A sociedade dos capitães do mato

Por Caroline Dall’ agnol, de Caxias do Sul, para Desacato.info

Por que é tão difícil perceber a opressão? Por que o sujeito passa a vida toda sendo oprimido e não se liberta? Paulo Freire já havia afirmado que em uma sociedade na qual a educação não é libertadora, o maior sonho do oprimido é ser o opressor.

Vivemos, mais do que nunca, na sociedade dos sonhadores de opressão. Na sociedade dos capitães do mato.

Na sociedade escravocrata do Brasil, o capitão do mato tinha papel importante de capturar negros fugitivos. Ele, também negro, assumia o papel do homem branco. Sujeito de alma branca. Negritude enraizada. Negritude rejeitada.

O senhor do engenho tinha o poder que lhe foi dado e, o negro escravo, a obediência que lhe foi obrigada.

Na sociedade do hoje os oprimidos não tem nenhuma percepção do quanto são oprimidos. Ao contrário, o discurso de dominação ganha espaço e força na saliva do oprimido.

A alienação que oprime destrói. O sujeito deixa de ser dominado para ser alienado. A diferença é que o dominado tem consciência da dominação e, o alienado, não.

Chaui (2001) salienta que a alienação acaba por se tornar o processo no qual as atividades humanas se tornam independentes e autônomas dos seres humanos, elas coexistem, e tornam-se controle da própria vida dos indivíduos.

[…] Como entender que o trabalhador não se revolte contra uma situação na qual não só lhe foi roubada a condição humana, mas ainda é explorado naquilo que faz, pois seu trabalho não-pago (a mais-valia) é o que mantém a existência do capital e do capitalista? Como explicar que essa realidade nos apareça como natural, normal, racional, aceitável? De onde vem o obscurecimento da existência das contradições e dos antagonismos sociais? De onde vem a não percepção da existência das classes sociais, uma das quais vive da exploração e dominação das outras? A resposta a essas questões nos conduz diretamente ao fenômeno da ideologia. (p. 57).

A sociedade do hoje vela suas fraquezas. Os sujeitos cegam-se pela própria opressão. Não se libertam. Não lutam nem por si e nem pelos outros.

Os capitães do mato surgem aos poucos entre a multidão. Homossexuais defendem falas de deputados federais conservadores. Mulheres fazem apologia ao machismo. Como explicar isso tudo? Como não perceber a opressão? A sociedade escravocrata explica. A ideologia de dominação explica. A ideologia de exploração explica. Será que não nos libertamos da sociedade escravocrata, ou foi o ser humano que não libertou-se da própria escravidão ideológica?

Imagem tomada de: kaosenlared.net

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