Por Elaine Tavares, para Desacato.info
A UFSC viveu uma tragédia no final do ano passado. Polícia invadindo o campus, prisões abusivas, humilhação do reitor e, como consequência, o dramático suicídio. Sem permissão para pisar na universidade – que era sua vida – Luiz Cancellier decidiu fazer de sua morte um ato político. E fez. Depois da tragédia, os processos abusivos de ataques às universidades foram enfrentados de outra maneira. Exemplo disso foi a prisão do reitor da UFMG, que contou com a imediata reação da comunidade. Infelizmente, na UFSC, a falta de uma ação enérgica e urgente, levou aos acontecimentos dolorosos que ainda reverberam. Da espetaculosa ação da polícia federal em busca de “criminosos” quase nada restou, a não ser alguma “convicções”, como parece tem sido comum na PF e no judiciário. Até agora – e as prisões aconteceram em setembro de 2017 – não há nada de conclusivo sobre as irregularidades envolvendo o Curso de Ensino à Distância. Ainda assim, os professores presos naquele então seguem sem poder entrar na UFSC.
No campo interno da universidade, as coisas também ficaram confusas. A vice-reitora, que recebeu o aval da comunidade para seguir com o mandato, decidiu pedir licença médica de 60 dias em novembro e aí, as coisas se complicaram. Foi necessária a ação da comunidade para que o Conselho Universitário escolhesse um reitor pró-tempore, e a vida administrativa pudesse seguir, e se definissem as regras para uma nova eleição. Assim, ficou acertado que a UFSC deveria realizar uma consulta pública para decidir quem vai ocupar o cargo de reitor ou reitora. Como o ano já estava se acabando a decisão foi de que a consulta acontecesse em março, quando os estudantes já estivessem todos de volta.
Assim, passado apenas um ano da última eleição que elegeu Cancellier, a universidade volta a viver o clima de disputa. Uma disputa triste,é verdade, em função das circunstâncias. Mas, necessária, afinal, a instituição precisa seguir.
Nesse cenário extemporâneo, as candidaturas que surgiram foram as que já haviam disputado na última eleição, afinal, nenhum grupo político dentro da UFSC esperava por uma tragédia como a que se sucedeu. Assim, provavelmente quando forem abertas as inscrições para as chapas, agora em 19 de fevereiro, três candidaturas serão confirmadas. Uma é a do atual diretor do Centro Tecnológico, Edson de Pieri, que representa a direita tradicional. Outra deverá representar o grupo que apoiava Cancellier, podendo se materializar na figura do atual reitor pró-tempore, Ubaldo Balthazar, representando a continuidade do projeto de Cancellier, que estava alinhado aos ditames governamentais. E uma terceira será a do atual diretor do Centro Socioeconômico, Irineu Manoel de Souza, que representa forças mais à esquerda, fora da tradição de poder da UFSC e fora do grupo de Cancellier. E ainda que surjam outras candidaturas, os projetos não se diferenciarão muito além desses três que estão explícitos: o da velha direita tradicional, aliada ao empreendedorismo e à ideia da universidade como formação profissional para a elite dominante (De Pieri), uma universidade com cara mais humana, mas aliada aos conceitos neoliberais de excelência e aos ditames do Banco Mundial (Ubaldo), e uma universidade necessária, capaz de se colocar a serviço da resolução dos grandes dilemas nacionais, com democracia concreta, com transparência e fora da proposta bancomundialista (Irineu).
São projetos claramente distintos e expressam propostas muito claras sobre o tipo de instituição que querem que a universidade pública seja. Nesse contexto, a proposta que melhor expressa o desejo de uma universidade voltada aos interesses das gentes é a representada pela candidatura de Irineu Manoel de Souza.
Essa será a terceira vez que Irineu disputa a eleição para reitor, e nas outras duas vezes, seu programa foi capaz de plasmar os anseios dos professores, estudantes e técnicos, que lutam por uma UFSC verdadeiramente pública, democrática, popular e com qualidade social. Tanto que é sua plataforma a que aglutina várias forças de esquerda e centro-esquerda que atuam dentro da universidade. Afinal, ele foi e continua sendo o único candidato que abraçou a batalha contra a EBSERH – que privatizou a administração do HU – a proposta das 30 horas para os trabalhadores, a democratização dos espaços da UFSC, pelo controle social de frequência para os TAEs, contra as terceirizações e pela recuperação de cargos extintos que continuam sendo necessários à universidade.
Além disso, tanto nas outras duas vezes como agora, o Irineu é fruto da articulação sistemática de militantes das três categorias da UFSC que se juntam, discutem , debatem e apontam caminhos fora da ótica neoliberal. Esses grupos se reuniram mais uma vez e apontaram o nome do professor do CSE como o que pode aglutinar todas as propostas construídas coletivamente desde há anos, na luta pela defesa da universidade. E o projeto que Irineu levará para a disputa será o de uma universidade necessária, que garanta a democracia interna, que seja transparente, que batalhe pelo direito à permanência dos estudantes, que seja capaz de atuar em sintonia com as lutas das categorias e que se coloque radicalmente contra as propostas governistas que se rendem aos desejos do Banco Mundial e dos interesses dos empresários da educação.
Para a candidatura de Irineu, educação não é mercadoria e não será tratada como tal. Universidade é espaço do debate público, da discussão dos grandes problemas da sociedade, de parceria com a população empobrecida que precisa do conhecimento gerado na universidade para ter sua vida melhorada.
Nesses sombrios tempos de desmonte de tudo o que é público, a candidatura do Irineu é um grito de resistência ao desmonte, à privatização, ao ensino bancário, à elitização da universidade. Por isso seu projeto encontra tanto apoio entre técnicos, professores e estudantes. Tanto que mesmo nos meses de férias, como dezembro, janeiro e fevereiro, as reuniões chamadas para discutir as propostas do programa foram sempre massivas, cheias de gente que quer levar a UFSC para outro patamar: o de uma universidade que saia dos seus muros e dialogue com a sociedade. Uma universidade que não teme a participação direta dos seus estudantes e trabalhadores. Uma universidade que se fortalece na luta contra a destruição da educação. Uma universidade que não é só para formar quadros, mas para constituir pessoas capazes do pensamento crítico, gente disposta a mudar o estado de coisas. Uma universidade necessária para esses tempos e para esse país. Uma universidade que ainda não nasceu, mas que pode vingar, com a participação de todos.
Com Irineu Manuel de Souza estaremos mais perto de fazer realidade esse sonho.
Imagem: Palavras Insurgentes