estamos desenvolvendo ainda a compreensão que isso não significa perdão das mazelas anteriores que tem todas as organizações, manifesta, por exemplo, nas vaias contra o dirigente da Força Sindical, que as recebeu pelo voto a favor do golpe contra Dilma dado pelo Paulinho da Força e do próprio Aldo Rebelo, de quem os manifestantes não aceitaram a guinada à direita com a filiação ao Solidariedade. Por outro lado essa unidade não se aprofundará se ficarmos tentando tirar a limpo todas as diferenças que temos – que são muitas e profundas – em todos os momentos que conseguirmos nos articular para atuar juntos.
Tampouco, para o momento eleitoral, podemos supor que essa unidade obrigatoriamente tem que se manifestar em termos chapa única de toda a esquerda já no primeiro turno. Não considero essa unificação uma exigência da conjuntura em uma eleição de dois turnos. Pelo contrário, dar opções às diversas posições se manifestarem é saudável para a unidade e inclusive correto do ponto de vista tático eleitoral, pois diminui votos brancos e nulos. Isso tudo desde que saibamos que nossa unidade deve ser inquebrantável na luta pela realização das eleições e nos diversos momentos de luta de rua em defesa da democracia e dos direitos. Nesse momento só poderão ser considerados candidatos de esquerda os que estiverem juntos nos palanques dessas lutas, as verdadeiras lutas populares.

É impressionante ver como a compreensão da classe tem se ampliado e se manifestado de diversas formas.

Nesse momento, para não dizer que não falei da minha categoria, preciso destacar que as péssimas lembranças que a categoria dos trabalhadores na educação básica federal tem, por exemplo, da reforma da Previdência de 2003 e da criação do FUNPRESP, tornando a categoria profundamente crítica aos governos Lula e Dilma (com toda razão, aliás), não impediu que a mesma compreendesse o momento e percebesse que há aspectos mais profundos e essenciais de defesa da classe no momento e que não é mais possível estar de fora dessa unidade.

No 32o Congresso Nacional do SINASEFE, realizado em Brasília no último final de semana, os maiores derrotados foram sem dúvida a cegueira conjuntural de quem ainda não enxergou o Estado de exceção e o avanço do imperialismo em tomar conta do país por completo e o sectarismo de não compreender o momento político e permanecer na oposição a um governo que não existe mais. Havia 5 chapas, 2 delas reivindicavam a organização que atende pela alcunha de CSP Conlutas, uma organização que representa parte cada vez menor, mas que é suficiente para construir a confusão no seio da classe ao apoiar posições moralistas e despolitizantes iguais aos dos movimentos de direita. Uma dessas chapas tem seu núcleo político formada pela minoria da organização e compreende o erro histórico da posição que a maioria adota, mesmo assim ainda pagou o preço de estar nela apoiada, tendo chegado ao congresso como a maior força política avaliando ter 40% dos votos dos delegados presentes, terminou por fazer pouco mais de 25% destes. E a chapa ligada à maioria da central e que reivindica essa posição despropositada de que não há avanço das forças conservadoras e de que não houve golpe, fez apenas 13,5% dos votos, apesar de o PSTU hegemônico da posição da CSP há 5 anos atrás ter dirigido a política sindical do SINASEFE. A derrota foi flagrante. A classe não aceita tergiversações na sua defesa em momento de confronto direto.

Na contramão desse processo, o Partido dos Trabalhadores tem por meses uma média de 84 filiações por dia e que aumentaram para 200 por dia desde a prisão do Presidente Lula, já tendo batido o número de 2,1 milhões de filiados. Não porque a classe tenha esquecido críticas, desconfianças e problemas com os governos liderados pelos petistas, mas porque compreende o momento crítico e agudo que vivemos e sua importância histórica.

Por último é preciso ter claro que o centro dessa unidade agora, além de defender nosso país e nossos direitos precisa ser para garantir que haverá as eleições desse ano. Não porque se tenha ilusões de haver possibilidade de um processo eleitoral salvador, antes e depois dele temos que permanecer nas ruas, o único lugar em que podemos derrotar o golpe.

Mas porque nessas eleições haverá um momento de inflexão em que o golpismo pode se estabilizar no poder com um verniz de legalidade ou será obrigada a mostrar sua face mais dura e perder a capacidade de falsear, mesmo que de maneira frágil, a realidade do que vem fazendo. O trunfo da classe passa por Lula como sua maior liderança popular e que precisa se expressar nas eleições. Por isso defender a liberdade para Lula e a realização de eleições é crucial. Se tiver eleições e mesmo que Lula ou alguém do PT ganhe, a classe terá que permanecer nas ruas, se tiver eleições e a direita ganhar, a classe terá que permanecer nas ruas, se não houver eleições o mundo não acaba e a classe terá que permanecer nas ruas. Mas o que fará nas ruas e como será reprimida mudará completamente.

Estar lutando pela aprovação de plebiscito revogatório, estar lutando contra um governo entreguista e o aprofundamento da retirada de direitos, estar lutando por democracia e contra a tortura e a morte. É isso que ter ou não eleições, que ganhar ou perder eleições significa.
Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos na revolução!!!

#SóALutaMudaAVida #AbaixoADitadura #VivaKarlMarx #EleiçõesDiretasJá #LulaInocente
#LulaLivre 
#LulaPresidente

 

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Elenira Vilela é professora e sindicalista.

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