A realidade do trabalho jornalístico dentro dos sindicatos

Seminário 1 a

Texto e fotos: Rosangela Bion de Assis, para Desacato.info

Como andam o jornalismo sindical e as condições de trabalho nas assessorias de imprensa? Esse foi o tema da palestra que abriu a tarde do dia 7 de agosto, durante o 2º Seminário Unificado de Imprensa Sindical, realizado na Escola Sul, em Ponta das Canas, Florianópolis. Na mesa, Roberto Ponciano, Magali Moser e Glauco Marques falaram sobre as dificuldades que limitam os projetos de comunicação nos Sindicatos.

Coordenador da Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público Federal), diretor de Imprensa de Sisejufe-RJ (Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro) e um dos criadores da revista Ideias, Roberto Ponciano, questionou o papel da comunicação nos Sindicatos: “É só pra ganhar eleição? Não querem que trate de temas polêmicos em época eleitoral e eu adoro isso. Esse é o papel da imprensa sindical, esse é o grande desafio: tratar de temas polêmicos.”

Ponciano explicou que a revista Ideias, bimestral, produzida pelo Sisejufe entre março de 2006 e setembro de 2013, era produzida para disputar a hegemonia, não era “amena” incluía notícias que eram do cotidiano. Metade da edição era dedicada a temas da categoria e não provocava questionamentos, mas a outra metade era motivo de críticas da base e até de parte da direção. “Eu sentia que estava atingindo meu objetivo. Ser desagradável, mexer com o senso comum, falar de casamento gay, de aborto, de milícia.” Para o diretor do Sisejufe, “a grande maioria dos dirigentes quer que amenize a pauta porque tem eleição sindical daqui há seis meses. Vamos colocar a sede da praia, que isso dá voto. O dirigente pergunta: onde está a parte das ações judiciais, do dissídio, a foto do presidente? O jornal tem que ter notícia, mas não precisa parecer a revista Caras.”

Roberto Ponciano também falou da limitação do papel do jornalista, “70% dos dirigentes quer ditar a matéria para o jornalista. O jornalista vai para o sindicato pensando em fazer jornalismo e acaba virando secretário do diretor. Pobre coitado do jornalista que faz imprensa sindical, eu me orgulho de dizer que a gente fez jornalismo, ganhamos prêmios.”

 Liberdade para definir a pauta

A professora do curso de Jornalismo da Furb (Universidade Regional de Blumenau) e jornalista do Sinsepes/Blumenau (Sindicato dos Servidores Públicos no Ensino Superior), Magali Moser, explicou que 40% da arrecadação do Sinsepes vai para a comunicação e custeia a produção do jornal mensal “Expressão Universitária” e o programa semanal “Cidadania em Debate”, veiculado na TV Furb. O jornal possui 16 páginas, é distribuído para a comunidade interna e externa e inclui reportagens, segundo ela, “o grande desafio”.

Para Magali, a autonomia para a construção da pauta jornalística faz toda diferença. Ela citou a abordagem de temas como a presença dos haitianos, sobre os contrastes de Blumenau, a inclusão de matérias relacionadas com os movimentos sociais, enfim uma pauta aberta com espaço, inclusive, para as críticas do leitor. “É preciso fazer o contraponto à mídia tradicional, pensar comunicação como estratégica na política sindical.”

 Seminário 2 a

Projeto político define o projeto de comunicação

O comunicador da Rádio Comunitária Campeche e ex-diretor do Sinergia (Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região), Glauco Marques, falou da experiência vivida em Florianópolis nas décadas de 80 e 90, “tempo em que a direção de muitos sindicatos foram assumidas por chapas de esquerda”. No Sinergia, a Direção elegeu a formação e a comunicação como prioridades, “no começo tentamos fazer uma experiência empírica mas o resultado foi muito ruim e surgiu a necessidade de contratar um profissional com experiência.”

Glauco afirmou que a maioria dos sindicatos tratava os jornalistas como assessores, os jornais tinham a coluna do presidente, assinada. “Nós definimos que a posição da diretoria ficaria restrita ao editorial, que entrariam matérias mais investigativas, partindo do pressuposto que tudo que acontece diz respeito ao trabalhador, tanto na esfera social quanto política, e criamos a coluna Tribuna Livre para o leitor se manifestar.” Para Glauco, a passagem do regime presidencialista para colegiado, democratizou e despersonalizou o Sindicato.

Ele lembrou que as reuniões semanais para definição de pauta, entre a Direção de Comunicação e os dois jornalistas que o Sindicato tinha, eram prazerosas. A relação trabalhista era de respeito aos direitos dos trabalhadores, porque a concepção política de sindicato possibilitava isso. Atualmente os sindicatos adotam a governança cooperativa, passam a ser parceiros das empresas, alguns até se negam a encaminhar ações judicias que podem causar prejuízos aos empregadores e contam com a participação de representantes dos trabalhadores nos conselhos de administração e nas fundações, relata Glauco. “Por isso alguns sindicalistas são confundidos com diretores da empresa, o projeto de imprensa retrocede e o jornalista volta a ser um assessor.”

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