A última agenda semanal de um presidente lúcido

presidente loucoCronopiando Por Koldo Campos Sagaseta

(Português/ Espanhol).

Na segunda vesti terno e gravata, subi em um impecável Lincoln negro e saí rumo a um encontro importante em que, com minha habitual eloquência e rodeado de empresários sem-vergonha, dissertei sobre o desenvolvimento sustentado e sustentável distribuindo medidas e contratos.

Na terça, de camisa de manga, viajei de helicóptero até algumas regiões remotas do país de onde, com minha lábia habitual e rodeado de camponeses sem-terra, ressaltei meu compromisso com a agricultura distribuindo envelopes e cestas básicas.

Na quarta, cheio de modos e no banco traseiro de meu veículo oficial, fui ao Congresso, com minha habitual retórica e rodeado de honoráveis sem-honra, justifiquei os últimos decretos e repartir pactos e compromissos.

Na quinta coloquei a roupa esportiva – boné incluso – e na minha 4×4 me dirigi à Universidade Pública onde, com minha maestria habitual e rodeado de estudantes sem futuro, ponderei os esforços de meu governo por impulsionar a educação repartindo títulos e bolsas.

Na sexta me enfiei num traje de Papai Noel e, como costumava no Natal, montado em meu trenó presidencial, ajudei um bairro popular onde, com minha habitual simpatia e rodeado de crianças sem infância, lhes falei do amor e da paz distribuindo bicicletas e bonecas.

No sábado não pude esperar o dia seguinte e, ainda de pijama, fui de salto à rua. Com incomum sinceridade e juízo, disparei um marco conceitual no primeiro-ministro e uma execução fiscal das contas sujas de todo meu governo, com seus correspondentes rachas e renúncias fulminantes. Depois ordenei um investimento milionário de chutes no traseiro de meus sócios de partido e o compromisso de distribuir cardeais roxos às mais ilustres sonatas da cúria. Também distribuí traumas e contusões entre os tão variados uniformes, e uma indiscriminada paulada em juízes, empresários e banqueiros. Assim foi que, rodeado da mais absoluta incredulidade e frente a milhões de esperanças sem governo, simplesmente, desacreditei a impunidade, nacionalizei a memória e comecei a cumprir meu programa eleitoral devolvendo ao povo a voz e a palavra.

No domingo fui declarado louco.

Tradução: Lucas Ferreira

La última agenda semanal de un presidente cuerdo

Cronopiando Por Koldo Campos Sagaseta

El lunes me ajusté traje y corbata, subí a un impecable Lincoln negro y salí rumbo a una importante cita en la que, con mi habitual elocuencia y rodeado de empresarios sin vergüenza, diserté sobre el desarrollo sostenido y sustentable repartiendo medidas y contratos.

El martes, en mangas de camisa, viajé en helicóptero a algunas remotas regiones del país donde, con mi labia habitual y rodeado de campesinos sin tierra, resalté mi compromiso con la agricultura repartiendo sobres y canastas.

El miércoles, tocado de etiqueta y en el asiento trasero de mi vehículo oficial, me trasladé al Congreso para, con mi habitual retórica y rodeado de honorables sin honra, justificar los últimos decretos y repartir pactos y componendas.

El jueves me puse el chándal, cachucha incluida, y en mi todoterreno me dirigí a la universidad pública donde, con mi maestría habitual y rodeado de estudiantes sin futuro, ponderé los esfuerzos de mi gobierno por impulsar la educación repartiendo títulos y becas.

El viernes me enfundé el traje de Santa Claus y, como acostumbraba en Navidad, montado en mi trineo presidencial, acudí a un barrio popular donde, con mi habitual simpatia y rodeado de niños sin infancia, les hablé del amor y de la paz repartiendo triciclos y muñecas.

El sábado no pude esperar al día siguiente y, todavía en pijama, salté a la calle. Con inusual sinceridad y juicio, le asesté un marco conceptual a mi primer ministro y un impositivo gravámen de fundazos a todo mi gobierno, con sus correspondientes ceses y renuncias fulminantes. Después dispuse una inversión millonaria de patadas sobre las nalgas de mis socios de partido y el compromiso de erogarles morados cardenales a las más ilutres sotanas de la curia. También repartí traumas y contusiones entre los tantos variados uniformes, y una surtida partida de leñazos a jueces, empresarios y banqueros. Así fue que, rodeado de la más absoluta incredulidad y frente a millones de esperanzas sin gobierno, simplemente, desahucié la impunidad, nacionalicé la memoria y comencé a cumplir mi programa electoral devolviendo al pueblo la voz y la palabra.

El domingo fuí declarado loco.

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