Onde o Jornalismo pulsa em plenitude

A reportagem: Onde o Jornalismo pulsa em plenitude

Por Magali Moser.

Nesses dias de comunicação fácil e rápida, o jornalismo ganha evidência. A notícia – breve, quase instantânea– domina os conteúdos informativos. No entanto, a reportagem, essência do Jornalismo, não tem o mesmo espaço. O mais nobre dos gêneros jornalísticos – a reportagem – vive um momento de crise e distanciamento dos fundamentos conceituais. Nos diários e sites de veículos, a constatação ganha ainda mais força, ao se privilegiar a superficialidade da notícia e o chamado “furo jornalístico” em detrimento da contextualização e do aprofundamento.

A constatação inevitável não abala no entanto quem tem o Jornalismo como a própria vida, como Elaine Tavares. Estive ontem no lançamento do novo livro da jornalista, no auditório do Instituto Blumenauense de Ensino Superior, o Ibes. Foi uma oportunidade para voltar no tempo e amenizar a saudade das aulas mais instigantes da faculdade. Elaine provoca, contesta, argumenta. Expõe sua leitura sem medo da crítica e espera “as pedras”, como brinca. “Em busca da Utopia: os caminhos da reportagem no Brasil dos anos 50 aos anos 90” lança um olhar profundo sobre a dama do jornalismo: a reportagem e não se deixa abalar pelo “jornalismo gosma” como define o estilo praticado pelos veículos que priorizam o furo.

O compromisso com o factual e a busca incessante da objetividade mudaram o processo de produção das reportagens em jornais diários. No anseio pela “notícia de última hora” e na urgência de redações atropeladas pela informação on line, a prioridade deixou de ser a humanização do relato, as impressões e o olhar do repórter. A capacidade reflexiva e o registro documental da narrativa deram lugar à efemeridade. O impacto é inevitável: o texto se torna distante do leitor, com um discurso declaratório e homogeneizado.

Em defesa de um texto noticioso cujo objetivo se restringe a responder as perguntas básicas da prática jornalística do lead (O que? Quando? Quem? Como? Por que?), a fórmula propagada como “sagrada” perde força diante da perspectiva de informar o leitor em profundidade e abrangência. A reportagem destaca-se pelo olhar do repórter, pela maneira como o fato é narrado, humanização do relato e contraponto à objetividade do lead.

Reportagem é mergulho, entrega. Depende da sensibilidade de quem a escreve. Brota dos sentidos do autor. Carrega a própria essência, a alma do Jornalismo, com o desafio de esgotar um fato em um relato ampliado, de carregar valor documental. Requer profundidade, busca de abordagens múltiplas e conexões com o passado e presente capazes de fundamentar reflexões.

Debruça-se sobre pormenores que à primeira vista podem não parecer importantes, mas que, ao final, proporcionam um conhecimento amplo sobre o tema em discussão. Repórter é aquele que vai para a rua em busca de um novo ângulo, ouve mais do que fala, que duvida das suas próprias certezas e não se deixa acomodar pela banalidade do cotidiano. A ausência da reportagem e a redução da capacidade analítica dos textos ajudaram a transformar os produtos jornalísticos em objetos de entretenimento.

O jornalismo diário se centra na fragmentação da notícia e deixa de contextualizar e interpretar os assuntos. É preciso reconhecer na reportagem um dos fundamentos do próprio jornalismo. O bom jornalismo está para além do furo. É capaz de transcender ao tempo.

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