Por Lucas Ferreira, para Desacato.info
No túnel entre a Beira-Mar sul e o Centro, carros e motos buzinavam para os pedestres, não havia ônibus disponíveis. Quando saímos do barulho das turbinas, policiais já indicavam a quem chegava que o caminho “estava seguro”. Fácil demais… ainda naquele momento não vimos nada, apenas ouvimos a multidão.
Assim como na terça-feira, Florianópolis prossegue o circuito de protesto no Brasil. O número de cidades e participantes cresce, mas as pautas e as lutas tomam direções suspeitas.
Quem desceu pela Mauro Ramos pode acompanhar o “patriotismo modelo ‘64” – ligam o “verdadeiro” país aos símbolos que os militares compuseram para os civis – seja o hino, a bandeira, a ordem, o progresso. Os militares durante as décadas de sessenta e setenta investiram na sua indústria cultural com seus artistas de novela e seleções de futebol. Exatamente os mesmos que estão aí.
Um protesto despolitizado é o que eles pedem. É o protesto no qual a paz e a cordialidade brasileira reinam: “obrigado, senhor policial, por ter feito a segurança da nossa manifestação”. Não há desafio de ordem, não ouve mudanças de lado – a imprensa pena-paga logo “apoiou” as manifestações e tachou de vândalos e de “minoria” todos os que não partilham de sua estética cara-pintada; como foi o caso daqueles que persistiram na ocupação das Pontes horas depois da multidão ter se dispersado.
Esse pacifismo cheira ao primeiro golpe, a “retórica da despolitização” – apagam-se bandeiras, apagam-se as lutas históricas e clama-se pela nova mentira: a mentira do “Novo Brasil”, do Gigante desperto e livre de qualquer partido.
Mas sabemos que em matéria de política, quando não se propõe, vence que se dispõe. Prestem atenção quem está disposto ao quê e creiam, temos mais a pedir do que a volta de governos totalitários.